terça-feira, 30 de setembro de 2014

Planos para a primavera

Mafalda # Quino




You must believe in spring (Michel Legrand) # Luiz Eça e Vitor Assis Brasil




Onde:

Luiz Eça & Vitor Assis Brasil no Museu de Arte Moderna

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Disfunção lírica

Passarinhos no Alvorada (alheios aos jogos do poder e ao alvoroço dos turistas) # Foto: Maythe de Souza




Flying high (Cibelle) # Cibelle




A DISFUNÇÃO


Se diz que há na cabeça dos poetas um parafuso de
a menos
Sendo que mais justo seria o de ter um parafuso
trocado do que a menos.
A troca de parafusos provoca nos poetas uma certa
disfunção lírica.

Nomearei abaixo 7 sintomas nos poetas dessa disfunção lírica.

1 - Aceitação da inércia para dar movimento às palavras.
2 - Vocação para explorar os mistérios irracionais.
3 - Percepção das contigüidades anômalas entre
verbos e substantivos.
4 - Gostar de fazer casamentos incestuosos entre palavras.
5 - Amor por seres desimportantes tanto como pelas
coisas desimportantes.
6 - Mania de dar formato de canto às asperezas de uma pedra.
7 - Mania de comparecer aos próprios desencontros.

Essas disfunções líricas acabam por dar mais importância
aos passarinhos do que aos senadores.



Manoel de Barros





Onde:

Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo # Manoel de Barros

Editora Record



The shine of dried electric leaves # Cibelle

domingo, 28 de setembro de 2014

Os que enrrugam para cima

Smile (Change today now) # Peter Chmela




Don't worry, be happy (Bobby McFerrin /Versão: Mart'nália) # Mart'nália




Hay gente con la que la vida se ensaña, gente que no tiene una mala racha sino una continua sucesión de tormentas. Casi siempre esa gente se vuelve lacrimosa. Cuando alguien la encuentra, se pone a contar sus desgracias, hasta que otra de sus desgracias acaba siendo que nadie quiere encontrársela.

Esto último no le pasó nunca a la tía Ofelia, porque a la tía Ofelia la vida la cercó varias vezes con su arbitrariedad y sus infortunios, pero ella jamás abrumó a nadie con la historia de sus pesares. Dicen que fueron muchos,pero ni siquiera se sabe cuántos, y menos las causas, porque ella se encargó de borrarlos cada mañana del recuerdo ajeno.

Era una mujer de brazos fuertes y expresión juguetona, tenia una risa clara y contagiosa que supo soltar siempre en el momento adecuado.En cambio, nadie la vio llorar jamás.

A vezes le dolían el aire y la tierra que pisaba, el sol del amanecer, la cuenca de los ojos. Le dolían como un vértigo el recuerdo, y como la peor amenaza, el futuro. Despertaba a media noche com la certidumbre de que se partiría en dos, segura de que el dolor se la comería de golpe. Pero apenas había luz para todos, ella se levantaba, se ponía la risa, se acomodava el brillo de las pestañas, y salía a encontrar a los demás como si los pesares la hicieran flotar.

Nadie se atrevió a compadecerla nunca. Era tan extravagante su fortaleza, que la gente empezó a buscarla para pedirle ayuda.¿Cuál era su secreto? ¿Quién amparaba sus aflicciones? ¿De dónde sacaba el talento que la mantenía erguida frente a las peores desgracias?

Un dia le contó su secreto a una mujer joven cuya pena parecía no tener remedio:

- Hay muchas maneras de dividir a los seres humanos - le dijo -. Yo los divido entre los que se arrugan para arriba y los que se arrugan para abajo, y quiero pertenecer a los primeros. Quiero que mi cara de vieja no sea triste, quiero tener arrugas de la risa y llevármelas conmigo al otro mundo. Quién sabe lo que habrá que enfrentar allá.

Ángeles Mastretta



Onde:

Mujeres de ojos grandes # Ángeles Mastretta
Ed. Booklet (Argentina)

Madrugada # Mart'nália


http://positive-posters.com/posters/profiles/?pid=130

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

São Paulo entra pelo cano da Sabesp

Banksy





Marreco quer água (Pixinguinha) # Orquestra Sinfônica de Recife/ Regente: Osman Gioia



Em vez de água, quem vai entrar pelo cano da Sabesp logo logo serão os paulistas. Assim que passarem as eleições, a população vai perceber que caiu como patinho no conto do vigário da excelência gerencial tucana. Esse lero-lero já conhecemos desde os tempos do apagão de energia no governo FHC. 
A seca está séria, mas seriíssimos são os erros de avaliação, planejamento e execução de Geraldo Alckmin, a administração desastrosa da  Sabesp e a blindagem e omissão da mídia amiga do PSBD.
Tudo isso tem um responsável-mor. E não é São Pedro.










Onde:


Pixinguinha Sinfônico Popular # Orquestra Sinfônica de Recife
Regente: Osman Gioia


https://www.flickr.com/photos/dullhunk/7513216782/in/photostream/


http://noticias.r7.com/sao-paulo/seca-nivel-do-sistema-cantareira-chega-a-191-e-e-o-mais-critico-em-39-anos-12032014

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Não é o mesmo que viver, honrar a vida

A gente quer vida agora # Cafu






Honrar la vida (Eladia Blásquez) # Mercedes Sosa






HONRAR LA VIDA

Eladia Blásquez


Nó...! Permanecer y transcurrir
no es es perdurar, no es existir,
ni honrar la vida!
Hay tantas maneras de no ser
tanta conciencia sin saber,
adormecida...
Merecer la vida, no es callar y consentir
tantas injusticias repetidas...
Es una virtud, es dignidad
y es la actitud de identidad
más difinida!
Eso de durar y transcurrir
no nos dá derecho a presumir,
porque no es lo mismo que vivir
honrar la vida!

Nó...! Permanecer y transcurrir
no siempre quiere sugerir
honrar la vida!
Hay tanta pequeña vanidad
en nuestra tonta humanidad
enceguecida.
Merecer la vida es erguirse vertical
más allá del mal, de las caídas...
Es igual que darle a la verdad
y a nuestra propia libertad
la bienvenida!
Eso de durar y transcurrir
no nos da derecho a presumir
porque no es lo mismo que vivir
honrar la vida!




Onde:











Para cantar he nascido # Mercedes Sosa

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Passo não

Jantar com Obama # Pelicano





Violin Concerto No. 1 in A minor, BWV 1041: I Movement (J.S. Bach) # Bobby McFerrin e The Saint Paul Chamber Orchestra




A Petrobrás, a PNAD e o coro da insignificância nacional

Saul Leblon


Imagine-se que o México, por exemplo, do novo herói de Wall Street, Enrique Peña Nieto; ou a Espanha, do imperturbável ‘austericida’, Mariano Rajoy; ou mesmo os EUA, do flácido Barack Obama, reunisse, em uma única semana, essa que passou, as seguintes conquistas no portfólio do seu governo:


1. O país fosse declarado pela FAO um território livre da fome, praticamente erradicada nos últimos 11 anos;


2. Tivesse a notícia de que a miséria extrema fora igualmente reduzida em 75%, no mesmo período;


3. Constatasse que após seis anos de uma interminável crise mundial, a renda média mensal das famílias continuasse a crescer, tendo se elevado em 3,4% acima da inflação em 2013 (dado da PNAD já corrigida);


4. E que o rendimento médio dos trabalhadores assalariados, no mesmo período, registrou um aumento de 3,8% acima da inflação e acima do PIB, de 2,5%;


5. Ainda: que enquanto a renda dos 10% mais ricos cresceu 2,1%, a dos lares mais pobres, incluindo-se os benefícios das políticas sociais, avançou 2,9%, o que contribuiu para um pequeno, mas persistente recuo da desigualdade, em declínio desde 2004;


6. Mais: que o trabalho infantil em 2013 caíra 12,3%; a matrícula na pré-escola atingira 81% das crianças e o trabalho com carteira assinada já englobaria 76% dos assalariados;


7. Não só; a consolidação dos indicadores sociais dos últimos 11 anos, embora não tenha quebrado os alicerces de uma das construções capitalistas mais desiguais do mundo, mexeu em placas tectônicas. A renda média da sociedade aumentou 35% acima da inflação entre 2004 a 2013. Mas a dos 10% mais pobres cresceu o dobro disso (cerca de 73%); e entre os 50% mais pobres, avançou mais de 60%, com repercussões óbvias no padrão da produção e da demanda, no conforto doméstico e nas expectativas em relação ao futuro;


8. A mesma semana generosa incluiria ainda a informação de que as novas reservas de petróleo desse país, responsável por 40% das descobertas mundiais nos últimos cinco anos, já representam 24% da produção nacional; 9. E, por fim, que o investimento em infraestrutura, depois de três décadas de declínio sistemático –repita-se, três décadas de recuos sucessivos– registrou uma inflexão e passou a crescer o equivalente a 2,4% do PIB, em média, de 2011 a 2013.


Qual seria a reação do glorioso jornalismo de economia diante desse leque de vento bom, se a mão que o abanasse fosse a dos titãs dos mercados?


Não seríamos poupados de manchetes faiscantes, a alardear a eficácia das boas práticas do ramo.


Mas as boas notícias têm como moldura o Brasil.


Presidido pela ‘intervencionista’ Dilma Rousseff, candidata petista à reeleição e detentora de teimosa liderança nas pesquisas do 1º turno.


Isso muda tudo.


Muda a ponto de um acervo desse calibre ser martelado como evidência de retrocesso social no imaginário brasileiro.


Muda a ponto de Marina valer-se dessa ocultação da realidade para decretar que Dilma entregará um país ‘pior do que o que recebeu’.


O padrão ‘Willian Bonner’, como se vê, faz escola.


A indigência do debate impede não apenas que o Brasil se enxergue como o país menos desigual de toda a sua história, mas, sobretudo, interdita a autoconfiança da sociedade nos seus trunfos para avançar um novo passo nessa direção.


Não se subestime aqui a persistência de gargalos significativos nessa trajetória. Juros descabidos, por exemplo. E uma paridade cambial fora de lugar há duas décadas. Com toda a guarnição de perdas e danos que esse desajuste de dois preços essenciais pode acarretar.


Embora sejam apresentados como prova do genuíno fracasso petista, a verdade é que desarranjos macroeconômicos não constituem exceção na história econômica do país.


Será necessário recordar, à nova cristã do tripé, que sob o comando de Armínio Fraga, virtual ministro dela ou de Aécio , o BC elevou a taxa de juro a 45%, em março de 1999?


Que a dívida pública explodiu sob a gestão do festejado herói dos mercados?


E que a defasagem cambial sob FHC exigiu uma maxidesvalorização de 30% em janeiro de 1999, escalpelando o poder de compra das famílias assalariadas?


Ou que as perspectivas da inflação então oscilavam entre 20% e 50% ao ano; maiores que as da enxovalhada Argentina hoje?


O banco de dados do glorioso jornalismo de economia dispõe desses dados.


Que ali hibernam a salvo da memória nacional.


O fato é que se alguns desequilíbrios se repetem –em escala muito menor, caso do juro de 11% e da paridade cambial de R$ 2,25– os trunfos, ao contrário, caracterizam uma auspiciosa singularidade.


E não avançam apenas da esfera social para o mercado, mas vice versa.


A economia brasileira dispõe agora de reservas em moeda estrangeira da ordem de US$ 400 bi, com um fiador estratégico de peso muito superior a esse.


Uma poupança de petróleo e gás, que pode chegar a 100 bilhões de barris, avaliada em cerca de R$ 5 trilhões, revestida de domínio de tecnológico e escala para traduzir-se em soberania, autossuficiência e receitas, pavimenta o futuro do crescimento nacional.


Não só.


Em plena crise mundial, o país alicerçou um dos mercados de massa mais cobiçados do planeta e um mercado de trabalho que flerta com o pleno emprego.


A sociedade brasileira é uma das poucas em todo o planeta a desfrutar de uma combinação vital ao futuro humanidade: autossuficiência alimentar e fontes abundantes de energia limpa.


Sua dívida pública é estável, proporcionalmente baixa em relação ao PIB (37%) e aos padrões mundiais.


A planta industrial embora esgarçada, carente de competitividade, preserva escala e encadeamentos que ainda distinguem o país em relação às demais nações em desenvolvimento. Ainda que setores respirem por aparelhos, não está morta.


As empresas estão líquidas, são lucrativas, têm caixa suficiente –hoje alocado no rentismo– para deflagrar um novo ciclo de expansão.


O país conta, ademais, com uma invejável rede de bancos públicos e possui um dos maiores bancos de desenvolvimento do mundo (o BNDES é maior que o Banco Mundial); o nível de endividamento das famílias é proporcionalmente baixo em relação à média internacional e o sistema de crédito é sólido.


Não é pouco, mesmo considerando-se as novas condições de mobilidade de capitais que restringem o poder dos governantes para ordenar o desenvolvimento.


Com muito menos que isso, Getúlio Vargas afrontou o cerco conservador nos anos 50.


Se dependesse das restrições da época, e do imediatismo das elites, ele não teria criado a Petrobrás, por exemplo.


Tampouco insistido na industrialização.


Assim como Juscelino não teria feito Brasília.


Ou Celso Furtado –desdenhado pela assessoria ‘moderna’ de Marina– teimado em erradicar o apartheid nacional, que tinha no Nordeste um quê de bantustão avant la lettre.


A determinação de viabilizar cada uma dessas agendas extraiu do engajamento popular e dos fundos públicos a viabilidade sonegada pelas elites, seus sócios estrangeiros e seu aparato emissor.


A seta do tempo não se quebrou: hoje a Petrobrás é a empresa que tem a maior carteira de investimento do mundo; o Nordeste é a região que lidera o crescimento do poder de compra popular; o Centro-Oeste é um dos polos agrícolas mais dinâmicos do país.


Operadores de Marina e Aécio fazem gestos nervosos na lateral de campo da disputa eleitoral.


Apontam o relógio para dizer que o tempo do jogo da soberania com justiça social esgotou.


Exigem que o eleitor encerre a disputa e aceite a derrota definitiva desse capítulo na história nacional.


O jogral tem experiência no ramo dos vereditos incontrastáveis.


O desdém pelo Brasil mais justo que progressivamente emerge das PNADs é uma prova.


O diabo é a Petrobrás. E as arrancadas do pré-sal.


A dupla adiciona uma dissonância não negligenciável ao discurso da insignificância brasileira na coordenação do futuro do seu desenvolvimento.


Tem peso e medida para representar um indutor de crescimento mais consistente e duradouro que o ciclo recente de valorização das commodities, ao qual o discurso conservador atribui toda a extensão dos avanços sociais registrados nos últimos anos.


Nesse sentido, a simbologia da Petrobrás ficou até maior do que foi nos anos 50.


Hoje ela deixou de significar apenas petróleo nacional. Para se tornar o espelho de uma dissidência poderosa aos interditos dos mercados no século XXI.


Fortemente imbricada nas encomendas cativas de toda a cadeia da extração, refino e usos sofisticados da petroquímica, a regulação soberana do pré-sal facultou ao país um novo berçário industrializante.


Não é o canto do cisne da luta pelo desenvolvimento, como querem alguns.


Pode ser o aggiornamento de um modelo.


A integração entre compras direcionadas à indústria brasileira e o investimento em cadeias produtivas relevantes, já funciona, de forma similar, e com sucesso, nas aquisições de medicamentos para o SUS, com fomento da rede de laboratórios nacionais pelo BNDES.


Se esse modelo entrar em voo de cruzeiro, o discurso da insignificância brasileira na definição do passo seguinte do seu crescimento entrará em coma.


O pré-sal é o ponteiro decisivo da corrida contra o ultimato conservador dos operadores de Marina e Aécio.


É coerente que tenha merecido apenas uma única e mísera linha no pr0grama de 242 páginas de Marina Silva ; assim: “Destinar ao orçamento da educação os royalties do petróleo em áreas do pré-sal já concedidas”. Ponto.


É mais que isso o que está em jogo.


No ciclo do próximo governo –e por isso é crucial ele seja progressista– o pré-sal, mantida a regulação soberana do regime de partilha, avançará exponencialmente para responder por 50% da produção brasileira em 2018.


O país estará, então, no limiar de dispor de 4,2 milhões de barris/dia, o dobro da oferta atual, com excedentes exportáveis robustos e crescentes.


Não são apenas negócios.


Cerca de 75% dos royalties do pré-sal vão para a educação; 25% para a saúde.


Mais de 300 mil jovens brasileiros serão treinados diretamente nos próximos anos pelo Promimp, o Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural.


Um parque tecnológico de ponta em pesquisa de energia, com adesão de inúmeras multinacionais, está nascendo no Fundão, junto à Universidade Federal do Rio de Janeiro, colado à agenda do pré-sal.


A indústria naval brasileira que havia desaparecido nos anos 90 agora é a quarta maior do mundo e emprega 100 mil pessoas.


As receitas do refino –filé da indústria do petróleo—ficarão em boa parte no país, graças a um esforço hercúleo da Petrobrás de investir em uma rede de refinarias, heresia sepultada pelo PSDB e a turma da Petrobrax nos anos 90.


Desqualificar a estatal criada por Getúlio –‘o PT colocou um diretor lá por 12 anos par assaltar os cofres da empresa’, diz a doce Marina– significa para o conservadorismo uma vacina de vida ou morte contra um perigo maior.


Aquele que pode levar o discernimento nacional a enxergar no épico contrapelo do pré-sal, sob o guarda-chuva de uma estatal poderosa, a inspiração para um modelo capaz de destravar o arranque de um novo ciclo de expansão em outras áreas.


Não se trata de uma gincana acadêmica.


Trata-se de ter ou não a soberania sobre o crescimento e a produtividade indispensáveis aos bons indicadores de futuras PNADs.


Que reúnam avanços iguais, ou maiores, que esses que o glorioso jornalismo de economia se esmerou em desqualificar na semana passada. Mas para os quais não oferece nenhuma alternativa, exceto o coro mórbido da insignificância nacional na construção do futuro.






Onde:
Paper Music # Bobby McFerrin e The Saint Paul Chamber Orchestra

http://www.pelicanocartum.net/

http://www.cartamaior.com.br/?/Editorial/A-Petrobras-a-PNAD-e-o-coro-da-insignificancia-nacional-/31847

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Primavera

Primavera em Paraty # Foto Fernando Fernandes




Sol de primavera (Beto Guedes - Ronaldo Bastos) # Beto Guedes






primavera volta

(só eu sou do sonho ao sol)

primavera em volta


Pedro Xisto




Onde:

Caminho # Pedro Xisto
berlendis& vertecchia editores ltda.


Sol de primavera # Beto Guedes


http://studiobananal.com/


segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Pedalando contra o preconceito e a desinformação




Ao que parece, a ignorância e a cegueira ideológica vêm tornando o vermelho a cor mais quente da estação eleitoral. Segundo um recente factóide, o encarnado das ciclovias de Sampa deixou de ser o produto de convenção internacionalmente adotada para dar visibilidade ao ciclista e proteger a vida de todos e transformou-se em atestado semiótico de aparelhamento da Prefeitura de São Paulo pelo PT. Só rindo mesmo.

Quando o bom senso sai por uma porta, o ridículo entra por outra. Valer-se de argumento de autoridade para dar ares científicos a um palpite infeliz, causa confusão, dissemina desinformação e, o pior, detona reputações mediante micos difíceis de serem esquecidos.

Reinaldo Melo escreveu um ótimo artigo sobre o assunto:



A semiótica da imobilidade e a democracia palhaça

Reinaldo Melo

Lúcia Santaella, em seu livro A Assinatura das Coisas, afirma que "o mundo não está dividido entre coisas, de um lado, e signos de um outro. Isto quer dizer: não há nada que não possa ser um signo, ou melhor, tudo é signo, ou melhor ainda, todas as coisas têm a sua própria assinatura." 
Coerente com sua própria teoria, a professora, uma das maiores especialistas em semiótica do Brasil, posta em seu Facebook uma análise sobre as ciclofaixas na cidade de SP:
Coadunando a mensagem com a teoria, pode-se afirmar que vemos um signo cujo significado revela como são discutidas as questões coletivas em nossa sociedade: por meio do ponto de vista individualista, que produz um unilateralismo em que se fecha o olhar para a multiplicidade mais óbvia do mundo que o rodeia.
A mensagem poderia passar por imperceptível, como qualquer outro comentário de alguém que vê o mundo com o fígado, mas, por ser de uma professora PHD que já lecionou em Berlim, é de se espantar com o fato de que intelectualidade e sensatez não são irmãos siameses.
Primeiramente a falta de compostura para com o prefeito de uma cidade, chamando-o de pintor de ruas e dizendo que as ciclofaixas foram encomendadas do "diabo em pessoa". Interessante, como a professora estabelece a política de criação de ciclofaixas como uma política demoníaca.
Um dado importante: em 2012, morreram na cidade de Sp 52 ciclistas, um por semana. Fora os casos de atropelamento. Em Março de 2013, a mídia deu destaque para o caso do ciclista David Santos Souza, que teve seu braço arrancado. O motorista não o socorreu e jogou o braço num córrego. 
O ciclista David Santos Souza
Certamente, a professora se utilizou apenas do seu olhar unilateral de motorista de uma sociedade em que as grandes cidades são estruturadas para comportar o símbolo mor do individualismo contemporâneo, o automóvel, oprimindo e excluindo qualquer cidadão que se locomova por outros meios: o pedestre, o ciclista, os passageiros de ônibus.
A professora recomenda ao prefeito o estudo ("só um pouquinho") de semiótica para o conhecimento de efeitos das cores em nosso sistema nervoso central, dizendo que a cor vermelha da ciclo faixa se caracteriza como poluição visual. E destila o fel da incompreensão afirmando que é uma propaganda política de um partido político cuja cor característica é vermelha. E para completar tal azedume, a cereja do bolo é asseverar que São Paulo não é uma cidade como a capital holandesa Amsterdam para que haja ciclofaixas a torto e a direito.
Santaella deveria deixar de analisar o fato através de sua semiótica estática e estudar um pouquinho mais para constatar que a cor vermelha foi estabelecida pelas normas nacionais de  trânsito, no intuito de chamar a atenção do motorista mesmo, não se compondo como poluição visual. De onde se conclui também que não se caracteriza como propaganda política partidária.
Ao mesmo tempo, o sentimento de vira-lata também surpreende, vindo de uma estudiosa como Santaella. A elite paulistana sempre teve a Europa como modelo em educação, política, arte, etc. Afirmar que São Paulo não é Amsterdam é dizer que as políticas de lá nunca dariam certo aqui porque não temos a "evolução" do europeu.
A mensagem de Lúcia Santaella poderia passar como algo inocente, como apenas uma expressão natural de uma cultura mal humorada do paulistano que nunca está contente com nada do que é feito em sua cidade, mesmo que seja algo positivo. Mas revela-se como algo gravíssimo: ao se discutir política se enfoca mais no caráter privado do que no público.
Dane-se o fato de morrer um ciclista atropelado por semana, que se exploda as mais de 4500 pessoas que morrem por causa da poluição de veículos em São Paulo, que se seja indiferente ao efeito estufa e com a desertificação da região metropolitana paulista. 
Este desprezo pelo bem comum é consequência da visão torpe e individualista de parte do eleitorado que discute a política partidária com as enzimas do fígado. 
Não é à toa que uma recente pesquisa demonstrou que os candidatos favoritos para ocuparem uma cadeira na Câmara dos Deputados sejam Tiririca, Marcos Feliciano e Paulo Maluf.
O eleitor de Tiririca mal sabe de sua trajetória nestes quatro anos em que exerceu o cargo de deputado, mas se seduz com a estratégia de riso que o candidato adota em sua campanha, ou seja vota-se no candidato por que ele causa o riso zombando da política, a única ciência capaz de engendrar caminhos para o bem estar coletivo. Troca-se o voto pelo riso individual, anulação da política ou de qualquer reflexão ou conhecimento sobre ela.
No caso de Marcos Feliciano, desemboca-se na mesma gravidade, sem a "inocência" humorística de Tiririca. 
Feliciano ficou famoso por conta de sua postura frente à presidência da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, onde obstruiu projetos que favoreciam minorias, ao mesmo tempo dando declarações racistas, homofóbicas e machistas, contrastando com o cargo que ocupava. 
O eleitor de Feliciano combina sua visão fundamentalista com a visão sobre a política: para ele não há diferença entre o seu moralismo e o Estado. Um deputado tem de aliciar, subornar, chantagear o Estado para que este se torne imóvel em sua obrigação: formular políticas para uma sociedade heterogênea e multicultural. Com a eleição de Feliciano e, consequentemente, com o aumento da bancada evangélica, o que se estabelece é a crise do Estado, prestes a se transformar num templo em que uma parcela religiosa da sociedade impede que políticas públicas e laicas, que favorecem todo o coletivo, sejam barradas e até revogadas.
O eleitor de Paulo Maluf é o retrato perfeito que vemos por meio das afirmações da professora Santaella: o bordão "foi Maluf que fez" coaduna com a visão de progresso que o paulista possui. Concreto, asfalto e viadutos foram a herança que Maluf deixou através de suas gestões pautadas pela visão futurista utópica de uma São Paulo sempre em movimento. A cidade feita para o carro e para o cidadão de bem. Se há engarrafamento, Maluf projeta um viaduto ali, um minhocão aqui para resolver o fluxo. Há problemas de ordem social, salientando as contradições do projeto futurista com os anseios dos mais pobres? Não há o porquê de se preocupar, Maluf botará a Rota na rua. 
Além do fascismo claro, há ainda a indiferença para com o fato de Maluf ser réu em vários processos de corrupção e não poder sair do país por estar sendo caçado pela Interpol. A indignação seletiva é um dos traços de um povo que elege aqueles que fazem faltar água nas torneiras, mas que se ferramenta do ódio contra políticos preocupados com a diminuição da taxa de poluição e da imobilidade urbana.
Tal natureza do eleitor e das figuras centrais destas eleições é consequência de uma visão publicitária ideológica, que quer atingir o indivíduo eleitor como mero consumidor a escolher um candidato conforme seus desejos íntimos e sua visão unilateral do mundo. Mas isso fica para outro texto.
O que se pode concluir é que candidatos e eleitores são signos que fazem da política algo totalmente surreal. Há uma imobilidade do pensamento crítico e reflexivo que poderia contribuir com a construção de uma sociedade harmônica, mas o que se vê é uma indiferença para com os problemas sociais e com as decisões que possam solucionar alguns desses problemas. E quando não há a indiferença, depara-se, constantemente, com o fel destilado contra qualquer mecanismo que queira discutir ou resolver tais questões.
A professora Santaella, dentro de seu véu de cidadã crítica, não percebe que seu discurso favorece a armação de um circo no palco das discussões sobre políticas públicas e faz com que a democracia seja vista através da miopia que favorece os donos do picadeiros, fazendo de nós, PHD's ou não, nos verdadeiros palhaços dessa ilusão de (semi)ótica chamada democracia. 




Onde:

http://www.londoncyclist.co.uk/bicycle-posters/

http://inquietasleituras.blogspot.com.br/2014/09/a-semiotica-da-imobilidade-e-democracia.html?showComment=1411266939961

domingo, 21 de setembro de 2014

Big Brother X internet livre

I spy # Cory Ingwersen






Como a NSA traiu a confiança do mundo # Mikko Hypponen (TED Talks)
(disponível no Netflix com legendas em português)





Onde:

http://positive-posters.com/posters/profiles/?pid=5602

http://www.coryingwersen.ca/

http://mikko.hypponen.com/