quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Enfeitiçados




Há uma operação de enfeitiçamento em curso

Najla Passos


“A mídia não cobre mais os acontecimentos. Ela gera versões e tenta transformá-las em verdade”, alertou o sociólogo Laymert Garcia dos Santos, professor titular do Departamento de Sociologia da Unicamp e membro do Centro de Estudos dos Direitos da Cidadania da USP, que participou da mesa Comunicação e Novas Tecnologias, durante os “Seminários para o avanço social”, promovido pelo Fórum 21, em São Paulo de 9 a 13 de novembro.
De acordo com ele, mesmo após o advento das redes sociais e dos 13 anos de governos petistas, o sistema da comunicação no Brasil é ainda extremamente concentrador e preocupante porque, historicamente, o PT não soube avaliar o real poder da mídia e a esquerda não conseguiu formular uma análise crítica do seu potencial de formação de consensos.
Santos afirma que, desde a década de 80, o PT já contava que, quando chegasse ao poder, teria a velha mídia brasileira ao seu lado, devido à postura dos oligopólios, como as Organizações Globo, de sempre se posicionarem a serviço dos governos de plantão. Mas não foi o que aconteceu. Para agravar, as redes sociais amplificaram o potencial da mídia de repetir versões para transformar fatos em verdade, o que gerou o quadro atual.
“A esquerda não tem uma visão crítica em relação aos meios de comunicação. E se ela não consegue ter essa relação em relação à velha mídia - se o máximo que consegue é propor a democratização e ponto - imagina com as novas mídias”, criticou.
Para o professor, o quadro é de tamanha gravidade que a relação entre verdade e mentira, entre verdade e ficção, está completamente abalada. “Nós chegamos a um ponto em que os ladrões gritam ‘pega ladrão’ para os não-ladrões. E isso cola! É uma inversão de valores gigantesca”, ironizou.

Linguagens totalitárias

O sociólogo sustenta que a dimensão totalitária que a linguagem da velha mídia, reverberada pelas redes sociais, adquiriu no país só encontra precedentes no período pré-nazista e na Guerra Fria. “A mídia é uma parte não só ativa na definição do que acontece, mas é parte ativa na criação de ficções, de versões do que ocorre”, ressaltou. 
Para piorar o quadro, a esquerda não consegue sequer reagir aos sucessivos ataques, porque seus instrumentos são poucos e de curto alcance, enquanto os dos oligopólios que dominam a mídia no país vão longe e promovem uma espécie de “enfeitiçamento” contínuo. “Se você coloca só um pouquinho de voz de um lado, não é suficiente para fazer contraponto. A assimetria é enorme”, destacou.
O resultado, conforme ele, portanto, é um campo de versões e mentiras deliberadas, programadas por uma máquina poderosa, que tem uma capacidade de mobilização das mentes das pessoas bastante importante. “Não só a classe média já foi ganha, como também existe a uma capilaridade em setores beneficiados pelas políticas desse governo que começam a se submeter a este enfeitiçamento. Há uma operação de enfeitiçamento em curso”, denunciou.
Como exemplo, Santos cita as pequenas manifestações por impeachment ou a favor de “intervenção militar” que reúnem meia dúzia de manifestantes e um boneco, mas ganham um espaço enorme no noticiário e na agenda política do país, em detrimento de outras muito maiores organizadas pelos movimentos sociais. “Há todo um encadeamento de redes de transmissão que fazem com que não-acontecimentos se tornem acontecimentos, com o objetivo de manter no ar permanentemente a perspectiva de golpe”, alertou.

O não-diálogo 

Para o professor, este enfeitiçamento está na base da falta de diálogo que domina o país. “Todo mundo aqui já tentou argumentar com uma dessas pessoas de direita, no sentido de demonstrar os absurdos que ela está dizendo, e bateu em um muro. O esclarecimento não resolve. Não há possibilidade de diálogo nem de discussão, porque o irracional surge. Elas não querem ser esclarecidas. São movidas pelo ódio e o ódio é visceral. E esse ódio é alimentado o tempo todo pela mídia e pelas redes sociais”, argumentou.
Para o professor, o mais grave é que o governo sequer reage a essa ofensiva, tratando essa explosão da linguagem totalitária no país como natural ou próprio da democracia. “Nem corte de grana para emissoras houve. A reação do governo é de submissão e isso estimula o avanço conservador”, acrescentou. Santos sustenta que as forças de esquerda precisam compreender os sinais de perigo e agir. “A linguagem não é só sentido e produção de conteúdo. A linguagem também é ação. E a ação da linguagem totalitária é mobilizar o negativo das pessoas”, denunciou.
 
O mercado da atenção
 
Professor de Sistemas de Informação da USP, Mário Moreto Ribeiro, fez uma comparação entre o ambiente do mundo do trabalho e o das redes sociais, que hoje exigem a atenção total do trabalhador/internauta, em uma desgastante briga por sua atenção. “Na internet hoje, o que está em disputa é essa atenção total. Não só o tempo [do internauta], mas a atenção”, afirmou. 
Segundo ele, o capital se apropriou do que deveria ser espaço de interação e lazer para os trabalhadores e o transformou em mais uma mercadoria. É por isso que ele classifica o esforço exercido por milhares de usuários das redes sociais para formularem comentários e disputar a atenção de seus seguidores, gratuitamente, é um tipo de trabalho voluntário que contribui para valorizar a marca da empresa, e gerar lucro para o capital.  
“Escrever no facebook também é um trabalho. Você gasta tempo, valoriza a empresa. E disputa a atenção dos colegas. Existe um mercado da atenção nas redes sociais. E a gente está disputando esse mercado quando escreve no Facebook. Mas não é um mercado aberto. Ele é controlado por uma empresa”, alertou.


Onde:

http://www.cartamaior.com.br/?%2FEditoria%2FMidia%2F-Ha-uma-operacao-de-enfeiticamento-em-curso-diz-sociologo%2F12%2F34994#.VngDCGNM7JZ.facebook


terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Sanatório Geral

O que passa pela cabeça desse cidadão?


O manicônio em que se transformaram as manifestações pró-golpe

Paulo Nogueira

O que passa pela cabeça de um cidadão que veste uma jaqueta metade Brasil, metade Estados Unidos, e põe sobre a cabeça uma cartola que retrata a bandeira dos Estados Unidos?

Quando o fotógrafo Igor Verzola gentilmente me enviou fotos dos protestos de domingo na Paulista, foi naquele homem que me detive.

Para mim, ele é o símbolo dos manifestantes de São Paulo, a versão paulistana do Batman do Leblon.

Está na cara que ele não tem noção de nada, ou não se vestiria de uma forma tão grotesca.

Os vários vídeos que vi dos protestos pelo impeachment, e não falo apenas dos deste domingo, me deram a sensação de que parte do Brasil se transformou num imenso manicômio.

Você ouve as pessoas falando e se pergunta: em que planetas esses caras vivem? Já leram um livro? Onde será que eles se informam, ou melhor, de onde tiram os absurdos que reproduzem aos berros em sua ignorância entusiasmada?

Eles falam em comunismo num estado total de cegueira. Num vídeo, uma mulher de uns 40 anos afirmava, terminante, que já estamos numa ditadura comunista.

Ora, ora, ora.

Ela faz ideia do que aconteceria com ela caso, de fato, vivêssemos numa ditadura comunista? Quantos minutos ela sobreviveria na rua insultando histericamente um ditador comunista como o Stálin que aparecia no cartaz que segurava? Dez, quinze, vinte minutos?

Uma outra senhora bradava que os políticos têm que fazer o que o povo quer: derrubar Dilma. Pouco mais de um ano atrás, o povo elegeu democraticamente Dilma. Mas a senhora, transtornada, falava em nome do povo como se tivesse uma procuração de cada um de nós.

O único raio de sol num céu brutalmente cinzento veio do vídeo de um rásta que carregava um cartaz antigolpe na Paulista.

Cercado de manifestantes furiosos, ele explicava, sem erguer a voz, que estava ali defendendo não um partido, mas a democracia.

Clap, clap, clap. De pé.

Porque se trata disso, afinal: defender a democracia. Proteger 54 milhões de votos.

Perto dele, uma mulher gritava que a família de Lula tinha enriquecido. Aí você pode traçar a origem das pseudoinformações: a imprensa. A imprensa é mãe de boa parte das pessoas que pedem o impeachment.

Você observa o nível dos filhos da mídia pelos múltiplos vídeos que documentam as manifestações. São verdadeiros idiotas, mais que simplesmente analfabetos políticos.

Fora das ruas, você pode encontrá-los nas seções de comentários dos sites das grandes empresas jornalísticas. Neles, vomitam imbecilidades, preconceitos, xingamentos e uma descomunal, inexcedível burrice.

Do ponto de vista icônico, poucos superam o homem fantasiado de Brasil-Estados Unidos.

Qual é sua mensagem? Que o Brasil deveria tornar-se mais um estado americano? Que deveríamos trocar o português pelo inglês?

Não consigo, francamente não consigo imaginar um tipo destes num escritório trabalhando para ganhar o pão de uma família. Ou fazendo qualquer coisa minimamente racional.

Viramos um manicômio. Não totalmente, é verdade. O rásta que defendia solitariamente a democracia na avenida Paulista nos dá a esperança de que há ainda lucidez no Brasil — mas você dificilmente vai achá-la nas manifestações pelo golpe.


Onde:

http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-manicomio-em-que-se-transformaram-as-manifestacoes-pro-golpe-por-paulo-nogueira/

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Meia-verdade sobre o IDH: caiu, mas subiu

O Pato de Tróia da minifestação na Paulista


IDH do Brasil subiu. O PiG é sórdido!

Paulo Henrique Amorim

Com o retumbante fracasso do impítim nas ruas e antes de fazer do zika uma epidemia irreversível e devastadora, o PiG se deu ao trabalho de produzir nessa manhã de ressaca violenta uma sordidez plena de raiva e baba gosmenta.

Deu em todas as manchetes que o IDH do Brasil caiu!

Não caiu!

Caiu em termos relativos uma única, mísera posição: da 74ª para a 75ª. 

Qua, quá, quá!

Mas, continua na invejável categoria a que Lula e Dilma levaram: “país de alto desenvolvimento humano”.

Nos anos 90, nos plúmbeos tempos do Príncipe da Privataria ficava na casa dos 0,60 e alguma coisa.

Mas, segundo os neolibelês, era a inevitável consequência do ajuste e da venda do patrimônio público a preço de banana.

Hoje, o IDH da Dilma e do Lula é de 0,755 – maior do que o da China, da Índia, da África do Sul, associados nos BRICs.

De 1990 a 2014, o crescimento foi 24,2% (brasileiro), o maior no período entre os países da América do Sul. Em relação à posição no ranking mundial, de 2009 a 2014 o país avançou três posições.

Ou seja, do ponto de vista da vida material dos brasileiros, na Educação e na Saúde, a vida melhorou.

E, em boa parte, por causa do Bolsa Família, que o genocida Ricardo Barros quer extirpar.

Com Dilma e Lula o Brasil acabou com a miséria.

E é por isso que o impítim não passou de um rolezinho de colonistas pigais: não chegou às ruas.

Era uma “crise” do dos chapéus para a Ilustre, daí ao Ataulpho Merval de Paiva e à Fo-Frete, a que dá complexidade ao óbvio... 

Leia a íntegra da notícia da EBC:
O Brasil registrou melhora no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2014. Os dados divulgados pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) mostram que o IDH passou de 0,752 em 2013 para 0,755 em 2014. Apesar do aumento, o Brasil caiu uma posição no ranking mundial de desenvolvimento humano e passa a ocupar o 75º lugar entre 188 países.

De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Humano 2015, lançado hoje (14), o país perdeu uma posição porque foi ultrapassado pelo Sri Lanka, que teve crescimento acelerado no último ano. O IDH mede o desenvolvimento humano por meio de três componentes: a expectativa de vida, educação e renda.

A coordenadora do Relatório de Desenvolvimento Humano Nacional, Andréa Bolzon, explicou que a diferença no ritmo de crescimento dos países causou a queda do Brasil. “Apesar de o Brasil ter crescido no IDH, outro país cresceu em ritmo um pouco mais acelerado que o nosso. A isso se deve nossa queda”.

Com a 75° posição, o Brasil fica atrás de países latino-americanos como a Argentina (40°), o Chile (42°), Uruguai (52°), Cuba (67°) e a Venezuela (71°). O primeiro lugar no ranking mundial é da Noruega, seguido pela Austrália e a Suíça. Em último está o Niger.

O relatório mostra que, no Brasil, indicadores que representam melhorias sociais tiveram avanço, como a esperança de vida ao nascer, que aumentou de 74.2 em 2013 para 74.5 em 2014, e a média de anos de estudo que passou de 7,4 para 7,7 nesse período.

Houve queda na Renda Nacional Bruta (RNB) per capita de 2014 (15.288), quando comparada a 2013 (15.175). Desde 1990, a RNB do Brasil não havia sofrido retração. “O relatório mostrou que do ponto de vista da renda per capita, houve pequena retração e é claro que isso afeta também nosso índice de desenvolvimento humano. Agora, daqui para a frente, precisamos aguardar para ver como as coisas vão se refletir no relatório”, disse Andréa Bolzon. Questionada se a queda no Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil poderá ter impacto negativo no IDH, ela respondeu que existe essa possibilidade, já que um dos indicadores é a renda que está relacionada ao PIB.

O Brasil acumula trajetória constante de crescimento do IDH. De 1990 a 2014, o crescimento foi 24,2%, o maior no período entre os países da América do Sul. Em relação à posição no ranking mundial, de 2009 a 2014 o país avançou três posições.

As políticas públicas brasileiras têm responsabilidade direta sobre esses avanços, segundo a coordenadora do Pnud. “O relatório reconhece esses programas de proteção social e de transferência de renda como importantes para aumentar o desenvolvimento humano. O desenvolvimento dos países tem acidentes de percurso e, se você tem uma rede de proteção social forte, obviamente as coisas ficam mais seguras para todo mundo”, afirmou Andréa.

O relatório do Pnud, intitulado O Trabalho como Motor do Desenvolvimento Humano, traz também dados de 188 países e sugere estratégias para criar oportunidades e assegurar o bem-estar dos trabalhadores.


Onde:

http://www.conversaafiada.com.br/economia/idh-do-brasil-subiu-o-pig-e-sordido

domingo, 13 de dezembro de 2015

Nise da Silveira

Dra. Nise da Silveira


" Assim como Nise fez – com tantas pessoas e temas ,seus amigos, ainda hoje, se comprazem em mencionar mitos e arquétipos relacionados a ela, com base em sua vida e na leitura de suas obras.

O discípulo Luiz Carlos Mello conta que, na primeira noite da primeira viagem à Suiça   quando conheceu Carl Gustav Jung –, a brasileira teve um sonho significativo. Ele relata: Sentada frente a uma mesa, Nise olha para o tampo e vê um céu estrelado. A imagem apareceu rápido, mas a sensação de que havia uma ordem oculta, uma constelação, permaneceu. Esse sonho sintetiza bem o mito de sua vida, a tarefa que teria pela frente. Mapear o inconsciente através dos seres que nele mergulharam, e que se perderam neste céu interior, mas que não deixaram de registrar, de revelar através das imagens do inconsciente, as 'estrelas-arquétipos' que compõem o nosso interior psíquico."

Nise arqueóloga dos mares - pg. 75



Anotações em torno da incomparável Nise da Silveira em Grupos de Estudos ou conversas informais. Algumas já foram aqui publicadas. Retomá-las é manter a chama acesa.

“Todo mundo deve inventar alguma coisa, a criatividade reúne em si várias funções psicológicas importantes para a reestruturação da psique. O que cura, fundamentalmente, é o estímulo à criatividade.”

“É necessário se espantar, se indignar e se contagiar, só assim é possível mudar a realidade.” 

“Para começar a estudar é preciso, de início, capinar. Capinar, capinar, capinar... intensamente. Somente, após longo trabalho de capinação é que você poderá trocar o ancinho por um longo pente, e passá-lo sedosamente nos cabelos de uma mulher.” Para o psicólogo Vicente Saldanha, quando ainda estudante e estagiário de Nise. 

“A contaminação psíquica é pior que piolho. Vai passando de uma cabeça para outra, numa rapidez incrível. E, como você sabe todo mundo já pegou piolho.” 

“Há no meu temperamento essa fúria. Quando eu quero uma coisa, eu insisto. Todo o dia, sem falta, eu levantava cedo, pegava o ônibus e ia trabalhar em Engenho de Dentro. Todo dia, todo dia... Nada me tirava daquele caminho.”

“Desprezo as pessoas que se julgam superiores aos animais. Os animais têm a sabedoria da natureza. Eu gostaria de ser como o gato: quando não se quer saber de uma pessoa, levanta a cauda e sai. Não tem papo.” 

“Eu me sinto bicho. Bicho é mais importante que gente. Pra mim o teste é o bicho, se não passar por ele, não tem vez. Freud disse que quem pensa que não é bicho, é arrogante.” 

O psiquiatra inglês Ronald Lang, estando no Brasil clique aqui e conhecendo, pessoalmente, a Doutora e sua obra, ficou profundamente tomado de emoções e encanto. A Doutora se viu seduzida por ele e dizia com sutileza: “O Laing era um gato.” 

“Estamos socialmente condicionados a considerar a imersão total no espaço e no tempo exterior como coisa normal e saudável. A imersão, no espaço e no tempo interior, tende a ser considerada um afastamento antissocial, um desvio inválido, patológico per se e, de certo modo, desabonador. Para mim, faz muito mais sentido, como projeto de urgência desesperada em nossa época, explorar o espaço e tempo interiores da mente”. “A contribuição de Laing (Ronald) foi a exploração do espaço interior”. 

“Eu não me atrevo a definir a loucura”.

“Porque passei pela prisão, eu compreendo as pessoas e os animais que estão doentes, pobres, que sofrem. Eu me identifico com eles”.

“A obra de arte para Freud fundamenta-se nos condicionamentos individuais do criador, e o Jung encara a obra de arte como uma produção superpessoal.” 

“Quando descobri a unidade da matéria e da energia, uma coisa se transformou na outra; minha vida mudou.” 

“Encontrei na psicologia de Jung e nas obras deste mestre o meu melhor instrumento de trabalho.” A Doutora costumava dizer que ela, como as costureiras, possuía muitas tesouras, mas dava preferência a uma, a de C. G. Jung. 

“Madame Adelaide Sechehaye. Ela me disse: ‘Só se pode progredir pelo prazer’, meu encontro com ela foi um grande prazer.” 

“Há beleza na vida, há beleza em tudo. Vocês veem?... Há beleza na alegria, e mesmo na saudade, na tristeza, no sofrimento e até na partida, há beleza. A vida é uma beleza.”


Onde:

Nise arqueóloga dos mares # Bernardo Carneiro Horta
Aeroplano Ed.

http://casadaspalmeiras.blogspot.com.br/2012/10/frases-de-nise-da-silveira.html

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Modus operandi



Folha comprova a eficiência da nova Lei de Direito de Resposta

Os Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que irão analisar a ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a Lei de Direito de Resposta terão pela frente uma evidência claríssima: a melhoria exponencial da qualidade das informações após a aprovação da lei.
Ao aceitar o direito de resposta de pessoas atingidas, os jornais permitem que seus leitores tenham acesso a fatos verdadeiros. Mais que isso: serão mais exigentes com seus repórteres e editores, para não expor o veículo a mais direitos de resposta.
Esse filtro de qualidade é chamado de "autocensura" por Mirian Leitão. É a mesma "autocensura" praticada pelos melhores jornais do mundo.
Mais que isso, mesmo antes do primeiro Direito de Resposta ser concedido por via legal, os próprios jornais estão ajudando a criar uma nova jurisprudência, que será relevante quando começarem os julgamentos.
Ao conceder direito de resposta ao presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) o jornal Folha de São Paulo presta dois favores ao jornalismo:
1.     Permite a seus leitores acesso a uma informação fidedigna, o artigo de Coutinho.
2.     Reconhece que a manipulação das manchetes e do lide é uma forma de manipulação da notícia.
De fato, analisando o histórico do factoide constata-se que a primeira reportagem com a falsa denúncia continha as explicações do banco no pé da matéria. Mesmo sendo explicações definitivas mantiveram a manchete e o lide com a notícia falsa.
Este caso, mais o da juíza Ana Amaro – que ganhou ação contra a Globo no caso das adoções – mostra um grau de subjetivismo importante na hora de analisar os prejuízos com as notícias: não basta abrir espaço para o “outro lado” no pé da reportagem; importa analisar o efeito final da matéria sobre a opinião pública. Se a reportagem dá a versão do outro lado, mas encampa a versão falsa, a reportagem é falsa. Portanto, o julgamento tem que levar em conta o resultado final da reportagem.
Vamos analisar o caso Folha.

A história de uma barriga

O “furo” da Folha saiu no dia 1o, de novembro de 2015, em matéria assinada pelos repórteres Mário César Carvalho e Felipe Bachtold.
Segundo a reportagem, o BNDES driblou regra interna - que o proíbe de conceder empréstimos a empresa cuja falência tenha sido requeria na Justiça - e concedeu R$ 101,5 milhões de financiamento a José Carlos Bumlai, "amigo do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva".
O empréstimo foi para a empresa São Fernando Energia 1, para gerar eletricidade a partir do bagaço de cana.
Enfatiza a reportagem que "após a autorização do BNDES, os R$ 101,5 milhões foram repassados à empresa de Bumlai pelo BB e pelo BTG, "que atuaram na operação como agentes intermediários".
O BNDES alegou que a simples existência do pedido de falência não é suficiente para impedir financiamentos.
No mais relevante, a explicação do banco foi definitiva:
"No caso da São Fernando Energia, no entanto, a instituição de fomento sustenta que, por se tratar de uma operação indireta, nas quais outros bancos fizeram o repasse e assumiram o risco do crédito, caberia ao Banco do Brasil e ao BTG "proceder a análise cadastral e exame das certidões das beneficiárias finais, conforme as regras do BNDES".
Ou seja, era uma operação indireta. Portanto, a responsabilidade pela análise do crédito era dos bancos repassadores.
A reportagem ouviu o Banco do Brasil, que tinha uma explicação clara para a operação. Foi uma operação de renovação de um antigo financiamento, na qual a empresa agregou novas garantias ao Banco do Brasil. O mesmo aconteceu com o BTG.
Tratava-se, portanto, de uma operação bancária legítima que desmentia o título e o lide da matéria. Os repórteres deram corretamente o outro lado. Mas a edição e o título definiram o teor da reportagem, a impressão que ficou com a opiniõa pública.
O primeiro efeito da falsificação
No dia 5 de novembro de 2011, reportagem de Aguirre Talento, de Brasília tinha o título:
exto alternativo gerado por máquina:bra! CPI pede documentos sobre amigo de Lula,
O primeiro objetivo havia sido alcançado. Com base em uma notícia falsa, a CPI do BNDES aprovou requisição de documentos ao banvo sobre a operaç˜qao colocando mais lenha na fogueira política
A reportagem já toma como verdadeira a reportagem do dia 5, comprovando que as explicações do BNDES e do BB de nada adiantaram:
Reportagem da Folha do último dia 1º revelou que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões a Bumlai, amigo do ex-presidente Lula que se tornou um dos alvos da Operação Lava Jato
Com base na matéria falsa, foram apresentados à CPI cinco requerimentos de convocação de Bumlai.
No dia 17 de novembro de 2015, em uma reportagem de Dimmi Amora sobre o depoimento de Eike Baptista na CPI do BNDES, mais uma vez se veicula a notícia falsa, ainda que acompanhada das explicações do banco:
Folha revelou no início do mês que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai.
Era o próprio samba do crioulo doido. Apresentava-se a denúncia taxativamente e depois a explicação do BNDES mostrando taxativamente que a denúncia era falsa. Imagine-se a cabeça do leitor.
Com base na falsa denúncia, Polícia Federal e Ministério Público Federal - provavelmente as fontes da matéria inicial - entraram na parada. No dia 24 de novembro de 2015reportagem de Estelita Hass Carazzai informava que e "intimaram a presidência (do BNDES) a entregar cópias dos contratos e seus processos de aprovação realizados entre 2005 e 2012".
Antes de ter acesso aos documentos, o procurador Diogo Castor de Mattos já tinha conclusões: "As empresas ou estavam inativas ou não tinham nenhuma atividade operacional na época dos empr[estumos".
No dia 5 de novembro de 2015, sem mencionar a Folha, o Estadão endossa a denúncia.
Reportagem de Daiene Cardoso dizia que:
A usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES um empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. O requerimento aprovado não trata de quebra de sigilo das informações da operação e sim do acesso dos parlamentares aos contratos confidenciais. 
Uma usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. Além de ouvir o pecuarista, deputados querem ter acesso aos contratos do empréstimo feito pelo empresário, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Todas as matérias repetem o mesmo tratamento padronizado de apresentar Bumlai como amigo de Lula.
Todas as matérias basearam-se em uma informação intencionalmente falsa já que, desde o primeiro momento, o jornal tinha a versão correta sobre ela. Só consentiu em dirimir definitivamente o fato devido à ameaça da Lei de Direito de Resposta.
Nesse período, a notícia falsa aumentou a temperatura política, serviu de álibi para que a Polícia Federal e o Ministério Público invadissem o BNDES e lançou uma mancha falsa de suspeita sobre o banco.
O jornal retificou o erro sabendo que havia atingido seu objetivo.
Para quem analisa a cobertura diária sem os óculos da torcida política, esse episódio é apenas um em um oceano de manipulações alimentadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Quem está trazendo o jornalismo de volta aos jornais é a Lei de Direito de Resposta. Sem ela, dificilmente sairia esse desmentido ou, como ocorreu hoje no Estadão, o repórter Fausto Macedo, porta voz da Polícia Federal, ter aberto espaço para a manifestação do advogado do filho de Lula.

Onde:
http://jornalggn.com.br/noticia/folha-comprova-a-eficiencia-da-nova-lei-de-direito-de-resposta

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Os militares da democracia: os militares que disseram não

Os militares da democracia: os militares que disseram não #  de Silvio Tendler



Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, ainda buscam justiça e reconhecimento na história do país. Militares da Democracia resgata, através de depoimentos e registros de arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos, por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática.


Onde:

https://www.youtube.com/channel/UCkoPZfCNAJNxwsRlMsrr-WQ

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Nós

Nós dois (Tadeu Franco) # Tadeu Franco


Nós Dois

E nós que nem sabemos quanto nos queremos
Que nem sabemos tudo que queremos
Como é difícil o desejo de amar

Você que nem me soube quanto eu quis
Que não coube, não me viu raiz
Nascendo, crescendo nos terrenos seus

Eu da janela olhando a lua, perguntando a lua 
Onde você foi amar?

E nós que nem soubemos nos querer de vez
Estamos sós, laçados em dois nós
Um que é meu beijo o outro é o lábio seu

Não sei sair cantando sem contar você
Que eu sei cantar, mas conto com você
Que eu vou seguir, mas vou seguir você

Queria que assim sabendo se a gente se quer
Queria me rimar no seu colo mulher
Vencer a vida donde ela vier

Ganhar seu
Chegar no chegar meu
Dar de mim o homem que é seu

domingo, 22 de novembro de 2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Poesia, por que não?

Música, poesia e mulheres # Daniel Uria




por indicação da Helô

Poesia, por que não?

Márcio Tavares D'amaral

O Globo, 14/11/ 2015

Se há pergunta estúpida é para que serve a poesia. Na pergunta já está o decreto da inutilidade das coisas escritas quando não vão números no meio. Ou figuras. Poesia? Poesia numa hora dessas? Pois sim, claro. Essa é que é a hora. Quando está escuro. Porque se não temos luz para ver, e uma cegueira branca nos atordoa, é a voz do poeta que estraçalha a noite. Ela e a música.

A poesia, lá nos começos gregos, era feita para ser cantada. Talvez as exigências de métrica e ritmo tenham vindo daí. Hoje não precisamos mais deles. A emoção inteligente de que a poesia brota não vem em versos alexandrinos ou em decassílabos heroicos. Vem como a respiração: rápida de susto, lenta de cautela, profunda de medo, leve de alegria. E cheia de som. Boa de cantar. Mnemosine, a Memória, mãe das musas, não discriminava entre a poesia e a música, suas filhas. Punha-as enrodilhadas nessa alta realização da nossa cultura que é a poesia que se canta, a música que se diz.

Então, é assim: quando faz escuro, é preciso cantar. E acordar a cidade. Quando Roma foi atacada no século IV a. C., os gansos do monte Capitolino grasnaram até que os romanos acordassem e pusessem os invasores para correr. Nós somos os gansos do Capitólio. E tem muita gente que precisa ser posta para correr. Os que não amam, e não lhes basta não amar, o que seria um sofrimento só seu: querem contaminar o mundo com sua incapacidade de ternura. São perigosos. Inimigos da vida. Grasnar contra eles é como rir na cara do desamor. A incapacidade de amar é séria. Cheia de si. Não suporta o riso. Toma a alegria por sarcasmo. E se desconcerta. Desconcertemos então os ladrões do sol, os soturnos da vida.

Há esses, que não sabem amar e fazem disso uma alastrante epidemia, a indiferença. E há os outros, que não amam com objeto direto. Não amam as mulheres. Ou os homens. Ou as crianças. Ou os negros. Ou as pessoas com deficiências. Ou os homossexuais. Os gordos. Os velhos. Ou os palestinos. Ou os judeus. Ou os curdos. Os africanos. Os nordestinos. Os católicos, protestantes, ortodoxos, de novo os judeus, os umbandistas, candomblecistas, budistas, hinduístas, xintoístas, animistas — todos os que teimam em ver na vida uma dimensão invisível aos olhos da cara. Esses desamorosos são os mais temíveis. Tendo objeto, têm projeto. São destruidores. Estupradores da esperança. Grasnar contra eles em coros ensurdecedores, entupir as ruas com os nossos gansos sonoros é uma estratégia de sobrevivência. Para o mundo. Para a vida.

A grande astúcia da poesia é parecer que nem está aí. Ela nos toma quando habita a memória. Quando aparece por fragmentos nas conversas, e muda o rumo da prosa. A poesia é insidiosa. Com jeito de traste inútil, que não serve para coisas sérias, ataca na hora em que parece que a rotina morna a aboliu. Quando estamos, como escreveu Drummond, “sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo”. Para ele a salvação por duas horas foi o cinema. Passava Carlitos. Mas podia ter aberto o livro em que ele mesmo contou da flor que rompeu o asfalto. “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Pronto. A pele se eriça, os olhos se embargam, o corpo fica meio assim. A vida foi salva por um verso. O Anjo da poesia passou. Ninguém deu por isso, porque ele é invisível aos que andam apressados. Mas passou. E depois o ar ficou limpo como quando acaba a chuva. E a vida recuperou um ritmo generoso.

As mães, os pais, cantavam pequenos poemas para os filhos adormecerem. Não sei se ainda cantam. Mas as crianças dormiam sorrindo. Cheias de estrelas. As pessoas que trabalham nos campos cantam para ritmar a colheita e dar sentido ao passar das horas. As palavras cantadas vêm da memória antiga, não precisam mais ser pensadas. Seus sentidos já fazem parte dos corpos. É verdade, canta-se também quando se vai para a guerra. É má poesia, e só serve para entreter o medo. Esse é um dos casos em que o silêncio soaria melhor. Deixar o medo sem som. Talvez seja desse silêncio que a consciência refletida precise para objetar ao mal. E depois dizer poemas cheios de brandura. Como o de Adélia Prado: “... existe um bem, existe. E tudo é bom...”

Que a poesia não servisse para nada seria o sonho dos donos do mundo, dos cogumelos que contam seus metais e explodem sobre cidades. A malícia dos poetas é deixá-los pensar que é assim. Quando acordarem, um dia, a poesia estará nos top trends das redes, nos outdoors, interrompendo a programação das rádios e televisões. Revolução é isso. E que revolução! Essa em que a beleza, irmã gêmea da verdade, abolirá a noite, que doravante servirá apenas para dormir e sonhar. E decretará o sol.


Onde:

http://oglobo.globo.com/cultura/poesia-por-que-nao-18045657

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