domingo, 21 de fevereiro de 2016

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Recessão emocional



Paulo Nogueira Batista Jr.: política econômica para enxotar vira-latas

Fernando Brito

Quer entender o que têm a ver a crise econômica com a ação política sistemática de demolição da ideia do Estado como ferramenta de desenvolvimento e bem-estar, que vai além da destruição do governo petista mas passa, necessariamente, por ela?

Leia o professor Paulo Nogueira Batista Jr, um dos raros economistas brasileiros que não escreve em hieróglifos e com mais preocupação em ser entendido do que ser admirado como oráculo.

Talvez, por isso, os governos petistas sempre o tenham mantido numa espécie de exílio: primeiro no FMI, onde conduziu nossa afirmação como membro decisivo, em lugar de pedinte contumaz e, agora, no Banco dos Brics, onde é vice-presidente e já anuncia a entrada, progressiva, de investimentos em infraestrutura no país.

Seu artigo hoje, em O Globo, é a mais simples e melhor explicação sobre as mudanças de orientação da política econômica, tímidas, mas as possíveis a um governo que está fraco e sob implacável assédio não só das forças do “mercado” – leia-se aí a especulação financeira, nacional e internacional – como, sobretudo, pelas feitorias de pensamento, cuja dominação se dá como todo processo de dominação: pela destruição de nossa autoestima, pela renúncia à ideia de nossa capacidade e, portanto, pela criação de uma necessidade de entregarmos a outros a condução do nosso próprio destino.

Tomei a liberdade de sublinhar algumas frases, professor…


Estou passando algumas semanas no Brasil, leitor, e constato horrorizado: pior do que a recessão econômica, só a recessão emocional. O país, que há poucos anos era um sucesso internacional, parece ter perdido a autoconfiança definitivamente. Esquece seus pontos fortes e proclama aos quatro ventos seus pontos fracos. E, pior, demonstra satisfação masoquista em proclamá-los.

Em outras palavras, o complexo de vira-lata voltou com força total. Era de se esperar. Um complexo assim secular não se supera num passe de mágica, em poucos anos de sucesso. Mesmo nos nossos anos de prestígio internacional, o vira-lata estava ali, à espreita, pronto para voltar à cena. Afinal, como dizia Nelson Rodrigues, subdesenvolvimento não se improvisa — é obra de séculos.

A recessão emocional alimenta a econômica, e vice-versa. O colapso da confiança prejudica inevitavelmente o investimento e o consumo. A retração da demanda agregada doméstica derruba a produção e o emprego. E o aumento da capacidade ociosa e do desemprego deprime ainda mais o investimento e o consumo, jogando a economia numa espiral descendente.

Nesse ambiente, as políticas monetária e fiscal não podem continuar sendo pró-cíclicas, como foram em 2015. Não há dúvida de que o espaço monetário e fiscal é limitado. Mas é possível moderar a política de juros e espaçar o ajuste fiscal ao longo do tempo. É o que parece estar tentando a equipe econômica. Sob protestos da turma da bufunfa, o Banco Central interrompeu o ciclo de alta de juros. O Ministério da Fazenda anunciou medidas de ampliação do crédito, centradas na atuação dos bancos federais, e mudanças na política fiscal que tendem a torná-la mais sensível ao ciclo econômico. Foi apresentado ao mesmo tempo um programa de ajustamento estrutural das contas públicas.

A direção tem que ser essa mesmo. Ou alguém imagina que num quadro de queda acentuada do gasto privado o papel da política econômica possa continuar sendo o de aprofundar a recessão com juros ascendentes e uma política fiscal pró-cíclica? Mais do que nunca, o setor público deve desempenhar um papel compensatório.

A recessão emocional nos impede de ver os pontos positivos do quadro macroeconômico? Alguns são tão evidentes que nem o mais tenaz dos vira-latas é capaz de negá-los. Por exemplo: a dimensão e velocidade do ajuste das contas externas, consideradas surpreendentes por analistas da economia brasileira. A combinação de queda da demanda interna com acentuada depreciação do real produziu grande melhora da balança comercial e da conta corrente do balanço de pagamentos em 2015, que só não foi maior porque o quadro internacional foi adverso em termos de demanda externa e de troca.

Somado às elevadas reservas em moeda estrangeira, que o Brasil ainda não precisou utilizar, o fortalecimento do balanço de pagamentos nos dá condições de enfrentar as turbulências internacionais que devem ocorrer em 2016.

A desvalorização do real funciona, além disso, como estimulo à recuperação da atividade e do emprego. As exportações de bens e serviços já começaram a responder ao câmbio mais favorável. Ao mesmo tempo, a produção nacional se mostra capaz de substituir importações em vários setores. Ainda que o setor externo da economia seja relativamente pequeno, como costuma se verificar em países continentais, o impulso cambial ajudará a estabilizar os níveis de atividade e de emprego.

Portanto, deixo aqui o meu apelo veemente: sossega, vira-lata!


Onde:

http://tijolaco.com.br/blog/34073-2/

http://tvblogueiro.blogspot.com.br/2015/08/complexo-de-vira-lata-avaiano.html

sábado, 6 de fevereiro de 2016

Vitória : Brasil aumenta cota de participação no FMI

Who is bad? # Wasted Rita


Brasil passa outras nações e já é um dos dez países mais importantes do FMI

Mauro Santayana

(Jornal do Brasil) - Discretamente, com exceção da blogosfera – o maior jornal econômico do país deu a notícia em uma página interna do terceiro caderno, com uma nota de canto de rodapé de uma coluna por menos de 8 centímetros de altura – o Brasil está aumentando suas quotas – logo, o seu poder– no Fundo Monetário Internacional, segundo informou, na semana passada, a instituição, que finalmente concluiu uma reforma destinada a dar a cada país uma posição um pouco mais congruente com o seu peso na economia mundial. 

Para tristeza dos saudosistas do tempo em que as missões do FMI eram freqüentes, seus técnicos mandavam e desmandavam no governo e eram recebidos aqui como vice-reis - devíamos no final do governo FHC 40 bilhões de dólares ao Fundo - faremos parte, a partir deste ano, do clube que reúne as 10 maiores economias do Fundo Monetário Internacional.

Nós e a China, a Rússia e a Índia, nossos parceiros no Banco dos BRICS, além dos EUA, da Alemanha, do Reino Unido, da França, da Itália e do Japão.

Enquanto isso, nunca é demais lembrar, apesar da conversa fiada no espaço de comentários da internet e na primeira página da maioria dos jornais e revistas, nosso país continua a ser, também, o terceiro maior credor individual externo dos EUA, com 264 bilhões de dólares – mais de um trilhão de reais - emprestados ao Tio Sam, como se pode ver na última edição da página oficial do Tesouro dos Estados Unidos, no “link” 

http://ticdata.treasury.gov/Publish/mfh.txt 


Onde:

http://www.maurosantayana.com/

http://www.wastedrita.com/

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Os microcéfalos





Os microcéfalos

Fernando Brito


O “panelaço” contra a fala de Dilma Rousseff na TV – mesmo dizendo que não iria falar de política ou economia, mas apenas do combate ao vírus zika que, segundo os Centros de Controle e Prevenção do Governo Ameicano, atinge 30 países e agora, possivelmente, o próprio território americano, com um possível caso de transmissão sexual – foi tão pequeno quanto a capacidade intelectual dos que o promoveram.
A epidemia, disse hoje Alejandro Gaviria, o ministro da Saúde da Colômbia, devidamente direitista e ex-ministro do Planejamento  do “governo-modelo” do conservadorismo, o de Álvaro Uribe diz hoje que a expansão da doença nada tem  a ver com os sistemas de saúde dos países atingidos.
Não têm, mas terão, porque o tamanho da epidemia terá a ver com a capacidade dos governos e da população de combaterem a proliferação do mosquito, do atendimento primário e  – imaginem se é uma autoridade brasileira que diga isso – diz o que falou o ministro colombiano Uribe ao Estadão:
“Gaviria sugeriu que os casais que estejam pensando em filhos adiem o plano, orientou habitantes das áreas mais altas a não visitarem a regiões mais baixas e desaconselhou viagens a outros países com focos da infecção. Defendeu que uma gestante tem direito de abortar, em decisão conjunta com um médico, se enxergar na gravidez de uma criança com microcefalia um risco para sua saúde mental.”
Estaríamos em um clima de galhofa, de um lado, com piadas sobre sexo, bloqueios na Rio-Teresópolis e, de outro lado, uma ofensiva de pastores desejando obrigar mulheres a darem a luz – que é, aliás, um direito delas –  a crianças microcéfalas.
Há, porém, outro tipo de microcéfalos, não no sentido da atrofia física da massa cinzenta,  mas da amputação de capacidade de pensar  o suficiente para deixar os ódios políticos fora das questões de saúde pública.
Foi o que fizeram na noite de ontem, felizmente em proporções não de epidemia, mas apenas de surto.

Onde:
http://tijolaco.com.br/blog/os-microcefalos/