Poster de Lex Drewinski
"Só a vingança lenta da poesia os resgatou e resgatará. 'Façam meu balanço a posteriori! – escreveu Maiakóvski em 'Conversa sobre poesia com o fiscal de rendas'– 'No meio dos atuais traficantes e finórios/ eu estarei – sozinho! – / devedor insolvente'.'O poeta é o eterno devedor do universo/ e paga em dor porcentagens de pena'.Ele foi, sem dúvida, o maior porta-voz, em poesia e vida, da relação conflitual entre poética e política, ética e tática, que consumiu todos esses notáveis artistas. Se – como quer Pound – os artistas são as antenas da raça, um país que massacra e despreza seus poetas sinaliza uma degenerescência grave no seu processo civilizatório. Hoje não há decretos nem perseguições. Mas a luta dos poetas continua, em todo o mundo, e outras gerações estão sendo dissipadas, num contexto massificador e imbecilizante, onde os meios de comunicação tendem a nivelar tudo por baixo e sufocar pelo descrédito e pelo silêncio as tentativas de fugir ao vulgar e ao codificado. Por isso é sempre útil rememorar os personagens dessa protótica tragédia cultural delineada por Jakobson."
Augusto de Campos (trecho de artigo).
À Vida
Não roubarás minha cor
Vermelha, de rio que estua.
Sou recusa: és caçador.
Persegues: eu sou a fuga.
Não dou minha alma cativa!
Colhido em pleno disparo,
Curva o pescoço o cavalo
Árabe –
E abre a veia da vida.
1924
Marina Tzvietáieva
Tradução de Haroldo de Campos
Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.
Pelas bordas – à margem –
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.
1934
Marina Tzvietáieva
Tradução de Augusto de Campos.
Onde:
Poesia russa moderna - Nova Antologia
Augusto de Campos, Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman
Ed. Brasiliense
http://www.politicalgraphics.org/20th%20Anniversary%20Portfolio.html
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