sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O direito de Chico e o direito de Francisco

...e que Chico Buarque nos resgate, e xeque-mate!


O direito de Chico deve ser o mesmo direito de Francisco


Eugênio Aragão


A vida tem dessas coisas. O pastor Silas Malafaia que tanto estrebuchava contra nós, os "esquerdopatas", contra nós, os inimigos da decência por criticarmos os abusos do complexo policial-judicial, foi conduzido coercitivamente sem antes ter sido regularmente intimado, em apenas mais uma das aberrações processuais em franco confronto com a norma posta. Vemo-nos, agora, na contingência de defender Silas Malafaia. Quem diria!

O clamor das ruas desconhece essas particularidades do direito penal. Infelizmente, sob sua perspectiva, ele é sempre bom para os inimigos e profundamente injusto para os amigos. Pois, para quem defende o estado democrático de direito, não pode haver dois pesos e duas medidas: um abuso contra Silas Malafaia vale tanto quanto um abuso contra Lula. Ambos, independentemente de suas orientações políticas, têm o mesmo direito à dignidade, de não serem expostos como troféus pela meganhagem persecutória e de expressarem com veemência seu protesto. Sem mais nem menos.

É vergonhoso que no Brasil de 2016, depois do aprendizado democrático intenso dos últimos treze anos, ainda tenhamos que ver pessoas embrutecidas baterem palmas para o arbítrio, seja de que lado for. Talvez, quem saiba, a lição do próprio padecimento traga alguma luz ao eloquente pastor e o faça ver que o direito de Chico deve ser o mesmo direito de Francisco.


Onde:

http://www.conversaafiada.com.br/brasil/aragao-e-os-direitos-do-malafaia

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Resistir, resistir e ainda resistir




RESISTIR, RESISTIR E AINDA RESISTIR


Bárbara Natália Lages Lobo


Em 2016, retrocederemos, pelo menos, 20 anos.
Voltamos à época do acirramento das desigualdades sociais, em vez de sua eliminação, de vermos a parcela mais torpe da nossa sociedade comer todas as fatias do bolo que crescia. Voltamos às desigualdades raciais. Retrocedemos em liberdades sexuais pela consolidação da cultura do estupro.
33 homens contra uma menina. 53 senadores contra a Constituição.
Assistimos à horda de homens brancos, velhos e ricos que ditam as regras contra a população impotente, iludida e conivente.
Sim. A população brasileira está dividida: impotência, ilusão e conivência. Encontre-se em um desses grupos. Encontre-se em sua consciência.
E não há lugar para correr, não há quem nos socorra. Onze pessoas ocupam a Suprema Corte do nosso País, agindo em prol de seus velhos interesses classistas. O Ministério Público não é público mais, protagonizando, espetacularizando o acinte ao bom senso e a destruição da República.
Milhares de estudantes ocupam as escolas. E assim se afiguram como Davi e Golias, quando o gigante resolveu despertar, oportunista, vingativo, revanchista.
São ilegítimos, são usurpadores esfarelando o que jaz do Estado Democrático.
Choram Marias, Clarices, Marianas, Tatis, Amarildos, Josés. E não resta a quem perguntar “E agora?”.
Invade-nos, como a lama podre do capital que inunda, destrói e mata, um mar de desesperança, que nos frustra e abate. Avançam o retrocesso, a canalhice, a intolerância.
O escárnio, a trapaça, o jogo sujo, os mesmos conchavos, propinas e jetons cantados por Herbert Vianna sobre os 300 picaretas com chapéu de doutor, sobre os quais “Luís Inácio falou, Luís Inácio avisou”.
A desesperança é leito violento que desemboca em turva foz. Deprime, desencanta, mata aquela que é a última a morrer. A desesperança é o ponto alto das crises, sejam elas de qualquer origem.
Quem já viveu a depressão como doença sabe que o seu ápice é a desesperança. É aquele ponto em você se entrega ou busca as forças escondidas e resiste, e luta, e vence.
Não estou falando da vitória como um fato consumado, como um sete a um. Estou falando da vitória que é não desistir.
Convido-os a seguir o segundo caminho. Armar-se de conhecimento e força. O futuro nos apresenta de forma nebulosa, mas é preciso resistir e construir. Cada um à sua maneira, com aquilo que pode, com aquilo que suporta.
Mas, a entrega, a desistência são finais tristes demais para quem sonha.
Eduardo Galeano nos falou que a utopia é como a linha do horizonte, quando se aproxima, ela se afasta, mas não podemos deixar de segui-la.
Encare a sua desesperança. Enfrente-a com seus sonhos, desejos, com a sua esperança.
Sejamos resilientes!
Bárbara Natália Lages Lobo é professora de Direito na PUC Minas, doutoranda em Direito Constitucional e escritora, autora do livro “O Direito à Igualdade na Constituição Brasileira”

Onde:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/resistir-resistir-e-ainda-resistir-por-barbara-lobo/

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Monstruosidades do planeta Lava Jato




Depois de buscar Mantega no hospital, que falta a Lava Jato fazer no rol das monstruosidades?


Paulo Nogueira


Que a Lava Jato é fundamentalmente injusta sabemos.

Que ele é um arma da plutocracia para destruir o PT e Lula sabemos.

Que ela faz uma parceria indecente com a mídia, sobretudo, a Globo, sabemos.

Que ela ajuda o Brasil a ser uma República das Bananas, sabemos.

Mas que ela é canalha, miseravelmente canalha, desumanamente canalha tivemos a prova nesta manhã de quinta no curso da Operação Arquivo X.

O nome, aliás, não poderia ser mais apropriado. Depois do power point que parecia feito por alienígenas sob o comando de Dallagnol, tinha mesmo que vir a Operação Arquivo X.

Prender Mantega no hospital, quando ele velava a mulher submetida a uma cirurgia, ultrapassa todos os limites da decência.

É coisa que a gente não consegue imaginar nem em ação policial nazista. Ou, para ficarmos no tema presente, nem nos tribunais alienígenas.

Descemos novos degraus no índice da civilização. Pense como a opinião pública britânica reagiria se tamanha brutalidade ocorresse lá. Todo o comando policial ligado a ela seria expelido devido à pressão da sociedade. Orwell cunhou a expressão “decência básica” para evitar tais monstruosidade.

Nem na Revolução dos Animais Orwell concebeu uma baixeza de tal magnitude.

Mantega é um homem lhano, acusado de coisas que só no Planeta Lava Jato são cabíveis. Um dia, espero que não tão longe, saberemos quantas mentiras estavam e estão associadas às acusações da Lava Jato.

Tão repulsiva quanto a ação em si para prendê-lo foi ver a reação de débeis mentais manipulados pela mídia plutocrata.

Aplausos dementes, palmas ensandecidas: nem um miserável sinal de humanidade.

Eis no que a plutocracia nos transformou: num país selvagem, desprezível, oprimido por um grupo de poderosos que trata os brasileiros como gado.


Onde:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/depois-de-buscar-mantega-no-hospital-que-falta-a-lava-jato-fazer-no-rol-das-monstruosidades-por-paulo-nogueira/


terça-feira, 20 de setembro de 2016

Mais um, menos 5.170 ou mais




MAIS UM, MENOS 5.170 OU MAIS


Danielle Magalhães


em berlim eu passava

grande parte do tempo olhando o céu

muito azul bem no final do inverno

fazia muito frio e eu achava engraçado

porque parecia que o céu contradizia

a temperatura

como pode tudo ficar tão

bonito com uma temperatura tão baixa

em berlim eu fiquei no lado oriental

mas um dia fui ao lado

ocidental em uma rua 

onde havia muitas mulheres sírias

pedindo alguma coisa para qualquer um

que passava

eu sentei em um banco de uma praça

e uma das mulheres percebeu talvez

ela não é alemã e veio

falar comigo em inglês

perguntando se eu sabia falar

inglês? eu disse mais ou menos

o que na verdade

foi resposta nenhuma

então ela pegou um papelzinho e começou a ler

a mesma pergunta

em várias línguas

que eu nem sabia 

que existiam

sempre a mesma

pergunta e eu fiquei sem reação não consegui

parar de olhar para

o papelzinho com a mesma pergunta até

em português ela lia

uma por

uma atrás da outra

sem interrupção até

que ela terminou de ler ela

levantou os olhos para minha cara e antes de

se virar e procurar outro

qualquer alguém ela

me olhou por um segundo e meio

frustrada meio irritada

como quem não aguenta mais

repetir sempre a mesma coisa

em línguas diferentes para 

todo mundo the whole world

que parece falar língua nenhuma

sem entender palavra

de nenhuma língua sequer

nem da sua que parece nunca ter sido

sua

ela

fala para ninguém

ela fala

para ninguém

como eu sem expressão como alguém

que não estava entendendo

como se eu não falasse

mas é ela que fala

todas as línguas

vêm dela todas 

as línguas são todas

elas concentradas em uma pergunta

que se repete

em ouvidos outros

em rostos sem

rostos

sempre sem resposta

o céu muito azul

estava no rio

anteontem antes de

ontem e antes e antes

no mesmo momento na mesma hora

os imigrantes sírios estão morrendo

entre a ásia e a europa

os imigrantes entre

a áfrica e a europa imigrantes

entre a américa e 

a américa e o mundo

parece que fica todo tão

bonito e a vida parece

que faz tanto sentido

quando o céu muito azul do início

da primavera

cai sobre o rio

um dia antes da foto do menino sírio

morto se espalhar pelo mundo

que desde um dia antes

e antes

parece que sempre foi ontem e nunca

hoje

e sempre esse céu

sobre berlim ou aqui aqui

ou lá

paira na atmosfera do universo

contradizendo a temperatura

do mundo

e deixando sempre a mesma pergunta

sem resposta

em todas as línguas


Rio de Janeiro, 3 de setembro de 2015.



Onde:













Quando o céu cair # Danielle Magalhães

Ed. Megamíni

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Convicção sem provas e provas sem convicção: que perigo para a Democracia!







Quando até o Reinaldo Azevedo admite que a denúncia apresentada pelo procurador Deltan Dallagnol "constrange os meios jurídicos", provoca "desalento no staff do Procurador-Geral da República" e "comete erro primário, fruto do açodamento e do estrelismo" é porque o espetáculo foi tíbio e desastroso.

Justiça não é justiçamento. Investigação não é perseguição. O Ministério Público existe para servir à sociedade e ao Estado Democrático e não para coagir os cidadãos. Sem controle social e obediência à lei e à Constituição, juízes, procuradores e policiais federais transformarão o Estado brasileiro em um grande Leviatã, estado totalitário regido pela burocracia ideologizada e sem isenção.



DENUNCIA INEPTA DA LAVA JATO EXPÕE O MINISTÉRIO PÚBLICO


Luis Nassif

O rebaixamento do Brasil para a segunda divisão das democracias ocidentais teve três momentos significativos: a votação da admissibilidade na Câmara, com aquela malta aos berros invocando o nome do pai e da mãe; a performance de Janaina Paschoal no comício do Largo São Francisco; e o jovem procurador gaguejante, armado de um Power Point capenga, conduzindo um discurso tatibitate naquele que deveria ser o grande desfecho da mais massacrante campanha já movida contra uma pessoa no país.

Foi como se todo o edifício de marketing erigido em torno da Lava Jato desmoronasse de uma vez.

Até agora era ensaio e jogo para a plateia. O jogo de verdade começou ontem. E, ali, não houve marketing que resolvesse.

O dia começou com as críticas à parcialidade do Procurador Geral da República (PGR) Rodrigo Janot, culminando com uma Carta Aberta de seu ex-melhor amigo, procurador Eugênio Aragão. E terminou com um palco iluminado, com os olhos do país sobre a Lava Jato, para que procuradores provincianos, armados com todos os recursos do marketing – prejudicado por um Power Point sofrível – se exibissem para a torcida durante 90 minutos, sem marcar um gol sequer.

O único chute, aliás, foi gol contra: a afirmação do procurador de que “não temos prova, mas temos convicção”. Que mereceu uma blague matadora: uma foto do helicóptero com os 400 quilos de cocaína e a frase “nós temos provas, mas não temos convicção”.

Depois de meses com o país aguardando em suspense o grande dia da apresentação da denúncia, a peça acusadora assemelha-se a um livro de ensino básico montado com a assessoria do Google. Descrevem os escândalos da Petrobras, o mensalão, o presidencialismo de coalizão, a história de José Dirceu no PT, em um “enrolation” sem par. E terminam com um duplo abuso.

O primeiro, de não terem apresentado uma prova sequer contra Lula. O segundo de, mesmo assim, terem alimentado os jornais de manchetes falsas por meses e meses, e, agora, oferecerem a denúncia, com uma peça que expõe o Ministério Público Federal à galhofa.

Com um texto paradidático para ensino fundamental, explicam o que é o presidencialismo de coalizão.

“Dentro do “presidencialismo de coalizão”, a formação da base aliada do Governo envolve três momentos típicos. Primeiro, a constituição da aliança eleitoral, que requer negociação em torno de diretivas programáticas mínimas, a serem observadas após a eventual vitória eleitoral. Segundo, a constituição do governo, no qual predomina a distribuição de cargos e compromissos relativos a um programa mínimo de governo. Finalmente, a transformação da aliança em coalizão efetivamente governante, momento em que emerge o problema da formulação da agenda real de políticas e das condições de sua implementação. Numa estrutura multipartidária, o sucesso das negociações, na direção de um acordo explícito entre o Poder Executivo e os integrantes do Poder Legislativo, que aprova as leis que concretizam o plano de governo, é decisivo para capacitar o sistema político a atender demandas políticas, sociais e econômicas”.

Fantástico! Entenderam o que o presidencialismo de coalizão!

Mas o de Lula é diferente.

“No entanto, de forma contrária, em vez de buscar apoio político por intermédio do alinhamento ideológico, LULA comandou a formação de um esquema criminoso de desvio de recursos públicos destinados a comprar apoio parlamentar de outros políticos e partidos, enriquecer ilicitamente os envolvidos e financiar caras campanhas eleitorais do PT em prol de uma permanência no poder assentada em recursos públicos desviados”.

Antes do Lula os partidos queriam cargos para fazer o bem comum, procurar o bem e a caridade e pagar dízimo para a Igreja.

Mais: descobriram novidades fantásticas! Que além de construir a governabilidade, Lula “objetivou também a perpetuação no poder do próprio partido”. Alvíssaras! No seu curso de Ciências Políticas por correspondência, os doutos procuradores de Curitiba descobriram que os partidos políticos lutam para se perpetuar no poder.

Em um trecho, desenvolvem a tese da caixa única centralizada, como se fosse peça central para fechar o raciocínio em torno da tal organização criminosa. “Considerando que o dinheiro é um bem fungível, e tendo em vista que os recursos ilícitos de cada uma das empreiteiras revertia para o mesmo caixa geral de cada partido, os valores desviados de diferentes fontes nesse caixa se misturavam”, uma maneira douta e erudita de dizer que os partidos recebiam propinas de diversas frentes.

Na falta de provas, recheiam a acusação com uma salada monumental, misturando acusações diversas, de escândalos e sub-escândalos já levantados, das mutretagens da André Barbosa com agências de publicidade, à Eletronorte, para atribuir tudo a Lula.

O leitor esperando as provas, e nada. Em cada capítulo repetem a história do apartamento tríplex – sem apresentar um dado sequer de que é ou era de Lula; e a guarda dos documentos presidenciais, bancada pela OAS.

É para isso que se quer as Dez Medidas. Para conferir um poder avassalador para procuradores sem discernimento, que sabem apenas jogar para a mídia.

Com esse espetáculo burlesco, os procuradores da Lava Jato facilitaram o trabalho dos que pretendem esvaziar sua atuação. Fizeram o mesmo que seus colegas portugueses com o ex-primeiro-ministro José Sócrates: montaram uma campanha sem provas para destruir a imagem política. Entregue o trabalho sujo, chegou a hora do Alto Comando enquadrá-los. E, nada melhor, do que a apresentação canhestra de procuradores imberbes e deslumbrados para facilitar o desmonte.


Onde:

http://jornalggn.com.br/noticia/denuncia-inepta-da-lava-jato-expoe-o-ministerio-publico

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Alckmin e Temer: por que mandam bombardear 100 mil pessoas pacíficas?





Alckmin e Temer: por que mandam bombardear 100 mil pessoas pacíficas?

Zé Augusto

Houvesse um jornalismo honesto, essa seria a manchete dos jornais de hoje para contar a verdade do que ocorreu no protesto "Fora Temer, Diretas Já" em São Paulo.

Foi uma grande manifestação com cerca de 100 mil pessoas, totalmente pacífica, do início ao fim. Já terminada, já esvaziada, quando o povo ia para casa, do nada um grupo da PM começou a atacar quem ainda estava na fila do metrô aguardando ordeiramente para entrar na estação e ir para casa.

Convenhamos, Alckmin em sintonia com as diretrizes de Temer, inovou. Ambos criaram o esquadrão Black Bloc informal da PM. O destacamento que vai às manifestações para garantir cenas de confronto para as TVs e jornais.

Vamos imaginar uma estorinha a partir de alguns fatos reais irrefutáveis.

Um presidente golpista e impopular quer esvaziar manifestações populares contra ele. Diz que "são 40 pessoas que vão quebrar carros". As TVs e jornalões, aliados do golpe, tratam de propagandear essa versão, não de 40 pessoas para não pegar mal, afinal a imprensa estrangeira hoje é acessível aos brasileiros pela internet, mas batendo na tecla do vandalismo para espantar a grande maioria dos manifestantes pacíficos.

No dia seguinte à declaração do presidente do golpe, 100 mil pessoas vão às ruas pacificamente. Os movimentos sociais organizados dissuadem os pouquíssimos jovens radicais mascarados a tirarem máscaras e não quebrarem nada, pois seria fazer o jogo dos repressores.

A manifestação, além de protestar, desperta consciências do povo que perde direitos com o golpe para reinvindicá-los de volta: mais saúde, mais educação, mais moradia, mais emprego, melhores salários e aposentadorias, mais justiça social, mais participação popular e menos corrupção, menos arrocho, menos opressão e menos repressão.

A manifestação é um sucesso, pacífica do começo ao fim. Agora entra a ficção mas é aquela ficção que parece tão real quanto a realidade. Um telefonema é trocado entre um figurão do governo e um editor de TV. "Vândalos! Cadê os vândalos?", diz um. "Sem cenas de vandalismo, amanhã as manifestações vão ser maior. A adesão popular crescerá". O editor diz: "a gente até já preparou todo o texto falando em vandalismo, cadê os vândalos?". "Vou dar um jeito nisso", diz o figurão. Telefonemas prá cá e para lá entre telefones da secretária de segurança, de Brasília e até da China. Sabe-se lá qual a cadeia exata de comando, mas uma ordem de cima chega ao pelotão de choque: "dispersem". Um comandante do esquadrão ainda pergunta sem entender: dispersar a tropa? Podemos ir para casa? A manifestação acabou pacífica, os que ainda estão na rua estão na fila do metrô e nos pontos de ônibus esperando sua vez para ir para casa. Um ou outro grupinho de jovens estão parados apenas conversando sem nenhuma desordem... A resposta é: "Não! Dispersem com bomba de gás lacrimogênio quem ver pela frente. Algum 'vândalo' disse que iria pular a catraca do metrô".

Agora sem nenhuma ficção, até os jornalões ficaram com vergonha de publicar a versão chapa branca dos golpistas e se limitaram a reduzir danos para Temer. A "Folha de São Paulo" tentou confundir e tocar terror: "Ato pacífico contra Temer termina com bombas em São Paulo", sem conseguir acusar os manifestantes e dando um tiro no pé ao desestabilizar Temer até internacionalmente. O "Estadão" trocou o "vandalismo" por "houve tumulto e correria" sem explicar que provocada pela PM. Só "O Globo" foi o mais disciplinado chapa-branca, repetindo a versão oficial governista de Alckmin e Temer de que "o fim do protesto voltou a ter vandalismo de pequenos grupos", sem explicar que o tal pequeno grupo era uma tropa, cujo comando final é do governador em sintonia com as diretrizes de Temer.

Moral da história:

1) A resistência pacífica com o maior número de pessoas possível é o ponto fraco dos golpistas e é a mais poderosa arma de exercício de poder do povo contra o golpe opressor.

2) Provocar soldados da PM é perda de foco, ao lutar contra efeitos sem combater as causas. O protesto é contra quem comanda eles. É mais produtivo não aceitar provocações e conseguirmos passar as mensagens de luta contra o governo golpista porque queremos que governos comprometidos com a educação, saúde, geração de empregos, moradias, previdência social, segurança e com a vontade popular sendo respeitada nas ações de governo. Todas as famílias brasileiras de trabalhadores, inclusive de policiais, sofrem as consequências quando esses direitos são golpeados por um governo golpista.

3) Não podemos recuar e precisamos ser mais um em cada manifestação. Quanto mais gente pacífica, mais segura é a manifestação, pois os políticos figurões que mandam as polícias bater no povo, recuam quando vê que tem muita gente.



Onde:

http://osamigosdopresidentelula.blogspot.com.br/2016/09/alckmin-e-temer-por-que-mandam.html?m=1

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Desinterino e sem legitimidade

Desinterino, o que se borra de medo do povo
Charge de Mariano



Os novos Joaquins Silvérios dos Reis:
61 canalhas X 54.501.118 votos


Charge de Pelicano





Onde:

http://www.chargeonline.com.br


quarta-feira, 31 de agosto de 2016

É golpe! Canalhas! Canalhas! Canalhas!

Esplanada dos Ministérios, manhã do golpe parlamentar de 31/08/2016: autor desconhecido





En la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
noches

poemas

Paulo Leminski



Onde:


Toda Poesia # Paulo Leminski

Companhia das Letras

terça-feira, 30 de agosto de 2016

O vírus da safadeza

Charge de Renato Aroeira


IMPEDIR O GOLPE É UMA QUESTÃO DE CARÁTER

Paulo Moreira Leite

Em três meses fora do Planalto, Dilma Rousseff consumou uma vitória essencial para o futuro de nossa democracia, ao ganhar o debate político sobre a natureza de seu afastamento. Numa virada respeitável, a situação pode ser resumida assim: para além do círculo de políticos, empresários, meios de comunicação e jornalistas diretamente interessados numa derrota histórica do projeto político construído em torno de Luiz Inácio Lula da Silva, pode-se dizer que não há quem não esteja convencido, dentro e fora do país, de que sua saída da presidência representa um golpe de Estado, inaceitável pela própria natureza.

Iniciado na última quinta-feira, o confronto entre testemunhas de acusação e defesa completou com vários detalhes técnicos o desmonte das principais teses dos adversários construídas para justificar o afastamento. Para completar, a presença de Dilma no Senado, na segunda-feira, 29 de agosto, marcou um momento de histórico. A presidente fez uma apresentação soberba. Dispondo de uma tribuna pública que jamais lhe foi oferecida para apresentar seu ponto de vista, teve clareza e competência para demonstrar seus pontos de vista e derrubar, uma a uma, as alegações de seus adversários, desde o início empenhados em encerrar aquela jornada delicada para seus propósitos no prazo mais rápido possível.

Mas hoje, quando o debate sobre o destino de Dilma ingressa na fase de deliberação final, as condições de temperatura e pressão no Senado estão longe de refletir aquilo que se pode ver e ouvir pelo país inteiro, nos últimos dias.

As chances de a presidente vir a ser afastada definitivamente seguem mais do que enormes. Isso ocorre apesar da clareza da argumentação contrária, da solidez dos dados apresentados, da desmoralização contínua do governo interino, incapaz de disfarçar o caráter regressivo de um projeto que jamais seria vitorioso caso fosse submetido a debate numa campanha eleitoral. Não é difícil explicar essa diferença entre o que se sabe e o que pode acontecer em breve, talvez nas próximas horas.

Iniciado na AP 470, em 2005, o massacre brutal do Partido dos Trabalhadores e seus aliados, que inclui a perseguição permanente a Lula e longas prisões de lideranças políticas e empresários vinculados ao esforço de construir uma economia voltada para o mercado interno, são a dificuldade real para a reversão de uma situação desfavorável. A derrota é anterior, extraparlamentar, num processo permanente e avassalador que atinge de frente aquele que é de longe o mais importante movimento político orgânico nascido no final da ditadura de 64, mas que agora se encontra sem músculos, sem voz e dividido, como se confirmou pela fraquíssima presença popular nos últimos protestos o afastamento da presidente.

A democracia brasileira, duramente construída na resistência ao regime militar, já foi derrotada, fora do Senado. A saída de Dilma pretende, apenas, dar aparência legal a uma situação de fato. Daí o pânico com a palavra golpe.

Neste mundo que se encontra além da política e sua lógica, além do Supremo Tribunal Federal e seus sorrisos amarelos, a resistência final a um golpe de notório, já escancarado, tornou-se uma questão de caráter.

É isso o que acontece em situações extremas e desiguais, muito difícil de enfrentar num absurdo universo fechado de personagens que só ouvem a si mesmos, em horas nas quais se usam as regras da democracia para destruir a própria democracia e se pronunciam argumentos morais para acobertar um infinito cinismo.

Quando as instituições falham, resta o caráter, ensinou o professor Wanderley Guilherme dos Santos, numa de suas aulas únicas sobre as diversas crises brasileiras. Em dezembro de 2015, data em que Michel Temer deu o braço, em público, para aliar-se a Eduardo Cunha e articular o impeachment que deveria salvar a pele de tantos, Wanderley escreveu:

“Quando as instituições falham, o caráter prevalece. Há quem nunca fraudou a lei por falta de oportunidade e há os que resistiram apesar dos convites das circunstâncias. Em crise, o caráter de cada um é desnudado. De vários políticos já conhecemos o material de que são feitos, uns de primeira, outros de segunda qualidade. Não há coletividade humana que escape ao vírus da safadeza. A esperança é que não se propague.”

Richard Sennet, um dos mais agudos estudiosos das sociedades contemporâneas, registrou numa obra seminal, “A Corrosão do Caráter” que vivemos um tempo de “capitalismo flexível”. Com isso o mestre se refere a um “ sistema que é muito mais do que uma variação sobre um velho tema. Enfatiza-se a flexibilidade. Atacam-se as formas rígidas burocracia e também os males da rotina cega. “ Neste novo momento da evolução humana, distante do sistema em que a maioria possuía a proteção de leis trabalhistas e de um estado de bem-estar, pede-se agilidade e abertura “a mudanças de curto prazo,” continuamente favoráveis a riscos que dependem “cada vez menos de leis e procedimentos formais.”

Escritas já no prefácio da obra, estas palavras são um ponto de partida para se compreender o processo que pode levar nossa democracia ao despenhadeiro. Antes da flexibilização da exploração dos assalariados, dos programas que defendem o miserável e mesmo dão alguma garantia a classe média, é preciso flexibilizar a democracia. 

O objeto do estudo de Sennet, vale assinalar, são os trabalhadores precarizados pelo Estado mínimo, incapazes de assumir compromissos duradouros para organizar suas famílias, defender suas famílias e suas comunidades em função de um sistema de laços frouxos, que não oferece um horizonte de longo prazo e dificulta a escolha de “caminhos a seguir,” pois é impossível saber quais riscos “serão compensados.”

Nos últimos dias de agosto de 2016, uma guerra política que terá consequências de primeira grandeza sobre o Brasil e várias gerações de brasileiros e brasileiras, mudou de natureza.

Os fatos agora estão aí, a frente de todos, desde a conspiração no TCU até a arquitetura de Eduardo Cunha na Câmara. O essencial: Dilma não poder ser condenada porque é inteiramente inocente das acusações que lhe foram feitas. Ao contrário do que diz a tese de irresponsabilidade fiscal, mostrou-se excessivamente responsável ao lidar com as contas do governo, lembrou Luiz Gonzaga Belluzzo. Não pode ser condenada por uma lei que não existia no momento em que os fatos ocorreram, repetiu José Eduardo Cardozo. Não pode ser vítima de regras que se aplicam em regimes parlamentaristas num país onde vigora o presidencialismo, sublinhou o constitucionalista Geraldo Prado. Nelson Barbosa calou os interlocutores com respostas claras e definitivas sobre assuntos variados. A lista poderia ser maior.

Elaborada como uma resposta necessária à consciência democrática dos brasileiros, que há muito tempo não aceitam qualquer mentira que lhe apresentam, aquilo que era um pretexto revela-se uma farsa. Deveria ser cancelada com um pedido de desculpas. Mas isso dificilmente irá ocorrer, por uma razão muito simples.

Pessoas de caráter são aquelas que defendem princípios mesmo quando eles não convêm a seus próprios interesses. Não se contentam em brindar a democracia em coquetéis. Não saúdam a liberdade para impressionar jovens mocinhas. Não têm como primeiro mandamento ético ficar de bem com donos de jornal e com jornalistas.

São personagens como o empresário Rubens Paiva, o usineiro Teotonio Vilella, a quatrocentona Terezinha Zerbini, o arcebisco Paulo Evaristo Arns. Bustos de bronze na memória de 200 milhões de brasileiros.

Os demais, cedo ou tarde, imploram para serem esquecidos.


Onde:

http://www.brasil247.com/pt/blog/paulomoreiraleite/252386/Impedir-o-golpe-%C3%A9-uma-quest%C3%A3o-de-c%C3%A1rater.htm