terça-feira, 30 de junho de 2015

Aceitar os fatos





A lição de Epicteto: aceitar os fatos é um passo essencial para a serenidade

Paulo Nogueira

Epicteto, nascido escravo e só liberto depois de adulto, foi uma das vozes mais influentes da filosofia da Antiguidade. Ele viveu nos primórdios da Era Cristã, de 40 a 125. Não escreveu um único livro. Seu pensamento é conhecido graças a um discípulo, o historiador Arriamo. Ele teve o cuidado de anotar as ideias de seu mestre, uma ação pela qual a humanidade lhe será eternamente grata, e depois transformá-las em dois livros, Entretenimentos e Manual. Seu tamanho intelectual é tal que o imperador-filósofo Marco Aurélio, o último grande comandante do Império Romano, escreveu que um dos acontecimentos capitais de sua vida foi ter tido acesso às obras de Epicteto.
Para ele, o passo básico da vida feliz é aceitar as coisas como elas são. Revoltar-se contra os fatos não altera os fatos, e ainda traz uma dose de tormento desnecessária. “Não se deve pedir que os acontecimentos ocorram como você quer, mas deve-se querê-los como ocorrem: assim sua vida será feliz”, disse Epicteto. (Séculos depois, o pensador francês Descartes escreveu uma frase que é como um tributo à escola de Epicteto: “É mais fácil mudar seus desejos do que mudar a ordem do mundo”.) Não adianta se agastar contra as circunstâncias: elas não se importam. Isso se vê nas pequenas coisas da vida. Você está no meio de um congestionamento? Exasperar-se não vai dissolver os carros à sua frente. Relaxe, respire fundo. Caiu uma chuva na hora em que você ia jogar tênis com seu amigo? Amaldiçoar as nuvens não vai secar o piso. Que tal uma sessão de cinema em vez do tênis?
Outro ensinamento seu lembrado até hoje em livros de administração é que só devemos nos ocupar efetivamente daquilo que está sob nosso controle. Você cruza uma manhã com seu chefe no elevador e ele é efusivo. Você ganha o dia. Você o encontra de novo e ele é frio. Você fica arrasado. Daquela vez ele estava bem-humorado, daí o cumprimento caloroso, agora não. Ora, o estado de espírito de seu chefe não está sob seu controle. Você não deve nem se entusiasmar com tapas amáveis que ele dê em suas costas e nem se deprimir com um gesto de frieza. Você, em suma, não pode entregar aos outros o comando de seu estado de espírito.
“Não é aquele que lhe diz injúrias quem ultraja você, mas sim a opinião que você tem dele”, disse Epicteto. Se você ignora quem o insulta, você lhe tira o poder de chateá-lo, seja no trânsito, na arquibancada de um estádio de futebol ou numa reunião corporativa. Não são exatamente os fatos que moldam nosso estado de espírito, pregou Epicteto, mas sim a maneira como os encaramos. Um dos desafios perenes da humanidade, e as palavras de Epicteto são uma lembrança eterna disso, é evitar que nossa opinião sobre as coisas seja tão ruim como costuma ser. A mente humana parece sempre optar pela infelicidade. E foi contra isso, e não os grilhões, que o escravo genial se rebelou, para sorte de todos nós.



Onde:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/aceitar-os-fatos-e-um-passo-essencial-para-a-felicidade/

http://kdfrases.com/frase/100082

domingo, 28 de junho de 2015

"A" questão

Criação de Adão (detalhe) - Michelangelo Buonarroti




A questão de todas as questões para a humanidade, o problema que se acha por trás de todos outros e é mais interessante do que qualquer um deles, é o da determinação do lugar do homem na natureza e a sua relação com o cosmo. De onde veio nossa raça, que espécie de limites existem no tocante a nosso poder sobre a natureza e ao poder da natureza sobre nós, em que direção nos encaminhamos - tais são os problemas que se apresentam renovados, sem jamais perder o interesse, a todo ser humano sobre a face da Terra.


T. H. Huxley 


Onde:


Os dragões do Éden # Carl Sagan
Ed. Unb

Os Dragões do Éden - Carl Sagan - Editora UnB

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Esperança

Cafu (poema) - Daniel Galvão ( postal)


Onde:

http://www.vivapoesia.com/p/cometalinguagem.html

Alerta

Stop the war # Judith Lauand



alerta

Lá vem o lança-chamas
Pega a garrafa de gasolina
Atira
Eles querem matar todo amor
Corromper o polo
Estancar a sede que eu tenho doutro ser
Vem de flanco, de lado
Por cima, por trás
Atira
Atira
Resiste
Defende
De pé
De pé
De pé
O futuro será de toda a humanidade

Oswald de Andrade 




Onde:

Poesias Reunidas - Oswald de Andrade
Ed. Civilização Brasileira & MEC

http://mam.org.br/acervo/207-lauand-judith/

terça-feira, 23 de junho de 2015

domingo, 21 de junho de 2015

Som e fúria




Amanhã amanhã amanhã amanhã
Rasteja em passo parco dia a dia
Até a última sílaba do Tempo.
E os ontens, todos, só nos alumiam
O fim no pó. Apaga, apaga, vela
Breve!
A vida é só uma sombra móvel.
Pobre ator
Que freme e treme o seu papel no palco
E logo sai de cena. Um conto tonto
Dito por um idiota - som e fúria, signi-
Ficando nada.

William Shakespeare - fragmento do
 Macbeth - traduzido por Augusto de Campos       



Onde:


ABC da Literatura - Ezra Pound 
Ed. Cultrix

Voa a vida


Wine of Babylon # Jean-Michel Basquiat



Do Rubayat de Omar Khayyam

IX

Em Naishapur ou Babilônia, alguma
Taça, ou amarga ou doce, sempre espuma,
Verte o Vinho da Vida, gota a gota,
Vão-se as Folhas da vida, uma a uma.

XXV

Ah, vem, vivamos mais que a Vida, vem,
Antes que em pó nos deponham também,
Pó sobre pó, e sob o pó, pousados,
Sem Cor, sem Sol, sem Som, sem Sonho – sem .


LXV

Inferno ou Céu, do beco sem saída
Uma só coisa é certa: voa a Vida,
E, sem a Vida, tudo o mais é Nada.
A Flor que for logo se vai, flor ida.

Edward Fitzgerald # Augusto de Campos


Onde:


ABC da Literatura # Ezra Pound
Ed. Cultrix


http://www.wikiart.org/en/jean-michel-basquiat/wine-of-babylon

sábado, 20 de junho de 2015

Torto nem sempre é errado

Mané Garrincha # Foto: autor desconhecido


nem tudo
que é torto
é errado

veja as pernas
do garrincha
a as árvores
do cerrado

Nicolas Behr



Onde:


Poesília - Poesia pau-brasília - LGE Editora

sexta-feira, 19 de junho de 2015

O olor do mistério

Flower garden # Gustav Klimt



Vejo vermelhos, verdes, blaus, brancos, cobaltos
Vergéis, plainos, planaltos, montes, vales;
A voz dos passarinhos voa e soa
Em doces notas, manhã, tarde, noite.
Então todo o meu ser quer que eu colora o canto
De uma flor cujo fruto é só de amor,
O grão só de alegria e o olor de noigandres*.


*O grão só de alegria e o olor livre de tédio.


Arnaut Daniel traduzido por Augusto de Campos




Onde:

Verso Reverso Controverso - Augusto de Campos - Editora Perspectiva

http://www.wikiart.org/en/gustav-klimt/flower-garden-1907

quinta-feira, 18 de junho de 2015

O ocaso da família

Mafalda # Quino





O OCASO DA FAMÍLIA

Jurandir Freire Costa

Christopher Lasch é um historiador americano, autor de A Cultura do Narcisismo e de O Mínimo Eu, ambos já editados no Brasil. Refúgio Num Mundo Sem Coração, que data de 1977, é anterior a esses dois livros. Nele o autor analisa o declínio da autoridade familiar, tema que será retomado nos estudos posteriores. Para Lasch, vivemos na era de decadência da autoridade e dos ideais. A degradação da autoridade familiar é, ao mesmo tempo, efeito e instrumento deste ethos. A racionalização e a burocratização da sociedade, no capitalismo moderno, procuram continuamente converter os indivíduos em consumidores e, para tanto, promoveram a “socialização da reprodução” ou “proletarização da paternidade”. Isto é, assim como no capitalismo dos primórdios os produtores foram expropriados do saber sobre a fabricação dos produtos, os pais de hoje estão sendo expropriados da competência para educar os filhos, em favor do saber dos técnicos em relações humanas e saúde mental
Mas, pode-se perguntar, por que a família? Porque, responde Lash, a família é um dos últimos guardiões do passado. Na socialização tradicional, cujo centro era a família, a educação da infância centrava-se no respeito à autoridade paterna e aos ideais do bem comum. As crianças desde cedo aprendiam a desejar tudo aquilo que o adulto deveria cultivar como virtudes, ou seja, compromisso com o trabalho, austeridade nos costumes, preocupação com as futuras gerações e sentido de obediência às leis válidas para todos.
Diante da dureza e da frieza do mundo do trabalho e do capital, a família servia de abrigo para o mundo dos valores, de refúgio num mundo sem compaixão. Em seu interior, tradição e autoridade impunham-se por si mesmas, embora à custa dos inevitáveis conflitos e culpas vindos da relação do indivíduo com o superego paterno, representante destes ideais. Ora esta família e este indivíduo tornaram-se obsoletos diante da moral do consumo, alavanca do capitalismo atual. Por isso, a família começou a ser acusada de produzir adultos neuróticos, que assim se tornavam porque foram, na infância, educados não pelo que eram mas conforme o que deveriam ser.
Acontece, diz Lasch, que este pretenso respeito à espontaneidade infantil nada mais é que a inculcação dos hábitos que formam o perfil psicológico do futuro consumidor. A criança, na sociedade permissiva, aprende a ver toda autoridade, toda tradição e toda renúncia à satisfação imediata dos desejos como sinal de autoritarismo e repressão. Resultado: em vez de personalidades neuróticas, criam-se personalidades narcísicas; em vez de conflitos e culpas frente à autoridade, ansiedade e insatisfação crônicas, motores da voracidade consumista. Esta é a lei do mercado, posta no lugar da lei de Deus ou da lei da Pólis. Hipnotizada pelo consumo, a “massa” de sujeitos só se deixa mobilizar pelo que reverte de imediato em bem-estar físico, mental ou sexual, fazendo da “sensibilidade terapêutica” substituto da sensibilidade.
Criticando a cultura terapêutica e consumista, Lash leva de roldão toda a chamada contracultura americana dos anos 60-70, incluindo aí o movimento feminista, o movimento gay, o culto à droga, os modos de vida alternativos etc. A seu ver, todos tinham em comum o mesmo ataque ideológico à família, o mesmo desprezo pela esfera pública e a mesma apatia silenciosa diante das grandes questões cívicas, como a luta contra as desigualdades econômicas e as injustiças sociais.
As teses de Lasch, quando publicadas nos Estados Unidos, causaram um grande frisson. A direita aplaudiu seu apelo à ordem, mas não sabia o que o “inocente” mercado tinha a ver com tudo aquilo; a esquerda tachou-o de marxista tipo “capa-preta”, moralista e conservador. À distância, de fato, vê-se que Lasch tropeça aqui e ali, pela pressa em generalizar fatos sociais circunscritos e pela desenvoltura com que combinou história com psicanálise. Entre nós, por exemplo, Otávio de Souza mostrou como a idéia da cultura narcísica, em Lash, enfraquece e dilui a noção de narcisismo em Freud.
Mas essas pequenas e médias transgressões teóricas, que aliás fazem parte do “gênero intelectual” na tradição americana, não lhe retiram o mérito de ter trazido à tona a importantíssima questão da crise de autoridade e do descrédito dos ideais no Ocidente.
Ao que entendo, a fragilidade de Lasch não está no fato de recorrer à autoridade e à tradição para denunciar a falácia da liberdade narcísica de consumir; está em achar que pode fundar decisões ou preferências éticas com base em critérios racionais, universais e apriorísticos. Explico melhor. Lash quando critica a cultura narcísica da sobrevivência, apóia-se, sem dúvida alguma, na tradição democrática e individualista que é a sua. Mas, ou por medo de ser visto como muito liberal e pouco socialista; ou para não ser olhado com desdém pela academia, ou, enfim, por não poder aceitar totalmente a contingência histórica dos ideais morais, como Freud, “esquece” a fonte de seus princípios e fala da história como se estivesse fora dela. Aluga o inconsciente freudiano e a versão que dá da luta de classes marxista para, de lá, dizer o que não ia bem no passado e o que vai mal no presente.
Não dá outra. Na hora de propor o que deve ser, Lasch emudece ou vê-se obrigado a dizer, nas entrelinhas, algo mais ou menos assim: no mundo de Elia Kazan as coisas eram ruins, mas no de David Lynch são muito piores; o jeito então é voltar ao calvinismo de Vidas Amargas e Clamor do Sexo. O caso da auto-realização mostra bem este equivoco.
Lasch vê na idéia de auto-realização mais um sintoma da obsessão narcísica pelo próprio umbigo. Mas, pergunto, em que e por que a preocupação com o bem-estar físico ou mental faria Marx perder o sono ou Freud reescrever sua teoria dos sonhos? Por que querer viver melhor, seja lutando contra o preconceito sexual seja praticando ioga, psicanálise, alimentação natural ou meditação zen significa ipso facto ajudar a demolir a autoridade paterna ou ficar surdo diante das injustiças sociais?
Lasch joga a água suja com o bebê dentro. Uma coisa, diria, é a lei do mercado que, por exemplo, faz-nos engolir docemente a idéia de que direito do comprador é sinônimo de Código do Consumidor, como se o ato de comprar resumisse a “essência” do indivíduo; outra coisa é desqualificar os esforços feitos pelos indivíduos para viverem melhor, em nome de uma abstração subjetiva conceitual que ninguém sabe e ninguém viu. Se, em vez de falar do Olimpo, Lasch dissesse que, em nome da tradição democrática ocidental que é a sua e de milhões de outros sujeitos, é moralmente odioso querer reduzir família ao conjunto de bípedes aparvalhados que assistem juntos à televisão; adulto a zumbi de shopping centers; pai a suplente de caixa registradora; mãe a “orelhão” para desaforo e grosseria de adolescente; criança a cabide de artigos de moda etc, e tudo isso para multiplicar lucros, pois bem, assumindo explicitamente esta tradição, talvez Lasch pudesse conciliar o velho e o novo, sem prejuízo das virtudes públicas e sem parecer vestal da ética protestante e do espírito do capitalismo. Esta foi uma hesitação infeliz num livro de rara coragem intelectual e de imensa relevância para nossos tempos.




Onde:

A Ética e o Espelho da Cultura - Jurandir Freire Costa 
Ed. Rocco

http://clubedamafalda.blogspot.com.br/

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Poema Postal II

O Beijo # Francesco Hayez



Onde:

http://www.vivapoesia.com/p/cometalinguagem.html

http://www.brera.beniculturali.it/

terça-feira, 16 de junho de 2015

Poesia de craque

A folha de videira # Francis Picabia




mineirão



palavra por palavra
ainda controlo a minha bola


Affonso Ávila




Onde:


Affonso Ávila - O Visto e o Imaginado - Ed.Perspectiva - Secretaria de Estado da Cultura - Edusp

http://www.tate.org.uk/art/artworks/picabia-the-fig-leaf-t03845

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Paciência

So slow # Andy Warhol



Ah, Paciência, Paciência é tão difícil! Pior,
Pedir Paciência! Mas Paciência, quem a tenta,
Quer guerra, garra; a ela, contudo, só contenta
Perder, cair, curvar-se e seguir sem rumor.

Ali, Paciência, em paz, deita raíz: rigor
Ou nada. Hera do ser, Paciência enterra lenta,
As ruinas da derrota. E lenta, ela acalenta
Mar de folhas a fluir, olhos roxos de dor.

Ouvimos um ralar de corações: seria
Mortal ferí-los mais. Nossos desejos bravos
A Deus, porém, vamos dobrando em rebeldia.

E onde está aquele que destila, dia a dia,
Só luz? Ele é paciente. Com Paciência os favos
Nos favorece. E já sabemos sua via.

G. M. Hopkins # Augusto de Campos




Onde:

A Beleza Difícil - G. M. Hopkings & Augusto de Campos
Ed. Perspectiva

http://www.warhol.org/

domingo, 14 de junho de 2015

Lula-lá





Nós vencemos uma eleição presidencial muito difícil, a mais difícil desde 2002.
Foi uma eleição tão disputada que nossos adversários levaram alguns meses para reconhecer que foram derrotados nas urnas.
E como perderam para o PT pela quarta vez consecutiva, tentam impor ao país a agenda do retrocesso – na economia, na sociedade e até na democracia.
Eles não se conformam com as transformações que realizamos nesses 12 anos e meio. E não veem a hora de fazer a história andar para trás.
A agenda deles é o financiamento empresarial, para manter a influência do poder econômico nas eleições.
Nós sempre valorizamos o papel do Congresso, da democracia representativa. Mas quando o PT propõe ampliar os instrumentos da democracia participativa, com mais conferências, conselhos e projetos de lei de inciativa popular, eles vêm com a velha ideia do voto facultativo.
Do que eles não gostam mesmo é de voto popular. Não gostam de participação social. Querem uma espécie de democracia sob medida, onde só cabem os interesses dos poderosos, e a maioria fica do lado de fora. 
A agenda deles é a redução da maioridade penal, para mandar para a cadeia quem deveria estar na escola.
É acabar com o sistema de cotas, para mandar os pobres e os negros de volta ao tempo onde não tinham oportunidades de estudar e ascender socialmente.
É promover a intolerância e sancionar o preconceito contra a população LGBT.
É perpetuar o oligopólio dos meios de comunicação, para que a liberdade de imprensa continue sendo um privilégio de poucos, quando deveria ser um direito de todos.
Eles querem fazer o Brasil voltar à idade média social em que o País vivia antes de eleger o governo da inclusão, da liberdade e da dignidade humana.
A agenda deles é acabar com o sistema de partilha e entregar o pré-sal, que é uma conquista do povo brasileiro.
É destruir a Petrobrás, construída com a luta de gerações de patriotas.
É destruir a indústria naval e a engenharia nacional, que geram empregos aqui no Brasil e fazem nosso país mais forte.
Nossos adversários não se conformam com um modelo de desenvolvimento baseado na inclusão, na geração de emprego e na distribuição de renda.
E ainda nos acusam de dividir o País entre ricos e pobres, o que é uma enorme hipocrisia.
Foi o governo do PT que trouxe para a mesa os que tinham fome, que abrigou os que não tinham teto, que abriu a porta das escolas para os que estavam do lado de fora, que integrou milhões ao mercado de trabalho e ao consumo.
Foi o governo do PT que começou a fazer do Brasil um país de todos, não apenas dos privilegiados de sempre.
Eles não se conformam com isso e saem por aí semeando o pessimismo, anunciando o fim do Brasil.

(Fragmentos do discurso do Lula no Congresso do PT em Salvador)


Onde:

http://www.conversaafiada.com.br/economia/2015/06/14/a-oposicao-tem-ideias-tem-o-lula-sabe-quais-sao/

sábado, 13 de junho de 2015

Elegia

Foto: Antônio Saggese



ELEGIA: INDO PARA O LEITO

Vem, Dama, vem, que eu desafio a paz;
Até que eu lute, em luta o corpo jaz.
Como o inimigo diante do inimigo,
Canso-me de esperar se nunca brigo.
Solta esse cinto sideral que vela,
Céu cintilante, uma área ainda mais bela.
Desata esse corpete constelado,
Feito para deter o olhar ousado.
Entrega-te ao torpor que se derrama
De ti a mim, dizendo: hora da cama.
Tira o espartilho, quero descoberto
O que ele guarda, quieto, tão perto.
O corpo que de tuas saias sai
É um campo em flor quando a sombra se esvai.
Arranca essa grinalda armada e deixa
Que cresça o diadema da madeixa.
Tira os sapatos e entra sem receio
Nesse templo de amor que é o nosso leito.
Os anjos mostram-se num branco véu
Aos homens. Tu, meu anjo, és como o céu
De Maomé. E se no branco têm contigo
Semelhança os espíritos, distingo:
O que o meu anjo branco põe não é
O cabelo mas sim a carne em pé.
Deixa que a minha mão errante adentre
Atrás, na frente, em cima, em baixo, entre.
Minha América! Minha terra à vista,
Reino de paz, se um homem só a conquista,
Minha mina preciosa, meu Império,
Feliz de quem penetre o teu mistério!
Liberto-me ficando teu escravo;
Onde cai minha mão, meu selo gravo.
Nudez total! Todo prazer provém
De um corpo (como a alma sem corpo) sem
Vestes. As jóias que a mulher ostenta
São como as bolas de ouro de Atalanta:
O olho do tolo que uma gema inflama
Ilude-se com ela e perde a dama.
Como encadernação vistosa, feita
Para iletrados, a mulher se enfeita;
Mas ela é um livro místico e somente
A alguns (a que tal graça se consente)
É dado lê-la. Eu sou um que sabe;
Como se diante da parteira, abre-
Te: atira, sim, o linho branco fora,
Nem penitência nem decência agora.
Para ensinar-te eu me desnudo antes:
A coberta de um homem te é bastante.

John Donne (1572-1631)

Tradução: Augusto de Campos




Elegia (John Donne - Augusto de Campos - Péricles Cavalcanti) # Péricles Cavalcanti


Onde:

Verso Reverso Controverso - Augusto de Campos – Editora Perspectiva

http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10603/antonio-saggese

quinta-feira, 11 de junho de 2015

Penas do ofício

Forsythia # Mary Ellen Solt



OFíCIO 2

Ainda não descobri
a caneta ideal - o perfeito
encaixe nos dedos - seu fluxo
pênis pensamento
orgasmo escrita
Ainda não descobri
a palavra ideal
- a menos que ideal
seja a palavra

Laís Corrêa de Araújo - Ossos do Ofício 




Onde:


http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/lais_correa_de_araujo.html

http://visual-poetry.tumblr.com/post/3785330378/forsythia-by-mary-ellen-solt-1965

quarta-feira, 10 de junho de 2015

BLABLABLABEL

Babel - Cildo Meireles




TITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITITI

TROLOLÓTROLOLÓTROLOLÓTROLOLÓTROLOLÓTROLOLÓTROLOLÓTROLO

NHENNHENNHÉMNHENNHENNHÉMNHENNHENNHÉNNHENNHENNHÉMNHENNH

LEROLEROLEROLEROLEROLEROLEROLEROLEROLEROLOLEROLEROLERO

ZZZZZZZZZZZAAFFFFFARRRRGHHHGRRRRRBANGZIIIIIILLLPSSSSIU


Onde:

http://radiosantigasdobrasil.blogspot.com.br/2011/07/construction-of-babel-cildo-meireles.html

terça-feira, 9 de junho de 2015

Poema postal I

Arte: Gabriela Brioschi
Poema: Cafu



Onde:

http://www.vivapoesia.com/p/cometalinguagem.html

sábado, 6 de junho de 2015

Um tapa na cara dos idiotas que preferem ser tristes




Onde:

https://www.youtube.com/channel/UCEWCRLJou-Yx5cw2PXHwCHw

Primeira geração de brasileiros sem fome

Fome # Mehrnoush Zeidabadi


Brasil assina Carta de Milão



Documento internacional convida todos os cidadãos, associações, empresas e instituições a assumir a sua responsabilidade em garantir que as gerações futuras possam desfrutar do direito à alimentação. Ministra Tereza Campello firmou apoio ao texto nessa quinta-feira (4)

Milão (Itália), 5“Hoje eu assino a Carta de Milão porque ela fornece um ponto estratégico para a luta contra a fome e a pobreza: a comida é um direito de todos”, afirmou nessa quinta-feira (4) a ministra do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Tereza Campello. O documento foi assinado no encerramento do Seminário Internacional Políticas Sociais para o Desenvolvimento – Edição Especial “Brasil: Superar a Fome é Possível”, no Pavilhão Brasil, na Expo Milão 2015

Desenvolvimento sustentável, fomento à agricultura responsável, redução de desigualdades nas áreas urbanas e o respeito à identidade sociocultural que o alimento fornece são os quatro pontos centrais da Carta de Milão. “É necessário que os governos e as empresas trabalhem em conjunto para desenvolver políticas públicas que garantam esse direito”, explicou a ministra.

Desde 2002, o Brasil reduziu em 82,1% o número de subalimentados, como resultado de um conjunto de políticas de aumento da renda, fortalecimento da agricultura familiar e do Programa Nacional de Merenda Escolar, que fornece alimentação a 43 milhões de crianças e jovens em escolas públicas no país. “O grande mérito da superação da fome no Brasil é que o combate à subalimentação deixou de ser uma questão filantrópica para ser o centro das políticas públicas”, destaca Tereza Campello.

ProduçãoDados da FAO mostram que, devido ao aumento da oferta de alimentos no país, a disponibilidade diária de calorias passou de 2.900 para 3.190, entre 2002 e 2013. O aumento da oferta de alimentos está associado ao fortalecimento da agricultura familiar.

Por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), coordenado pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), os produtores aprendem a planejar a produção, regularizar o fornecimento e garantir a qualidade dos alimentos produzidos. No ano passado, o governo federal investiu R$ 536,5 milhões na compra de 291 mil toneladas de alimentos de mais de 100 mil agricultores familiares. 

Outra estratégia para melhorar a produtividade da agricultura familiar é por meio do Programa de Fomento às Atividades Produtivas Rurais, que alia os serviços de assistência técnica e extensão rural a transferência de recursos não reembolsáveis. Em todo o país, mais de 345 mil agricultores familiares já estão com assistência técnica garantida. Destes, 171 mil já passaram por todo o processo de assistência técnica e já receberam os recursos financeiros do programa.

Outra ação que apoiou o resultado positivo do Brasil foi o crescimento da merenda escolar. Por dia, 43 milhões de alunos de escolas públicas recebem refeições, quase toda a população da Argentina. “Hoje temos a primeira geração de brasileiros que não vivenciou a tragédia da fome e que está na escola”, reforça a ministra Tereza Campello.

RendaEm 12 anos de existência, o Bolsa Família modificou drasticamente a fotografia da população brasileira. Atualmente, 50 milhões de brasileiros (13,7 milhões de famílias) recebem o benefício, que tem valor médio mensal de R$ 167.

As famílias que recebem a complementação da renda assumem o compromisso de cumprir o calendário de vacinação, de fazer o acompanhamento do desenvolvimento na fase de crescimento das crianças e ainda de garantir uma frequência escolar mínima de 85% no ensino fundamental e de 75% no ensino médio.

Um avanço importante com o programa foi a redução da chamada desnutrição crônica, medida pelo aumento da estatura das crianças. O déficit de estatura média das crianças beneficiárias acompanhadas nas condicionalidades de saúde caiu pela metade (51%) em quatro anos, no período de 2008 a 2012. 

Estudo publicado em 2013 na revista The Lancet destaca que esta ação, associada ao crescimento do Programa Saúde na Família, reduziu a mortalidade infantil em 19,4% entre os anos de 2004 e 2009. Segundo o estudo, a redução da mortalidade por causas relacionadas à pobreza é ainda maior: 46% de redução da mortalidade por diarreia e 58%, por desnutrição. “Só há uma maneira de conquistar resultados tão expressivos no combate à fome e à pobreza, nesta escala e neste curto espaço de tempo: colocando os pobres no centro da decisão das políticas públicas”, destacou Tereza Campello.

Convivência com a secaUma das ênfases que o governo federal teve em suas políticas sociais é voltada ao Semiárido, que é caracterizado por períodos curtos e concentrados de chuvas e por outros mais longos de estiagem. Para garantir aos moradores acesso à água de qualidade e em quantidade suficiente, o governo federal desenvolve políticas públicas estruturantes, com base em um novo paradigma de convivência com a seca. Desde 2003, já foram construídas 1,2 milhão de cisternas para captação da água da chuva e consumo humano durante a estiagem, mais de 120 mil tecnologias sociais para captação e armazenamento de água utilizada na produção de alimentos e 980 cisternas em escolas do meio rural da região.

Outra ação proporcionar aos produtores acesso a sementes de qualidade e adaptadas ao Semiárido. Para isto, até fevereiro de 2016, o MDS vai investir R$ 21 milhões na construção de 600 bancos comunitários de sementes crioulas, para beneficiar pelo menos 12 mil famílias de agricultores.



Onde:

http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias/2015/junho/brasil-assina-carta-de-milao

sexta-feira, 5 de junho de 2015

A poesia está para a linguagem assim como o erotismo está para a sexualidade

The eternal idol - Auguste Rodin



...A relação da poesia com a linguagem é semelhante à do erotismo com a sexualidade. Também no poema - cristalização verbal - a linguagem se desvia do seu fim natural: a comunicação. A disposição linear é uma característica básica da linguagem; as palavras se enlaçam uma às outras de forma que a fala pode ser comparada a um veio de água correndo. No poema a linearidade se torce, atropela seus próprios passos, serpenteia: a linha reta deixa de ser o arquétipo em favor do círculo e da espiral. Há um momento em que a linguagem deixa de deslizar e, por assim dizer, levanta-se e move-se sobre o vazio; há outro em que cessa de fluir e transforma-se em em um sólido transparente - cubo, esfera, obelisco - plantado no centro da página. Os significados congelam-se ou dispersam-se; de uma forma ou de outra negam-se. As palavras não dizem as mesmas coisas que na prosa; o poema já não aspira a dizer, e sim a ser. A poesia interrompe a comunicação como o erotismo, a reproducão.


Otavio Paz

Tradução: Wladyr Dupont


Onde:

A dupla chama do amor e erotismo - Editora Siciliano

http://www.musee-rodin.fr/en/collections/sculptures/eternal-idol

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Os ululantes atacam

S.M.L. # Noma Bar



A hostilidade a ex-ministros mostra que a imagem mítica do brasileiro simpático só existe no samba



A incivilidade gourmet

Luiz Gonzaga Beluzzo



O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega foi, outra vez, hostilizado. Depois dos hospitais, as grosserias elegeram os restaurantes de São Paulo. Fâmulos da distopia da barbárie chic, os ofensores atarraxaram a máscara da indignação para simular pertinência à vida civilizada. Em editorial publicado na terça-feira 26, a Folha de S.Paulo lamentou o “exagero” da hostilidade dirigida ao ex-ministro Guido. Ocorreu-me sugerir ao editorialista lamentar os “exageros” antissemitas de Adolph Hitler.

Esses espécimes confirmam diariamente a resposta do Mahatma Gandhi a um desavisado que desfraldou o estandarte da civilização ocidental diante de seus olhos: “A civilização ocidental teria sido uma boa ideia”.

A esse episódio de incivilidade gourmet agregam-se outros momentos de extasiada celebração do próprio mau gosto, tal como a manifestação do advogado Danilo Amaral. Arrogando-se o direito de patrulhar consciências, disparou impropérios contra o ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha, responsável pela implantação do Programa Mais Médicos. Suspeito que o senhor Danilo Amaral esteja disposto a patrocinar o programa Menos Médicos.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, o sociólogo espanhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. “O Brasil sempre foi agressivo... Nos tempos da ditadura, o debate não só era agressivo, como se torturavam pessoas com impunidade. A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no samba. Na relação entre as pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata.”

Para os leitores de Sérgio Buarque de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as raízes da sociedade brasileira plantadas nos terraços da escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. Nesse espaço da sociabilidade à brasileira germinam os grãos que cevam as hipocrisias do “homem cordial”, avesso a regras e amigo da informalidade que consagra a lei do mais forte. O brasileiro “cordial” carrega em seu caráter as peculiaridades das relações de dominação que organizam a vida social no país do Carnaval, do futebol (decadente) e da sensualidade por demais exuberante para ser bem resolvida.

Diz Sérgio Buarque nas Raízes do Brasil que o pensamento liberal democrático pode ser resumido na frase de Bentham: “A maior felicidade para o maior número”. A isso se opõem os valores cordiais e oligárquicos. Sob a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da discriminação e da desigualdade. Rasgado o véu conveniente da benevolência, emerge da mansidão hipócrita a inclemente violência do mandonismo e da submissão: “O senhor sabe com quem está falando?” “Coloque-se no seu lugar.”

Os ululantes atacam nas ruas e nos restaurantes com as armas do preconceito, da intolerância e da apologia da brutalidade, sem falar nos atropelos à língua portuguesa. Veja o caro leitor que em restaurante de “uma região nobre de São Paulo”, um aspirante à nobreza dos bairros nobres bateu panela ao discutir o valor da conta com o garçom de restaurante: “Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade”. E completou: “É por causa desses preguiçoso e analfabeto que o Brasil não vai pra frente”. Descontado erro grosseiro de concordância – “desses preguiçoso e analfabeto” –, sobrou a grotesca expressão “não fez faculdade”, típica do semianalfabeto com diploma de curso superior incapaz de perceber o tamanho de sua ignorância. A valorização do curso superior cumpre, hoje, a função discriminatória da era do bacharelismo: “No vício do bacharelismo”, dispara Sérgio Buarque, “ostenta-se também a tendência para exaltar acima de tudo nossa personalidade individual, como valor próprio, superior às contingências.”

Nos idos de 2015, os Senhores da Terra Brasilis e seus encapuçados capitães do mato entregam-se, mais uma vez, com o trovejar da fúria, aos trabalhos de revelar suas entranhas ao mundo. Na fétida exibição das tripas, a argumentação razoável cede passagem ao dedo indicador apontado para o adversário ou divergente. A personalidade autoritária que muitos sonhavam exercitar à esquerda encontrou seus espaços nos confortáveis e oportunos palanques da direita brasileira, hoje comandada por figuras de segunda classe. Exageros da cordial alma brasileira.


Onde:

http://www.cartacapital.com.br/revista/852/a-incivilidade-gourmet-4758.html

http://www.dutchuncle.co.uk/noma-bar/

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Don Juan

O naufrágio de Don Juan - Eugene Delacroix


DOM JUAN (fragmentos)

Byron

I, 213

Cabelo cinza aos trinta (com mais dez,
Como estará? Uma peruca austera
Se impõe). Sem viço o coração e a tez,
Gastei todo o verão na primavera.
Já não reage a alma que me fez
E o meu espírito não é o que era.
Joguei a vida, capital e juros,
No dia de hoje, inúmeros futuros!


I, 217

Perdeu-se a voz de Júlia nos suspiros,
Tempo não houve para uma conversa;
Golfaram lágrimas como reis Ciros
E eu lamentei este lamento persa.
Motivos houve para tantos tiros?
Lutou um pouco, resistiu bastante,
Disse “Não dou!” – e deu (desconcertante)


II, 152
Manhã – eu durmo; à noite, tão leais,
Estrelas e mulheres brilham mais.


III, 2

Amantes de perfumes colhem flores
E abrigam-nas no seio (mau lugar).
Assim pomos no peito alguns amores
– E este é o lugar mais tumular.


III, 8

Petrarca, fosse Laura a companheira,
Faria sonetos uma vida inteira?


III, 36

Um dia de ouro na idade de ferro,
É com que sonha o homem no seu erro.


III, 88

Palavra é coisa. Uma gota de tinta,
Caindo como orvalho numa idéia,
Faz florescer a mente de quem sinta
(Milhões, talvez). A palavra mais feia,
Vencendo a fala, é assim como uma cinta
Que liga as eras. E que o Tempo leia
O homem no papel – estes rabiscos –
Tumba pós-vida, seu legado de riscos.


IV, 100

Afilhado da fama, à procura da essência,
No tempo e língua, o poeta proclama:
A vida é a menor parte da existência.


IX, 20
Deus imortal, que é teogonia?
Homem mortal, que é filantropia?
Mundo atual, que é cosmogonia?
Alguns me acusam de misantropia,
Mas não sei mais que o pau – que agonia! –
Desta mesa. Mas, já, licantropia,
Sei o que é: sem mudar nada,
O homem vira lobo por um nada.


XIII, 6

Ódio é prazer comprido, vida e meia:
Ama-se às pressas, com vagar se odeia.


XII, 40

Muita cautela, marujos novatos
Que se propõem cruzar o Mar Mulher;
Já os lobos do mar – lição dos fatos –
Busquem porto seguro – o Tempo o quer –
Antes que o SOS cinza aos atos
Humanos mostre o fim, com seu preté-
Rito “já era”: vai-se o animus vitae
Entre a ânsia do herdeiro e a dor da artrite.



XIV, 26

Bem maldosa é a expressão “rabo-de-saia”.
Mesmo quem vai atrás nega o seu mando,
Embora de mau grado (não se traia!)
Como quem come sapo. Mas, lembrando
Que sob a saia, aos trancos, nesta raia
Vital nascemos, eu pertenço ao Bando
Da Saia Mística – em mulher bonita
Ou não, ou pobre ou rica, em seda ou chita.


XV, 1
A vida é interjeição, nega e não nega:
É um “oh” ou “ah!”, de júbilo ou miséria;
É um “rá-ra-rá”, um “pô”, um tédio, um “chega!”
– E esta talvez é a ex-clamação mais séria.


XV, 76

Às vezes vejo ouvidos nos olhares
Delas, ouvir que à toa se refuta.
Há sempre um eco em seus auriculares,
Sem que se saiba a fonte da permuta,
Tal música de esferas estelares
Que é muito alta, mas ninguém escuta.
É incrível como ouvem, no ar suspensos,
Sem palavras, diálogos imensos!


XVIII, 11

Genial não sou – mas, às vezes, genioso;
Modesto – mas com certa segurança;
Mutável, sim – mas voluntarioso;
Paciente – sem querer perseverança;
Jovial – mas à lamúria tendencioso;
De boa paz – mas propenso à vingança.
Chego a pensar, se às vezes me concentro:
Sou dois por fora a cada um por dentro.


Tradução: Décio Pignatari




Onde:

31 poetas 214 poemas # Décio Pignatari
Ed. Companhia das Letras

http://www.wikiart.org/en/eugene-delacroix/the-shipwreck-of-don-juan-1840

terça-feira, 2 de junho de 2015

Transações Tenebrosas Futebol Clube

Entrevista do jornalista Luiz Carlos Azenha ao Conversa Afiada


Follow the money. Plim-plim!

Onde:

http://www.conversaafiada.com.br/tv-afiada/2015/06/02/video-com-azenha-como-o-fbi-chega-a-globo/

Arte

Tapete persa



"Give her an Oriental carpet, oppulent and jazzy, conforting yet intensive, like an overturned eye game flattened and spread out on the floor.
Give her patterns and color, give her a map of the higher mind, a map woven from dreams and hair and dyed with spices and wine. Give her beauty, in other words. Give her humanity's best shot. Give her art".

Tom Robbins



Onde:

Half asleep in frog pajamas # Tim Robbins
Bantam Books

http://www.sothebys.com/en/auctions/ecatalogue/2013/so-rugs-n09012/lot.12.html