segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Modus operandi



Folha comprova a eficiência da nova Lei de Direito de Resposta

Os Ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) que irão analisar a ADIN (Ação Direta de Inconstitucionalidade) contra a Lei de Direito de Resposta terão pela frente uma evidência claríssima: a melhoria exponencial da qualidade das informações após a aprovação da lei.
Ao aceitar o direito de resposta de pessoas atingidas, os jornais permitem que seus leitores tenham acesso a fatos verdadeiros. Mais que isso: serão mais exigentes com seus repórteres e editores, para não expor o veículo a mais direitos de resposta.
Esse filtro de qualidade é chamado de "autocensura" por Mirian Leitão. É a mesma "autocensura" praticada pelos melhores jornais do mundo.
Mais que isso, mesmo antes do primeiro Direito de Resposta ser concedido por via legal, os próprios jornais estão ajudando a criar uma nova jurisprudência, que será relevante quando começarem os julgamentos.
Ao conceder direito de resposta ao presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) o jornal Folha de São Paulo presta dois favores ao jornalismo:
1.     Permite a seus leitores acesso a uma informação fidedigna, o artigo de Coutinho.
2.     Reconhece que a manipulação das manchetes e do lide é uma forma de manipulação da notícia.
De fato, analisando o histórico do factoide constata-se que a primeira reportagem com a falsa denúncia continha as explicações do banco no pé da matéria. Mesmo sendo explicações definitivas mantiveram a manchete e o lide com a notícia falsa.
Este caso, mais o da juíza Ana Amaro – que ganhou ação contra a Globo no caso das adoções – mostra um grau de subjetivismo importante na hora de analisar os prejuízos com as notícias: não basta abrir espaço para o “outro lado” no pé da reportagem; importa analisar o efeito final da matéria sobre a opinião pública. Se a reportagem dá a versão do outro lado, mas encampa a versão falsa, a reportagem é falsa. Portanto, o julgamento tem que levar em conta o resultado final da reportagem.
Vamos analisar o caso Folha.

A história de uma barriga

O “furo” da Folha saiu no dia 1o, de novembro de 2015, em matéria assinada pelos repórteres Mário César Carvalho e Felipe Bachtold.
Segundo a reportagem, o BNDES driblou regra interna - que o proíbe de conceder empréstimos a empresa cuja falência tenha sido requeria na Justiça - e concedeu R$ 101,5 milhões de financiamento a José Carlos Bumlai, "amigo do ex-presidente Luiz Ignácio Lula da Silva".
O empréstimo foi para a empresa São Fernando Energia 1, para gerar eletricidade a partir do bagaço de cana.
Enfatiza a reportagem que "após a autorização do BNDES, os R$ 101,5 milhões foram repassados à empresa de Bumlai pelo BB e pelo BTG, "que atuaram na operação como agentes intermediários".
O BNDES alegou que a simples existência do pedido de falência não é suficiente para impedir financiamentos.
No mais relevante, a explicação do banco foi definitiva:
"No caso da São Fernando Energia, no entanto, a instituição de fomento sustenta que, por se tratar de uma operação indireta, nas quais outros bancos fizeram o repasse e assumiram o risco do crédito, caberia ao Banco do Brasil e ao BTG "proceder a análise cadastral e exame das certidões das beneficiárias finais, conforme as regras do BNDES".
Ou seja, era uma operação indireta. Portanto, a responsabilidade pela análise do crédito era dos bancos repassadores.
A reportagem ouviu o Banco do Brasil, que tinha uma explicação clara para a operação. Foi uma operação de renovação de um antigo financiamento, na qual a empresa agregou novas garantias ao Banco do Brasil. O mesmo aconteceu com o BTG.
Tratava-se, portanto, de uma operação bancária legítima que desmentia o título e o lide da matéria. Os repórteres deram corretamente o outro lado. Mas a edição e o título definiram o teor da reportagem, a impressão que ficou com a opiniõa pública.
O primeiro efeito da falsificação
No dia 5 de novembro de 2011, reportagem de Aguirre Talento, de Brasília tinha o título:
exto alternativo gerado por máquina:bra! CPI pede documentos sobre amigo de Lula,
O primeiro objetivo havia sido alcançado. Com base em uma notícia falsa, a CPI do BNDES aprovou requisição de documentos ao banvo sobre a operaç˜qao colocando mais lenha na fogueira política
A reportagem já toma como verdadeira a reportagem do dia 5, comprovando que as explicações do BNDES e do BB de nada adiantaram:
Reportagem da Folha do último dia 1º revelou que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões a Bumlai, amigo do ex-presidente Lula que se tornou um dos alvos da Operação Lava Jato
Com base na matéria falsa, foram apresentados à CPI cinco requerimentos de convocação de Bumlai.
No dia 17 de novembro de 2015, em uma reportagem de Dimmi Amora sobre o depoimento de Eike Baptista na CPI do BNDES, mais uma vez se veicula a notícia falsa, ainda que acompanhada das explicações do banco:
Folha revelou no início do mês que o BNDES contornou uma norma interna que o proíbe de conceder empréstimos a empresas cuja falência tenha sido requerida na Justiça e concedeu crédito de R$ 101,5 milhões ao pecuarista José Carlos Bumlai.
Era o próprio samba do crioulo doido. Apresentava-se a denúncia taxativamente e depois a explicação do BNDES mostrando taxativamente que a denúncia era falsa. Imagine-se a cabeça do leitor.
Com base na falsa denúncia, Polícia Federal e Ministério Público Federal - provavelmente as fontes da matéria inicial - entraram na parada. No dia 24 de novembro de 2015reportagem de Estelita Hass Carazzai informava que e "intimaram a presidência (do BNDES) a entregar cópias dos contratos e seus processos de aprovação realizados entre 2005 e 2012".
Antes de ter acesso aos documentos, o procurador Diogo Castor de Mattos já tinha conclusões: "As empresas ou estavam inativas ou não tinham nenhuma atividade operacional na época dos empr[estumos".
No dia 5 de novembro de 2015, sem mencionar a Folha, o Estadão endossa a denúncia.
Reportagem de Daiene Cardoso dizia que:
A usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES um empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. O requerimento aprovado não trata de quebra de sigilo das informações da operação e sim do acesso dos parlamentares aos contratos confidenciais. 
Uma usina de Bumlai, em Dourados (MS), teria recebido do BNDES empréstimo de R$ 101,5 milhões em 2012 após ter pedido falência à Justiça um ano antes. Além de ouvir o pecuarista, deputados querem ter acesso aos contratos do empréstimo feito pelo empresário, amigo pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. 
Todas as matérias repetem o mesmo tratamento padronizado de apresentar Bumlai como amigo de Lula.
Todas as matérias basearam-se em uma informação intencionalmente falsa já que, desde o primeiro momento, o jornal tinha a versão correta sobre ela. Só consentiu em dirimir definitivamente o fato devido à ameaça da Lei de Direito de Resposta.
Nesse período, a notícia falsa aumentou a temperatura política, serviu de álibi para que a Polícia Federal e o Ministério Público invadissem o BNDES e lançou uma mancha falsa de suspeita sobre o banco.
O jornal retificou o erro sabendo que havia atingido seu objetivo.
Para quem analisa a cobertura diária sem os óculos da torcida política, esse episódio é apenas um em um oceano de manipulações alimentadas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
Quem está trazendo o jornalismo de volta aos jornais é a Lei de Direito de Resposta. Sem ela, dificilmente sairia esse desmentido ou, como ocorreu hoje no Estadão, o repórter Fausto Macedo, porta voz da Polícia Federal, ter aberto espaço para a manifestação do advogado do filho de Lula.

Onde:
http://jornalggn.com.br/noticia/folha-comprova-a-eficiencia-da-nova-lei-de-direito-de-resposta

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Os militares da democracia: os militares que disseram não

Os militares da democracia: os militares que disseram não #  de Silvio Tendler



Eles lutaram pela Constituição, pela legalidade e contra o golpe de 1964, mas a sociedade brasileira pouco ou nada sabe a respeito dos oficiais que, até hoje, ainda buscam justiça e reconhecimento na história do país. Militares da Democracia resgata, através de depoimentos e registros de arquivos, as memórias repudiadas, sufocadas e despercebidas dos militares perseguidos, cassados, torturados e mortos, por defenderem a ordem constitucional e uma sociedade livre e democrática.


Onde:

https://www.youtube.com/channel/UCkoPZfCNAJNxwsRlMsrr-WQ

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

Nós

Nós dois (Tadeu Franco) # Tadeu Franco


Nós Dois

E nós que nem sabemos quanto nos queremos
Que nem sabemos tudo que queremos
Como é difícil o desejo de amar

Você que nem me soube quanto eu quis
Que não coube, não me viu raiz
Nascendo, crescendo nos terrenos seus

Eu da janela olhando a lua, perguntando a lua 
Onde você foi amar?

E nós que nem soubemos nos querer de vez
Estamos sós, laçados em dois nós
Um que é meu beijo o outro é o lábio seu

Não sei sair cantando sem contar você
Que eu sei cantar, mas conto com você
Que eu vou seguir, mas vou seguir você

Queria que assim sabendo se a gente se quer
Queria me rimar no seu colo mulher
Vencer a vida donde ela vier

Ganhar seu
Chegar no chegar meu
Dar de mim o homem que é seu

domingo, 22 de novembro de 2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Poesia, por que não?

Música, poesia e mulheres # Daniel Uria




por indicação da Helô

Poesia, por que não?

Márcio Tavares D'amaral

O Globo, 14/11/ 2015

Se há pergunta estúpida é para que serve a poesia. Na pergunta já está o decreto da inutilidade das coisas escritas quando não vão números no meio. Ou figuras. Poesia? Poesia numa hora dessas? Pois sim, claro. Essa é que é a hora. Quando está escuro. Porque se não temos luz para ver, e uma cegueira branca nos atordoa, é a voz do poeta que estraçalha a noite. Ela e a música.

A poesia, lá nos começos gregos, era feita para ser cantada. Talvez as exigências de métrica e ritmo tenham vindo daí. Hoje não precisamos mais deles. A emoção inteligente de que a poesia brota não vem em versos alexandrinos ou em decassílabos heroicos. Vem como a respiração: rápida de susto, lenta de cautela, profunda de medo, leve de alegria. E cheia de som. Boa de cantar. Mnemosine, a Memória, mãe das musas, não discriminava entre a poesia e a música, suas filhas. Punha-as enrodilhadas nessa alta realização da nossa cultura que é a poesia que se canta, a música que se diz.

Então, é assim: quando faz escuro, é preciso cantar. E acordar a cidade. Quando Roma foi atacada no século IV a. C., os gansos do monte Capitolino grasnaram até que os romanos acordassem e pusessem os invasores para correr. Nós somos os gansos do Capitólio. E tem muita gente que precisa ser posta para correr. Os que não amam, e não lhes basta não amar, o que seria um sofrimento só seu: querem contaminar o mundo com sua incapacidade de ternura. São perigosos. Inimigos da vida. Grasnar contra eles é como rir na cara do desamor. A incapacidade de amar é séria. Cheia de si. Não suporta o riso. Toma a alegria por sarcasmo. E se desconcerta. Desconcertemos então os ladrões do sol, os soturnos da vida.

Há esses, que não sabem amar e fazem disso uma alastrante epidemia, a indiferença. E há os outros, que não amam com objeto direto. Não amam as mulheres. Ou os homens. Ou as crianças. Ou os negros. Ou as pessoas com deficiências. Ou os homossexuais. Os gordos. Os velhos. Ou os palestinos. Ou os judeus. Ou os curdos. Os africanos. Os nordestinos. Os católicos, protestantes, ortodoxos, de novo os judeus, os umbandistas, candomblecistas, budistas, hinduístas, xintoístas, animistas — todos os que teimam em ver na vida uma dimensão invisível aos olhos da cara. Esses desamorosos são os mais temíveis. Tendo objeto, têm projeto. São destruidores. Estupradores da esperança. Grasnar contra eles em coros ensurdecedores, entupir as ruas com os nossos gansos sonoros é uma estratégia de sobrevivência. Para o mundo. Para a vida.

A grande astúcia da poesia é parecer que nem está aí. Ela nos toma quando habita a memória. Quando aparece por fragmentos nas conversas, e muda o rumo da prosa. A poesia é insidiosa. Com jeito de traste inútil, que não serve para coisas sérias, ataca na hora em que parece que a rotina morna a aboliu. Quando estamos, como escreveu Drummond, “sujos de tristeza e feroz desgosto de tudo”. Para ele a salvação por duas horas foi o cinema. Passava Carlitos. Mas podia ter aberto o livro em que ele mesmo contou da flor que rompeu o asfalto. “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio”. Pronto. A pele se eriça, os olhos se embargam, o corpo fica meio assim. A vida foi salva por um verso. O Anjo da poesia passou. Ninguém deu por isso, porque ele é invisível aos que andam apressados. Mas passou. E depois o ar ficou limpo como quando acaba a chuva. E a vida recuperou um ritmo generoso.

As mães, os pais, cantavam pequenos poemas para os filhos adormecerem. Não sei se ainda cantam. Mas as crianças dormiam sorrindo. Cheias de estrelas. As pessoas que trabalham nos campos cantam para ritmar a colheita e dar sentido ao passar das horas. As palavras cantadas vêm da memória antiga, não precisam mais ser pensadas. Seus sentidos já fazem parte dos corpos. É verdade, canta-se também quando se vai para a guerra. É má poesia, e só serve para entreter o medo. Esse é um dos casos em que o silêncio soaria melhor. Deixar o medo sem som. Talvez seja desse silêncio que a consciência refletida precise para objetar ao mal. E depois dizer poemas cheios de brandura. Como o de Adélia Prado: “... existe um bem, existe. E tudo é bom...”

Que a poesia não servisse para nada seria o sonho dos donos do mundo, dos cogumelos que contam seus metais e explodem sobre cidades. A malícia dos poetas é deixá-los pensar que é assim. Quando acordarem, um dia, a poesia estará nos top trends das redes, nos outdoors, interrompendo a programação das rádios e televisões. Revolução é isso. E que revolução! Essa em que a beleza, irmã gêmea da verdade, abolirá a noite, que doravante servirá apenas para dormir e sonhar. E decretará o sol.


Onde:

http://oglobo.globo.com/cultura/poesia-por-que-nao-18045657

https://www.pinterest.com/pospag/poster-bolivia/



quarta-feira, 18 de novembro de 2015

terça-feira, 10 de novembro de 2015

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Honrar a vida

Honrar la vida (Eladia Blazquez) # Mercedes Sosa



Razão para viver

Fernando Brito


À medida em que envelhecemos, começamos a santificar os mortos – o que é prudente, pois estamos diariamente mais próximos de entrar no grupo – e a dizer que os vivos não valem lá grande coisa, como a desdenhar as uvas verdes, que vão ficando mais distantes.
Não é fácil fugir disso, carece de fé na humanidade – a em Deus é fácil, já que nos dá um lugar para ir – e carece de fatos, que andam escassos nesta época de mediocridade crescente e delicadeza minguante.
Carece, sobretudo, de um exercício de humildade, em tempos de arrogante vaidade, onde as celebridades de 15 minutos, os “selfies”, a auto-exposição dominam corações, mentes e faces.
Tempo em que trocamos o “vai, Carlos, vai ser gauche na vida” do Drummond pelo “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder” dos Titãs.
Como escapar à ditadura de nossas próprias sedes de viver outonais, que já não são as de pular, dançar, correr? Ou a de amar alguém, ou a de fazer uma vida?
Sobretudo, como fugir à compulsão de ser amado, reconhecido, elogiado, estes mesquinhos desejos humanos  que a a gente nega, mas existem?
E resistir ao nervosismo, à impaciência, e tolerar  ideias que o tempo e a vida já nos fizeram desmontar e ver que são ocas, vazias, tolas, mas verdadeiras para quem as assimilou?
Só encontrei uma forma, falha e mambembe, que foi ter causa.
É preciso ter uma razão para viver e esta razão será muito pequena se ela for você mesmo, ou seus filhos, amigos, por mais queridos que sejam.
Ou uma igreja, um partido, um país, ainda assim serão pequenos.
E você, portanto, ainda será grande demais para que possa entender que não é nada, embora seja tudo o que pode dirigir por sua própria vontade.
Só existe uma maneira de sentir o minúsculo e o imenso em si mesmo: é sentir-se igual a toda a humanidade e desejar a ela tudo o que você tem.
Homenagear nossos mortos também é assim: é desejar dar o que eles nos deram aos que vivem e aos que viverão.
E numa manhã chuvosa de Finados – quem disse que o tempo não tem suas lágrimas? – sair por uns minutos deste clima de ódio em que nos mergulharam e olhar a vida como aquele bolo que vai ficando mais saboroso quanto mais mingua no prato.
Que a gente repetiria, se pudesse.

Onde:

http://tijolaco.com.br/blog/razao-para-viver/

Não é em vão

Autoria desconhecida