quinta-feira, 19 de abril de 2018

Fake justice, fake press, fake democracy e a verdade sobre o muquifo

Fotos: Frente Povo Sem Medo, perícia da PF e promocionais da OAS

O “luxo” do apartamento atribuído a Lula foi baseado em fotos promocionais da OAS para vender o prédio, que está encalhado. Segundo um militante do MTST que esteve no apartamento, há um elevador que abre diretamente no décimo sexto andar, mas hoje não existe um elevador interno ligando o décimo sexto ao décimo oitavo andares. Porém, o laudo da PF (ver no pé do post) fala num elevador interno, para servir aos três andares, que teria custado pouco mais de R$ 104 mil.
O prédio, no entanto, está no osso: sem nenhum acabamento, nem portas, janelas ou elevadores. É nele que a família Lula da Silva deverá ocupar a cobertura triplex, com vista para o mar. Apesar dos imponentes 19 andares e de um projeto que prevê duas torres, com apartamentos entre 80 e 240 metros quadrados, o Mar Cantábrico é conhecido na vizinhança como “o prédio abandonado”. Texto de O Globo, de 10.03.2010, atualizado em 01.11.2011, informando sobre a existência do triplex, citado na sentença por Moro
O Edifício Solaris, onde a família Lula da Silva tem apartamento, ficou pronto em dezembro do ano passado. A reforma do apartamento 164 é tocada por seu filho Lulinha, segundo funcionários do edifício, e foi vistoriada por dona Marisa o tempo todo. Ela mesmo providenciou a decoração do local, visitado por Lula apenas três vezes. A família Lula construiu um elevador privativo para levá-los do 16º ao 18º, que no projeto original tinha apenas escadas internas. Lulinha usou também parte do quarto de empregada e um canto da sala para fazer um escritório. Mandou também colocar porcelanato em tudo. A cobertura com piscina também recebeu uma boa área gourmet. Texto de O Globo, de 07.12.2014
Será que alguém de bom senso nesse país imagina que eu ia pedir um elevador num apartamento que não era meu e deixar de pedir no que eu moro há 20 anos? Lula, em depoimento a Sérgio Moro, depois de mostrar escada em caracol existente em seu apartamento em São Bernardo, contestando que tivesse pedido um elevador no triplex atribuído a ele
Fake Press, Fake Justice, Fake Democracy
por Marcelo Zero
O episódio do “muquiplex”, cuja verdade foi revelada pelo MTST, mostra que o Brasil não tem imprensa de verdade. Tem uma Fake Press.
Não se trata de uma imprensa que se equivoca eventualmente ou que produz “fake news” ocasionalmente. Não. A imprensa oligárquica brasileira, quando se trata de cobrir os acontecimentos que envolvem o PT e a esquerda de um modo geral, é sistematicamente fake. Mentirosa.
Claro está que toda imprensa tem lado, tem ideologia, tem posições políticas.
Porém, em países democráticos há maior diversidade de posições, devido às leis democráticas de regulação da mídia, e certo comprometimento com a produção e distribuição de informações objetivas, equilibradas e fidedignas.
Há algum respeito à verdade, até mesmo para que a posição política defendida tenha legitimidade e se permita o debate democrático.
Entretanto, no Brasil do Golpe, a imprensa oligárquica, dominada inteiramente por meia dúzia de famiglias, perdeu completamente a compostura e a vergonha e dedica-se, diuturnamente, a mentir e a distorcer com grosseira impunidade.
No caso do “muquiplex”, por exemplo, nenhum órgão da nossa fake press se preocupou em investigar se teria havido de fato a tal reforma de R$ 1,2 milhão, como tinha alegado a acusação no processo contra Lula.
A defesa requereu uma inspeção, mas foi negada pelo juiz.
Ninguém questionou a negativa de pedido tão racional e singelo.
Pior ainda, produziram imagens fictícias da “luxuosa reforma” e as difundiram como verdades incontestáveis.
Mas o vergonhoso episódio do “muquiflex”, que foi vital para condenar um inocente, é apenas um exemplo.
Tudo, ou quase tudo, que se divulga sobre Lula, o PT e a esquerda é fake.
No caso do fake impeachment, toda a imprensa oligárquica embarcou na lorota das “pedaladas fiscais”, operações contábeis que já tinham sido realizadas, sem quaisquer questionamentos, por governos anteriores.
Isso era de conhecimento público, mas a fake press, em vez de investigar e falar a verdade sobre o fenômeno, preferiu reproduzir a mentira grosseira de que as pedaladas eram um “grave crime” e que tinham “quebrado a economia”.
O mesmo padrão propositalmente fake de notícias configurou-se na cobertura da Lava Jato, mediante uma articulação com fake delações, fake power points, fake evidences e verdadeiras convicções partidárias.
Enquanto a presidenta honesta foi deposta num fake impeachment e o ex-presidente inocente foi condenado numa fake conviction, os políticos relevantes da direita foram preservados, mesmo com provas materiais robustas, tornando inteiramente fake o lema de “a lei é para todos”.
O fato de Aécio ter se tornado réu recentemente não muda em nada essa constatação, pois Aécio é um político moribundo, hoje sem a menor relevância.
Ademais, contra ele há provas materiais concretas e irrefutáveis. Já Lula é o maior político brasileiro vivo e o maior líder popular da nossa História.
Contra ele, há apenas esse vergonhoso fake triplex, que nunca foi dele.
Trata-se do primeiro caso na História em que alguém é condenado com base em propriedade “metafísica” de um bem.
Inventou-se uma jabuticaba jurídica para condená-lo. Lula seria o “proprietário platônico” do “muquiflex”. Nada mais fake.
Em qualquer país civilizado, Lula teria sido absolvido liminarmente na primeira instância, tal a fragilidade das acusações e as arbitrariedades cometidas contra ele.
Em qualquer país civilizado, Lula não precisaria de segunda instância ou terceira instância. A questão principal não está no processo, nas formalidades.
A questão essencial no caso de Lula é a ausência de justiça e a evidente vontade política de condená-lo para não atrapalhar a agenda regressiva e antinacional do Golpe.
A questão aqui é que, mesmo se Lula tivesse direito a 50 instâncias, em todas elas o veredito de culpado já estaria pré-determinado.
A questão central é que, nesse caso, nós temos apenas uma fake justice.
Se a nossa fake press fosse séria e tivesse algum compromisso com a verdade, provavelmente eles investigariam as relações entre certas operações, como a Lava Jato, e as procuradorias norte-americanas.
Procurariam saber porque os termos do acordo bilateral em matéria penal com os EUA não são respeitados. Indagariam porque os termos das multas pagas pela Petrobras aos acionistas norte-americanos não passaram pelo Senado Federal, como exige a Constituição Federal.
Questionariam a razão pela qual a Lava Jato provocou prejuízos de mais de 2% anuais do PIB, nos últimos dois anos, e porque setores estratégicos inteiros da economia brasileira foram destruídos.
Para a fake press, nada disso importa. O relevante é que Lula foi preso e, com isso, poderemos ter as fake elections com que a nossa direita sonha.
Ter uma fake press e uma fake justice é terrível. Mas o pior é que tudo isso conduz a uma fake democracy.
Uma democracia composta por formalidades vazias de direitos e de verdades.
A informação é uma espécie de matéria-prima da democracia. É por ela que se produz o debate democrático.
Contudo, como diria Karl Popper, um autor conservador, a informação, a opinião, a tese precisam ser falseáveis ou refutáveis para terem validade.
Ou seja, elas têm de ser capazes de serem submetidas a provas, a questionamentos.
É assim que a ciência evolui. Segundo ele, as “sociedades abertas”, as democracias, também devem funcionar dessa forma, permitindo sempre os questionamentos e as refutações.
Entretanto, quando há uma fake press e uma fake justice não se produzem informações, teses, hipóteses ou juízos refutáveis.
Nessas circunstâncias, tudo fica congelado e embaçado no nevoeiro autorreferenciado das mentiras irrefutáveis e das sentenças irrecorríveis.
O Golpe está construindo um país fake. Sem verdades, sem direitos, sem justiça, sem soberania e sem futuro.
Aprisionaram a verdade numa cela em Curitiba. Ela está incomunicável.
PS do Viomundo: Abaixo, o laudo da Polícia Federal no qual o juiz Sérgio Moro se baseou para condenar Lula. Há estimativa dos valores da reforma, as mudanças que teriam sido realizadas e fotos do que seria o elevador interno.




Imagens extraídas da ocupação do muquifo pelo MTST em 17/04/2018



Como a Globo editou o "triplex" em 2016, sugerindo um imóvel muito melhor e maior do que é. Jornalismo pelas frestas.

Onde:

https://www.viomundo.com.br/denuncias/marcelo-zero-o-luxo-do-triplex-atribuido-a-lula-e-a-realidade-paralela-construida-pelos-baroes-da-midia.html

https://www.brasil247.com/pt/colunistas/marcelozero/351717/Aprisionaram-a-verdade-numa-cela-em-Curitiba-Ela-está-incomunicável.htm

domingo, 8 de abril de 2018

Condenação sem provas e fora da lei



Relembre - É provável, ouvi o boato, não comprou mas é dono: as pérolas da Lava Jato no caso triplex

Por Cíntia Alves

Publicada em 20/09/2016
Jornal GGN - Quando o assunto é o apartamento no Guarujá - que, na visão de procuradores da República, a OAS reformou para entregar a Lula como propina disfarçada - até fofoca entre montador de armário e projetista ligados no noticiário tem valor para a Lava Jato. A constatação é feita a partir da análise de depoimentos gravados em vídeo pela própria força-tarefa e divulgados nesta semana na página do Estadão no Youtube.
GGN acompanhou o interrogatório de sete do total de 11 testemunhas do caso triplex, nesta terça (20), e verificou que a Lava Jato não conseguiu confirmar que o imóvel 164-A do Condomínio Solaris é propriedade de Lula. No máximo, o que os investigadores arrancaram foram frases como "provavelmente sim", "tinha esse boato", "li nos jornais", "é possível" ou até mesmo a pérola "não comprou mas é o dono".
Como no papel o triplex está em nome da OAS Empreendimentos, a Lava Jato busca provas que sustentem a seguinte teoria: se a empresa onde Léo Pinheiro tem sociedade investiu quase R$ 1 milhão em melhorias num imóvel que já custava algo em torno de R$ 1,8 milhão, é porque tinha um bom cliente em vista ou, melhor ainda, um proprietário oculto: Lula.
Essa tese fica transparente na entrevista da Lava Jato com o arquiteto da OAS Roberto Moreira Ferreira. Em seu depoimento, ele conta à força-tarefa que acompanhou duas visitas de Marisa Letícia, esposa de Lula, ao apartamento no Guarujá.
A primeira se deu em fevereiro de 2014, quando Léo Pinheiro foi "mostrar a unidade" à ex-primeira-dama e seu marido. Segundo o arquiteto, eles ficaram "olhando o apartamento, conheceram cada ambiente, ficaram na varanda falando amenidades", enquanto técnicos da OAS ficaram à distância para preservar o casal. Os investigadores perguntaram se Lula tinha apartamento naquele prédio, ao que Ferreira respondeu: "Não que eu tivesse conhecimento." 
"Depois dessa visita", emendou o arquiteto, "me chamaram para fazer um projeto para deixar o apartamento mais bem-acabado", o que incluia a colocação de piso, alguns consertos, a construção de uma escada entre os pavimentos, instalação de armários, churrasqueira e um elevador privativo, entre outras melhorias.
Ferreira disse que a OAS tem por "hábito" fazer apartamentos modelos e colocá-los para venda com tudo o que tem dentro. Mas que não acompanhou nenhum projeto com tantos detalhes como esse triplex do Guarujá.
Embora tenha dito que ficou "reticente" com alguns pedidos - como o elevador privativo que foi orçado em cerca de R$ 70 mil - ele disse que o mercado na região estava muito ruim e que as melhorias eram uma maneira de atrair clientes.
Em agosto de 2014, Ferreira esteve no local pela segunda vez. Marisa Letícia foi acompanhada de um de seus filhos. Lula não participou. Léo Pinheiro voltou a mostrar todos os ambientes, agora com armários, alguns eletrodomésticos instalados. Segundo o arquiteto, Marisa se limitou a dizer que a vista era "bonita". "Como não fez nenhum comentário ruim, achei que ela tinha gostado da obra."
Aqui entra a Lava Jato com a tese de que, se a planta original do apartamento foi modificada, é porque existe um proprietário. Afinal, segundo perguntaram a Ferreira, o "costume" no mercado é que a personalização de apartamentos só ocorra mediante a compra.
Assista a partir dos 13 minutos:
Lava Jato:  Então, de acordo com os usos e costumes da empresa e do mercado, uma pessoa poderia falar que esse apartamento é do ex-presidente Lula [já que a planta foi alterada e Marisa fez duas visitas para verificar a obra]?
Arquiteto: Provavelmente sim, não posso afirmar com certeza, ele não comprou.
Lava Jato: Não, estou falando de acordo com usos e costumes...
Arquiteto: Provavelmente sim.
Curiosamente, o depoimento de Ferreira foi cortado no exato momento em que o arquiteto dizia que na unidade 164-A do Solaris, a ideia também era de servir como apartamento modelo. Em outros vídeos, o investigador declara a entrevista encerrada antes de terminar a gravação.
Outro vídeo que chama atenção é de Armando Dagli Magri, engenheiro sócio da empresa Talento, responsável por projetar e executar as melhorias que a OAS decidiu promover no triplex.
No vídeo abaixo, Magri contou que acompanhou a segunda visita de Marisa Letícia ao apartamento, e disse que sua impressão foi de que a esposa de Lula estava entrando no imóvel pela primeira vez.
Lava Jato: Ficou parecendo que o apartamento era para ela?
Engenheiro: Sinceramente não fiquei [com essa impressão] porque quando a gente tem reunião com proprietário, o proprietário já chega falando gosto disso, gosto daquilo. Ela se limitou a dizer que gostava muito daquela praia, ficou falando que gostava da vista, lembrando da infância do filho, que o pai dele gostava da praia.
Magri também reafirmou que, em todos os contratos que assinou sobre aquele apartamento, a propriedade constava em nome da OAS Empreendimentos. Quando ele encerrou sua parte na obra, disse que ouviu de Igor Pontes, engenheiro da empreiteira, que “agora tinha que correr com a Kitchens”, que seria a responsável por fazer o projeto dos armários de cozinha.
A Lava Jato foi atrás de Rodrigo Garcia, um ex-funcionário da Kitchens que acompanhou o pedido para projetar a cozinha. Ele disse às autoridades que sempre tratou do assunto com funcionárias da OAS e que, em seu entendimento, o imóvel pertencia à empresa. Após confirmar algumas visitas ao empreendimento, foi questionado sobre a propriedade.
Acompanhe a partir dos 21’30’’.
Lava Jato: Em algum momento alguém falou que aquele apartamento era do ex-presidente?

Ex-funcionário da Kitchens: O montador me questionou isso.

Lava Jato: Qual montador?

Ex-funcionário: Não sei dizer. Eu o vi primeira e única vez lá na montagem. Ele me fez a pergunta e não dei a menor bola. Para mim, aquele apartamento era de um diretor da OAS. Ouvi o boato desse montador e ficou ali. Não dei a menor importância para esse boato... para essa fala.

Quem também ouviu falar que o apartamento é de Lula foi o dono de uma empresa de transportes chamado Sergio Antônio dos Santos Santiago, responsável pela entrega dos metais supostamente utilizados no elevador privativo do triplex. Ele indicou que só ficou sabendo que era do ex-presidente após ser intimado para depor na Lava Jato - ou seja, quando a imprensa toda já disseminava a versão dos procuradores.
Acompanhe a partir dos 4’25’’:
Lava Jato: O senhor teve contato com funcionário que executou o serviço?
Dono da transportadora: Até hoje eu tenho, alguns deles estão comigo ainda. Até perguntei, quando veio a informação – acho que é do Lula esse apartamento, né? – aí perguntei pro pessoal se estiveram no apartamento do presidente. Brinquei com eles. Eles nem sabiam para casa de quem era [a entrega] porque, a princípio, foi a empresa [Talento] que contratou para fazer o orçamento. É uma situação engraçada.

Lava Jato: Isso aconteceu depois que saiu...

Dono: Foi quando me chamaram para depor lá, aí é que o cara falou. Eu até brinquei com o pessoal. 'Vocês foram no apartamento e nem sabia' [risos].

LULA, O POTENCIAL CLIENTE
Um dos funcionários da OAS apontado por vários entrevistados como parte do grupo que liderava a reforma no triplex é o engenheiro Igor Ramos Pontes. Este disse à força-tarefa que seu cliente no caso do apartamento no Guarujá era a OAS Incorporadora, mas colocou Lula como potencial comprador da unidade.
Acompanhe a partir dos 23’30’’:
Lava Jato: Quem pediu esse projeto específico foi seu chefe, Roberto Moreira. Ele informou para quem?
Engenheiro: Havia discussão de que o ex-presidente era, na prática, um possível comprador, finalizaria a questão dele com a Bacoop com a compra dessa unidade, e que para facilitar a venda, fariam como se fosse apartamento modelo, com algumas modificações. Para ver se incentivava.
Lava Jato: Então fizeram as mudanças para facilitar a venda ao ex-presidente?
Engenheiro: É possível que sim, não sei afirmar.
Lava Jato: Quando Marisa esteve pela segunda vez, ela se mostrou satisfeita?
Engenheiro: Ela não verbalizou.
Pontes disse que orientou sua equipe técnica a não disseminar boatos sobre a propriedade de Lula após a mídia começar a sondar o apartamento. Aos 6'20'', comentou:
Engenheiro: Eu não sei de quem é o apartamento, está em nome da OAS, então é da OAS. E toda demanda vinha da OAS. Em outras unidades, a gente recebia o contato direto do cliente. Nesse apartamento especificamente, a unidade estava em nome da OAS Empreendimentos. Não tem cliente. Não tem morador, nunca morou ninguém lá. Toda a demanda que vinha era da OAS. Mas existem especulações, perguntavam se era do ex-presidente Lula ou não. Eu dizia [à minha equipe] que não temos nenhuma informação sobre isso. E, de fato, não temos.
Outros depoentes reafirmaram que o apartamento está em nome da OAS, como Alberto Ratola de Azevedo, cuja empresa de engenharia foi terceirizada pela Talento para fazer a estrutura metálica para instalação do elevador privativo. "A contratante final foi a OAS”, disse, indicando que o serviço custou cerca de R$ 4 mil, pagos pela Talento. “Ouvi dizer que ia ser o ex-presidente da República. Ouvi recentemente. Em contato com a Talento ou na execução da obra, não ouvi nada", respondeu, quando questionado sobre Lula.
A engenheira Mariuza Aparecida Marques contou à Lava Jato que esteve presente na segunda visita de Marisa ao triplex, pois seu trabalho era fiscalizar o andamento da obra da Talento.
Ao final da entrevista, o membro da Lava Jato disse que ela estava muito “reticente” durante o interrogatório e resolveu perguntar diretamente de quem era o apartamento. Ela respondeu que, segundo as informações que possuía, o apartamento era da OAS. “Era para ser vendido para qualquer cliente”, comentou.

Onde:
https://jornalggn.com.br/noticia/relembre-e-provavel-ouvi-o-boato-nao-comprou-mas-e-dono-as-perolas-da-lava-jato-no-caso-triplex

sábado, 7 de abril de 2018

O discurso histórico de Lula



Brasil de Fato | São Paulo (SP)
Na tarde deste sábado (7), em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou seu último discurso antes de entregar-se à Policia Federal para cumprir o mandado de prisão emitido pelo juiz de primeira instância Sérgio Moro nesta semana. A milhares de pessoas que o acompanhavam desde sexta-feira em vigília, Lula, emocionado, relembrou o início de sua vida política no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e enviou uma mensagem de motivação para os que acreditam em seu projeto político.
Confira, abaixo, a transcrição do discurso histórico:

Em 1979, esse sindicato fez uma das greves mais extraordinárias. E nós conseguimos fazer um acordo com a indústria automobilística que foi talvez o melhor. E eu tinha uma comissão de Fábrica com 300 trabalhadores. E o acordo era bom. E eu resolvi levar o acordo para Assembleia. E resolvi pedir pra comissão de fábrica ir mais cedo para conversar com a peãozada. E eu fazia assembleia de manhã pra evitar que o pessoal bebesse um pouquinho a tarde, porque quando a gente bebe um pouquinho a gente fica mais ousado. 

Mesmo assim não evitava porque o cara levava litro de conhaque dentro da mala e quando eu passava tomava uma ‘dosinha’ para a garganta ficar melhor - coisa que não aconteceu hoje. Pois bem, nós começamos a colocar o acordo em votação e 100 mil pessoas no Estádio da Vila Euclides não aceitavam o acordo. Era o melhor possível. A gente não perdia dia de férias, não perdia décimo terceiro e tinha quinze por cento de aumento. Mas a peãozada tava tão radicalizada que queria 83 ou nada. E nós conseguimos. E passamos um ano sendo chamado de pelego pelos trabalhadores. A gente, Guilherme, ia na porta de fábrica… [Lula começa a fazer saudações diversas]. Então companheiros e companheiras, nós conseguimos… os trabalhadores não aprovaram o acordo… [interrupção para atendimento médico à pessoa na multidão].   Eu ia dizendo pra vocês que nós não conseguimos aprovar a proposta que eu considerava boa e o pessoal então passou a desrespeitar a diretoria do Sindicato. Eu ia na porta da fábrica ninguém parava. E a imprensa escrevia: “Lula fala para os ouvidos moucos dos trabalhadores”. Nós levamos um ano para recuperar o nosso prestígio na categoria. E eu fiquei ṕensando com ar de vingança: “Os trabalhadores pensam que eles podem fazer 100 dias de greve, 400 dias de greve, que eles vão até o fim. Pois eu vou testá-los em 1980”. E fizemos a maior greve da nossa história. A maior greve. 41 dias de greve. Com 17 dias de greve fui preso e os trabalhadores começaram depois de alguns dias a furar greve e nós então - eu sei que Tuma, eu sei que o doutor Almir eu sei que Teotônio Vilela ia dentro da cadeia e falava assim pra mim: “Ô Lula cê precisa acabar com a greve, cê precisa dar um conselho para acabar com a greve”. E eu dizia: “Eu não vou acabar com a greve. Os trabalhadores vão decidir por conta própria”.
O dado concreto é que ninguém aguentou 41 dias porque na prática o companheiro tinha que pagar leite, tinha que pagar a conta de luz, tinha que pagar gás, a mulher começou a cobrar o dinheiro do pão, ele então começou a sofrer pressão e não aguentou. Mas é engraçado porque na derrota a gente ganhou muito mais sem ganhar economicamente do que quando a gente ganhou economicante. Significa que não é dinheiro que resolve o problema de uma greve, não é 5%, não é 10%, é o que está embutido de teoria política de conhecimento político e de tese política numa greve.
Agora, nós estamos quase que na mesma situação. Quase que na mesma situação. Eu tô sendo processado e eu tenho dito claramente: “O processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu”. E ele sabe que o Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato quando fez o inquérito mentiu que era meu, o Ministério Público quando fez a acusação mentiu dizendo que era meu e eu pensei que o Moro ia resolver e ele mentiu dizendo que era meu e me condenou a nove anos de cadeia. É por isso que eu sou um cidadão indignado, porque eu já fiz muita coisa com meus 72 anos. Mas eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão. Deram a primazia dos bandidos fazer um pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a primazia dos bandidos chamarem a gente de petralha. Deram a primazia de criar quase um clima de guerra negando a política nesse país. E eu digo todo dia: nenhum deles, nenhum deles, tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade, da inocência que eu durmo. Nenhum deles. [aplausos]. 
Eu não estou acima da justiça. Se eu não acreditasse na justiça eu não tinha feito partido político. Eu tinha proposto uma revolução nesse país. Mas eu acredito na justiça, numa justiça justa, numa justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do crimeo que eu não posso admitir é um procurador que fez um powerpoint e foi pra televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, o Lula é o chefe, e portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador, “eu não preciso de provas, eu tenho convicção”. Eu quero que ele guarde a convicção deles para os comparsas deles, para os asseclas deles e não para mim. Certamente um ladrão não estaria exigindo prova. Estaria de rabo preso com a boca fechada torcendo para a imprensa não falar o nome dele. Eu tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revista me atacando. Eu tenho mais de milhares de páginas de jornais e materias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando, eu tenho a rádio do interior me atacando. E o que eles não se dão conta é que quanto mais eles me atacam mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juízes do TRF-4 que eles fossem prum debate na universidade que ele quiser, no curso que ele quiser, provar qual é o crime que eu cometi nesse país. E eu as vezes tenho a impressão e tenho a impressão porque eu sou um construtor de sonhos. Eu há muito tempo atrás sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia, envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de empregos nesse país, eu sonhei, eu sonhei que era possível um metalúrgico, sem diploma universitário, cuidar mais da educação que os diplomados e concursados que governaram esse país e cuidaram da educação. Eu sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil levando leite feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocá-los nas melhores universidades desse país para que a gente não tenha juíz e procuradores só da elite, daqui a pouco vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela de Heliopólis, nascidos em Itaquera, nascidos na periferia. Nós vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST, da CUT formados. 
Esse crime eu cometi.
Eu cometi esse crime que eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria. Se esse é o crime que eu cometi eu quero dizer que vou continuar sendo criminoso nesse país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito mais. 
[Povo começa a gritar “Lula, guerreiro do povo brasileiros]
Companheiros e companheiras, eu em 1990, em 1986 eu fui o deputado constituinte mais votado na história do país. E nós, ficamos descobrindo, que dentro do PT, Manuela, companheiros, o Ivan era do PT na época, havia uma desconfiança que só tinha poder no PT quem tinha mandato.. Quem não tivesse mandato era tido… [começa a fazer saudações]. Então companheiros, quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era deputado, Manoela e Guilherme sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado. Porque eu queria provar ao PT que ia continuar sendo a figura mais importante do PT sem ter mandato porque se alguém quiser ganhar de mim no PT só tem um jeito: é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu, porque se não gostar não vai ganhar. Pois bem: nós agora estamos num trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa e eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Eu tenho certeza. Essa gente eu acho que não tem filho, não tem alma e não tem noção do que sente uma mãe ou um pai quando vê um filho massacrado, quando vê um filho sendo atacado. Eu então, companheiros, resolvi levantar a cabeça. Não pense que eu sou contra a Lava Jato não. A Lava Jato, se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo que roubou e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós a vida inteira dizíamos: “Só prende pobre, não prende rico”. Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero. Agora qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento, subordinado à imprensa. Porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem da pessoas e depois os juízes vão julgar e vão dizer “eu não posso ir contra a opinião pública tá pedindo pra caçar”. Quem quiser votar com base na opinião pública largue a toga e vá ser candidato a deputado, escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga ela é o emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo, aliás eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos EUA termina a votação e você não sabe em quem o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de pressão.
Imagina um cara sendo acusado de suícidio e não tenha sido ele o assassino. O que a família do morto quer? Que ele seja morto, que ele seja condenado. Então o juíz tem que ter, diferentemente de nós, a cabeça mais fria, mais responsabilidade de fazer a acusação ou de condenar. O Ministério Público é uma instituição muito forte. Por isso esses meninos que entram muito novo fazem um curso direito e depois faz três anos de concurso porque o pai pode pagar, esses meninos precisavam conhecer um pouco da vida, um pouco de política para fazer o que eles fazem na sociedade brasileira. Tem uma coisa chamada responsabilidade. E não pense que quando eu falo assim eu sou contra. Eu fui presidente e indiquei quatro procuradores e fiz discurso em todas as posses e eu dizia: “Quanto mais forte for a instituição mais responsável os seus membros tem que ser”. Você não pode condenar a pessoa pela imprensa para depois julgá-la. Vocês estão lembrados de que quando eu fui prestar depoimento lá em Curitiba, eu disse para o Moro: “Você não tem condições de me absolver porque a globo tá exigindo que você me condene e você vai me condenar.
 Pois bem, eu acho que tanto o TRF-4, quanto o Moro, a Lava Jato e a Globo, eles têm um sonho de consumo. O sonho de consumo é que primeiro, o Golpe, não terminou com a Dilma. O golpe só vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula não possa ser candidato a presidência da república em 2018. Não é que eu não vou ser, eles não querem que eu participe porque existe a possibilidade de cada um se eleger, eles não querem o Lula de volta porque pobre na cabeça deles não ṕode ter direito. Não pode comer carne de primeira. Pobre não pode andar de avião. Pobre não pode fazer universidade. Pobre nasceu, segundo a lógica deles, para comer e ter coisas de segunda categoria. 
Então, companheiros e companheiras, o outro sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Ah, eu fico imaginando o tesão da Veja colocando a capa comigo preso. Eu fico imaginando o tesão da Globo colocando a minha fotografia preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos.               

“Eles decretaram a minha prisão. E deixa eu contar uma coisa pra vocês: eu vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo que acontece neste país acontece por minha causa. Eu já fui condenado a 3 anos de cadeia porque um juiz de Manaus entendeu que eu não preciso de arma, eu tenho uma língua ferina, então precisa me calar, porque se não me calar, ele vai continuar falando frases como eu falei, t´a chegando a hora da onça beber água, e os camponeses mataram um fazendeiro e eles achavam que era a senha.

Eles já tentaram me prender por obstrução de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva, que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari já tá preso há três anos. O Marcelo Odebrecht gastou R$ 400 milhões e não teve habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão. Mas vou lá com a seguinte crença: eles vão descobrir pela primeira vez o que eu tenho dito todo dia. Eles não sabem que o problema deste país não chama-se Lula, o problema deste país chama-se vocês, a consciência do povo, o partido dos trabalhadores, o PCdoB, o MST, o MTST, eles sabem que tem muita gente. E aquilo que a nossa pastora disse, e eu tenho dito em todo discurso, não adianta tentar de me impedir de andar por este país, porque tem milhões e milhões de boulos, de manuelas, de dilmas rousseffs neste país para andar por mim. Não adianta tentar acabar com as minhas idéias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las. Não adianta parar o meu sonho, porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês e pelos sonhos de vocês. Não adianta achar que tudo vai parar o dia que o Lula tiver um enfarte, é bobagem, porque o meu coração baterá pelos corações de vocês, e são milhões de corações. Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não sou um ser humano, sou uma idéia, uma idéia misturada com a idéia de vocês, e eu tenho certeza que companheiros como os sem-terra, o MTST, os companheiros da CUT e do movimento sindical sabem, e esta é uma prova, esta é uma prova, eu vou cumprir o mandado e vocês vão ter de se transformar, cada um de vocês, vocês não vão se chamar chiquinho, zezinho, joãozinho, albertinho… Todos vocês, daqui pra frente, vão virar Lula e vão andar por este país fazendo o que você tem que fazer, e é todo dia! Todo dia! Eles tem de saber que a morte de um combatente não para a revolução. Eles tem de saber. Eles tem de saber que nós vamos fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm de saber que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes que eu, e queimar os pneus que vocês tanto queimam, fazer as passeatas, as ocupações no campo e na cidade; parecia difícil a ocupação de São Bernardo, e amanhã vocês vão receber a notícia que vocês ganharam o terreno que vocês invadiram.
Companheiros, eu tive chance, agora, eu estava no Uruguai, entre Livramento e Vera, e as pessoas diziam assim, ô, Lula, você finge que vai comprar um “uisquizinho”, e você vai para o Uruguai com o Pepe Mujica e vai embora e não volta mais, pede asilo político. Você pode ir na embaixada da Bolívia, do Uruguai, da Rússia, e de lá você fica falando… Eu não tenho mais idade. Minha idade é de enfrentá-los com olho no olho e eu vou enfrentá-los aceitando cumprir o mandado. Eu quero saber quantos dias eles vão pensar que tão me prendendo e quantos mais dias eles me deixarem lá mais lulas vão nascer neste país e mais gente vai querer brigar neste país, porque numa democracia, não tem limite, não tem hora para a gente brigar. Eu falei para os meus companheiros: se dependesse da minha vontade eu não ia, mas eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que o lula tá foragido, que o lula tá escondido, e não! Eu não to escondido, eu vou lá na barba deles pra eles saberem que eu não tenho medo, que eu não vou correr, e para eles saberem que eu vou provar minha inocência. Eles têm de saber isso. E façam o que quiserem. Façam o que quiserem. Eu vou pegar uma frase que eu peguei em 1982 de uma menina de 10 anos em catanduva, e essa frase não tem autor. Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais poderão deter a chegada da primavera. E a nossa luta é em busca da primavera. Eles tem de saber que nós queremos mais casa, mais escola, nós queremos menos mortalidade, nós não queremos repetir a barbaridade que fizeram com a marielle no rio de janeiro. Não queremos repetir a barbaridade que se faz comm meninos negros neste país. Não queremos mais a mortalidade por desnutrição neste país. Não queremos mais que um jovem não tenha esperança de entrar numa universidade, porque este país é tão cretino, que foi o ultimo país do mundo a ter uma universidade. O último! Todos os países mais pobres tiveram, porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse. E falavam que custava muito; é de se perguntar quanto custou não fazer há 50 anos atrás.
Eu quero que vocês saibam que eu tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o único presidente da república sem ter um diploma universitário, mas sou o presidente da república que mais fiz universidade na história deste país para mostrar para essa gente que não confunda inteligência com a quantidade de anos na escolaridade, isso não e inteligência, é conhecimento. Inteligência é quando você tem lado, inteligência é quando você não tem medo de discutir com os companheiros aquilo que é prioridade, e a prioridade é garantir que este país volte a ter cidadania. Não vão vender a petrobras! Vamos fazer uma nova constituinte! Vamo revogar a lei do petróleo que eles tão fazendo! Não vamos deixar vender o BNDES, não vamos deixar vender a Caixa, não vamos deixar destruir o Banco do Brasil! E vamos fortalecer a agricultura familiar, que é responsável por 70% do alimento que nós comemos neste país.
E com essa crença, companheiros, de cabeça erguida, como eu to falando com vocês, que eu quero chegar lá e dizer ao delegado: estou à disposição. E a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo. Por isso companheiros, eu não tenho lugar no meu coração pra todo mundo, mas eu quero que vocês saibam que se tem uma coisa que eu aprendi a gostar neste mundo é da minha relação com o povo. Quando eu pego na mão de um de vocês, quando eu abraço um de vocês… porque agora eu beijo homem e mulher igualzinho, não mistura mais… Quando eu beijo um de vocês, eu não to beijando com segundas intenções, eu to beijando porque quando eu era presidente, eu dizia: eu vou voltar pra onde eu vim. E eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os eventuais. Os de gravatinha, que iam atrás de mim, agora desapareceram. E quem está comigo são aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser presidente da república. É aquele que comia rabada no Zelão, que comia frango com polenta no Demarchi, é aquele que tomava caldo de mocotó no Zelão, esses continuam sendo nossos amigos. São que tem coragem de invadir terreno pra fazer casa, são aqueles que têm coragem de fazer uma greve contra a previdência, são aqueles que ocupam no campo pra fazer uma fazenda produtiva, são aqueles que na verdade precisam do estado.
Companheiros, eu vou dizer uma coisa pra vocês. Vocês vão perceber que eu vou sair desta maior, mais forte, mais verdadeiro, e inocente, porque eu quero provar que eles é que cometeram um crime, um crime político de perseguir um homem que tem 50 anos de história política, e por isso eu sou muito grato. Eu não tenho como pagar a gratidão, o carinho e o respeito que vocês tem dedicado a mim nesses anos todos. E quero dizer a vocês Guilherme, e à Manuela, a vocês dois, que para mim é motivo de orgulho pertencer a uma geração, que está no final dela, ver nascer dois jovens disputando o direito de ser presidente da república neste país. Por isso, grande abraço, e podem ficar certos: esse pescoço aqui não baixa, minha mãe já fez o pescoço curto pra ele não baixar, e não vai baixar, porque eu vou sair de lá de cabeça erguida e de peito estufado porque eu vou provar a minha inocência. Um abraço companheiros, obrigado, mas muito obrigado, pelo que vocês me ajudaram, um beijo, querido, muito obrigado!

Edição: Diego Sartorato e Pedro Nogueira
Onde:
https://www.brasildefato.com.br/2018/04/07/leia-a-integra-do-discurso-historico-de-lula-em-sao-bernardo/