sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Temperança

Temperança # Golden Botticelli Tarot




Concerto para bandolim e cordas 1.Allegro Moderatto (Radamés Gnattali) # Orquestra de Câmara de Blumenau



XIII 

Es el mejor de los buenos
quien sabe que en esta vida 
todo es cuestión de medida: 
un poco más, algo menos...

Antonio Machado - Proverbios y cantares (Campo de Castilla)



Onde :

Radamés Gnattali e Waldemar Henrique # Orquestra de Câmara de Blumenal

http://es.wikisource.org/wiki/Proverbios_y_cantares_%28Campos_de_Castilla%29

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Voarás, voarás

Selo Cruz e Souza (2012) # Emissão conjunta Brasil - Portugal




Voarás (Paulinho Pedra Azul) # Paulinho Pedra Azul e Diana Pequeno




SER PÁSSARO

Ah! Ser pássaro! ter toda a amplidão dos ares
Para as asas abrir, ruflantes e nervosas,
Dos parques através e dos moitais de rosas,
Nos floridos jardins, nas hortas e pomares.

Ser pássaro, cantar, subir, voar na altura,
Pelos bosques sem fim, perder-se nas florestas,
Das folhagens do campo em meio da espessura,
Das auroras de abril nas cristalinas festas.

Tecer no tronco seco ou no tronco viçoso
O quente lar do amor, o carinhoso ninho,
De onde sairá mais tarde o pipilar mavioso
De um outro mais gentil e meigo passarinho.

Não temer o verão e não temer o inverno
Para tudo alcançar na leve subsistência,
No contínuo lidar, no labutar eterno,
Que é talvez da alegria a mais feliz essência.

Viver, enfim, de luz e aromas delicados
Nascido dentre a luz, gerado dentre aromas,
Sonorizando o azul, sonorizando os prados
E dormindo da flor sob as cheirosas comas.

Voar, voar, voar, voar eternamente,
Extinguir-se a voar, no matinal gorjeio,
E ser pássaro, é ter em cada asa fremente
Um sol para aquecer o frio de algum seio.


Cruz e Souza - Livro Derradeiro



Onde:

Jardim da fantasia # Paulinho Pedra Azul

http://www.lpm-blog.com.br/?tag=cruz-e-sousa

http://www.sinergia-spe.net/editoraeletronica/autor/025/02500300_4.htm

sábado, 24 de janeiro de 2015

Alegria que alivia o coração

Mafalda # Quino


Leve (Alberto Caieiro - Renato Motha - Patrícia Lobato # Patrícia Lobato



XIV
Virtud es la alegría que alivia el corazón
más grave y desarruga el ceño de Catón.
El bueno es el que guarda, cual venta del camino,
para el sediento, el agua; para el borracho, el vino.
Antonio Machado - Proverbios y cantares (Campo de Castilla)

Onde :

Dois em Pessoa # Renato Motha e Patrícia Lobato

http://es.wikisource.org/wiki/Proverbios_y_cantares_%28Campos_de_Castilla%29

http://www.renatomothaepatricialobato.com/

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Se faz caminho ao andar

Wave of peace # McRay Magelby



Como uma onda ( Zen surfismo) (Lulu Santos - Nelson Motta) # Leila Pinheiro



XXIX 

Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más; 
caminante, no hay camino: 
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino, 
y al volver la vista atrás 
se ve la senda que nunca 
se ha de volver a pisar.
Caminante, no hay camino, 
sino estelas en la mar.

Antônio Machado - Provérbios y cantares (Campos de  Castilla)




Onde:

Coisas do Brasil # Leila Pinheiro

http://es.wikisource.org/wiki/Proverbios_y_cantares_%28Campos_de_Castilla%29

http://don.citarella.net/2007/04/10/my-favorite-posters/

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Pretobrás

Milágrimas # Espetáculo de Ivaldo Bertazzo



 
Pretobrás (Itamar Assumpção) / Siyakhoma - Vamos lá (Zibonele Derrick Mlambo) #  Anelis Assumpção, Kholwa Brothers e outros



Onde:

Milágrimas # Um espetáculo de Ivaldo Bertazzo
Direção musical : Arthur Nestrovski e Benjamim Taubkin



quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

A nova solidão

A nova solidão # Liniers



Eu preciso aprender a só ser (Gilberto Gil) # Toots Thielemans e Gilberto Gil







http://jornalggn.com.br/blog/wilson-ferreira/a-fobia-nas-redes-sociais-no-curta-remember-me-por-wilson-ferreira



Por Sophia Pantev



Onde:

The Brasil project # Toots Thielemans

http://www.macanudo.com.ar/

http://salon.io/bielefelderplakate/dein-politisches-plakat/

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Utopias

Da série pranchetas e cavaletes # Santiago



Estrela guia (Pery - Fogaça) # Olívia Hime



Se as coisas são inatingíveis...ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!

Mário Quintana - Espelho Mágico



Onde:


Espelho mágico # Mario Quintana
Ed.Globo

Segredo do meu coração # Olivia Hime

http://grafar.blogspot.com.br/2009/12/serie-do-mes-pranchetas-e-cavaletes.html

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Navegar é preciso

Por Orlando



Caravela (Egberto Gismonti - Geraldo Carneiro) # Olivia Byington e João Carlos Assis Brasil




Onde:


Olivia Byington & João Carlos Assis Brasil

http://www.fotolog.com/orlandopedroso/162000000000023630/

domingo, 11 de janeiro de 2015

Ave, Palavra

Peacock # Bembo's Zoo


Bembos Zoo (animais tipográficos)


ZOO (Rio, Quinta da Boa Vista)

Zangosa, arrepiada, a arara é tarde de-manhã – vermelho sobre ouro-sobre-azul – velhice colorida: duros os bis-bico e o caráter de uma arara.
*
Canta um sabiá sem açúcar.
*
A cigarra cheia de ci.
*
O urubu é que faz castelos no ar.
*
A girafa: – Ei-la e não ei-la!
Elefante: ele sabe onde tem o nariz.


ZOO (Hagenbecks Tierpark,Hamburgo - Stellingen)

PÓRTICO: Amar os animais é aprendizado da humanidade.
*
– “Antes um pássaro na mão, que dois voando ”...
– Na mão de quem? – pergunta a raposa.
*
O arrebol de um pavão.
*
A gorila-fêmeo. A chimpanza ou chimpanzefa. A orangovalsa.
(Não menos acertará quem disser a chimpanzoa.)
*
Se todo animal inspira sempre ternura, que houve, então, com o homem?
*
A camurça estatuesca: sobre nobre esquema de salto.
O canguru, às culapadas. Mas k a n g u r u é que ele é!
O rato, o esquilo, o coelho:
– Haja o que se roa, desta rara vida...
*
Tigres, recrespos, dentro de constantes andantes círculos.
A pantera, semeada, dada, engradada.
Um despulo de urso.
*
Leõezinhos e tigrezinhos comem: nos pedaços de carne, bofe e fígado, ganham também gotas de vitaminas.
Os grandes carnívoros jejuam aos sábados. Sua saúde precisa de lembrar-se das agruras da liberdade.
*
Uma panóplia de gaviões.
Uma constelação de colibris.
Um ancoradouro de caimões.
*
O macaco: homem desregulado. O homem: vice-versa; ou idem.
*
Monólogo do mono Simão, que se vende por meia casca de fruta:
– Aos homens, falta sinceridade...
Dito o que, vai bugiar, espontâneo.
*
O macaco está para o homem assim como o homem está para x.
*
As gazelas assustadas alinham-se flexilfacilmente.
*
A coruja não agoura: o que ela faz é saber os segredos da noite.
*
À gazela que fino pisa: – Oh florzinha de quatro hastes!
*
Os corvos, totalmente cabeçudos, xingam  o crasso amanhã com arregritos.
*
Só o cintilante instante sem futuro nem passado: o beija-flor.


ZOO (Jardin des Plantes)

Perdoar a uma cascavel: exercício de santidade.
*
Sem terra nem haste, como as borboletas.
*
Silêncio tenso – como pausa de araponga.
*
O voo dos pardais escreve palavras e risos.
*
Há também o riso do crocodilo.


ZOO (Parque Zoologique du Bois de Vincennes)

O cisne, cisna. A cisne sem ledices.
Passarinhos piam, disto e daquilo: crise, mil virgens, vida difícil...
O cisne ouvindo a alegria dos melros: – Cantarei, mais tarde.
O marrequinho vira-se de costas, para poder descer o barranco.
Um pinguim: em pé, em paz, em pose.

João Guimarães Rosa (Excertos) – Ave Palavra 



Onde:

Ave, Palavra # João Guimarães Rosa
Editora Nova Fronteira

http://www.bemboszoo.com/

sábado, 10 de janeiro de 2015

Chuva ácida no céu da boca

Laerte 


Não, não digas nada (Fernando Pessoa - João Ricardo) # Secos & Molhados



Respeite o meu direito de não querer te ouvir ou ver


Flávio Gikovate


O fato de alguém querer muito a nossa atenção não nos obriga a aceitar sua aproximação. Ao insistir em seu objetivo, mesmo que nos ame, ela estará sendo prepotente e egoísta.
Um senhor me acusou de desrespeitoso e mal-educado. Motivo? Não quis falar com ele ao telefone. Não o conheço, sabia que ele queria fazer críticas — "construtivas" — ao meu trabalho. Não me interessei em saber quais eram. Uma colega me conta que sua mãe lhe diz: "Sua amiga de infância esteve aqui e está louca para revê-la. Quando posso marcar o encontro?'' Minha colega não tem interesse em saber como está essa pessoa, nem deseja reencontrá-la. Uma filha atende o telefone e diz ao pai: "Fulano quer falar com você". O pai responde: "Diga que não estou". "Mas ele diz que quer muito falar com você." O pai: "Sim, mas eu não quero falar com ele!"
Afinal de contas, quem está com a razão? Aquele que se sente ofendido por não ser ouvido ou recebido? Ou quem se acha com o direito de só receber as pessoas que lhe interessam? Quem faz questão de colocar sua opinião tem direito a isso ou é prepotente por achar que o outro tem que ouvi-lo, apenas porque ele está com vontade de falar? Ou é egoísta e desrespeitoso aquele que só fala e recebe as pessoas que lhe interessam ou quando está com vontade?
Acho fundamental tentarmos entender essas questões aparentemente banais, uma vez que elas são parte das complicadas relações no cotidiano de todos nós. Elas envolvem questões morais e dos direitos de cada um. Tratam do que é justo e do que é injusto.
Acredito que é direito legítimo de cada um falar ou não com qualquer outra pessoa. O fato de ela querer muito nossa atenção não nos obriga a aceitar sua aproximação. E isso independe das intenções de quem deseja o convívio. Posso, se quiser, recusar a aproximação de uma pessoa, mesmo que ela venha me oferecer o melhor negócio do mundo. E o fato de uma pessoa me amar também não a autoriza a nada! Não pode, apenas por me amar, desejar que eu a queira por perto.
Ao forçar a aproximação com alguém que não esteja interessado nisso, a pessoa estará agindo de modo agressivo, autoritário e prepotente. As belas intenções não alteram o caráter prepotente da ação. Na verdade, egoísta é quem quer ver sua vontade satisfeita, mesmo se isto for unilateral. Ele não está ligando a mínima para o outro.
O mesmo raciocínio vale para as pessoas amigas. Não tem o menor sentido eu ir à casa de um amigo para dizer-lhe o que penso de uma determinada atitude sua que não me diz respeito, mesmo que eu não tenha gostado ou aprovado. Ele não me perguntou nada! Ainda que goste muito de mim, talvez não queira saber minha opinião. Talvez não deseje saber a opinião de ninguém! É direito dele. Pode também acontecer o contrário: a pessoa desejar a minha opinião e eu me recusar a dar. Aí é o outro quem tem de respeitar o meu direito de omissão. Não cabe a frase do tipo: "Mas nós somos tão amigos e temos que dizer tudo um ao outro". É assim que, com freqüência, se perdem bons amigos. É preciso ter cautela com o outro, com o direito do outro. Não basta ter vontade de falar. É preciso que o outro esteja com vontade de ouvir. Nós nos tornamos inconvenientes e agressivos quando falamos coisas que os outros não estão a fim de ouvir.
Raciocínio idêntico vale também para as relações íntimas — entre parentes em geral e marido e mulher em particular. Nesses casos o desrespeito costuma ser ainda maior. As pessoas dizem e fazem tudo o que lhes passa pela cabeça. É um perigo. Elas não param de se ofender e de se magoar. Acreditam que, só porque são parentes, têm o direito de falar tudo o que pensam, sem se preocupar como o outro irá receber aquelas palavras. Toda relação humana de respeito implica a necessidade de se imaginar o que pode magoar gratuitamente o outro. É necessário prestar atenção no outro, para evitar agressões, mesmo involuntárias. Quando as pessoas falam e fazem o que querem, sem se preocupar com a repercussão sobre o outro, é porque nelas predomina o egoísmo ou o desejo de magoar.



Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já

É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.

És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.

Fernando Pessoa



Onde:


Secos & Molhados

http://verbeat.org/laerte/drageas-2/2.html

http://flaviogikovate.com.br/respeite-o-meu-direito-de-nao-querer-te-ouvir-ou-ver/

http://www.insite.com.br/art/pessoa/cancioneiro/127.php


sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Prosa e poesia

Por Orlando


Livro do desassossego  (Bernardo Soares - Edgard Duvivier - Olivia Byington) # Olivia Byington



Onde:

Música em Pessoa # Vários artistas

http://www.fotolog.com/orlandopedroso/mosaic/

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Je suis aussi Charlie Hebdo



Onde:

http://www.macanudo.com.ar/fecha=2015-01-08

Reformadores e poetas

As cobras # Luis Fernando Veríssimo



Pão e poesia (Moraes Moreira - Fausto Nilo) # Moraes Moreira



Onde:
Acústico # Moraes Moreira 

http://grafar.blogspot.com.br/search/label/as%20cobras

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

O SUS e a desigualdade no Brasil

Saúde (Rita Lee - Roberto de Carvalho) e Só love (Claudinho Bochecha) # Paula Toller



O SUS E A DESIGUALDADE NO BRASIL

Alexandre Padilha

Às vésperas do Natal, depois de dias de internação, felizmente a modelo e apresentadora Andressa Urach recebeu alta hospitalar, com vida e pronta para se reabilitar. Durante todos esses dias, a imprensa e as redes foram ricas em comentar sobre a vida da modelo, sobre boatos em relação a sua saúde, sobre técnicas estéticas, sobre a ditadura da beleza e clínicas e mais clínicas. Raras matérias traziam uma informação que surpreende a todos: depois de um périplo por clínicas particulares sem solução definitiva, foi em um hospital 100% SUS, do Grupo Hospitalar Conceição (um dos poucos próprios do Ministério da Saúde) que a modelo teve a sua vida salva e a saúde reabilitada. Foram médicos e profissionais de saúde que enfrentam todas as carências que estão presentes nos hospitais públicos, que cuidaram da complicação decorrente do procedimento estético. Mais uma vez, neste ato, garantiram a modelo o direito de todos os 200 milhões de brasileiros: o acesso a um sistema de saúde que busca ser universal.

Nem no meu maior devaneio SUSista esperava uma manchete do tipo: "Hospital do SUS salva modelo com complicações em procedimentos estéticos realizados em clínica privada". Ou " Ao contrário de Miami, modelo não precisou pagar antecipadamente por vida salva em Hospital do SUS". Mas é preciso falarmos alto para que esta, uma das contradições da relação entre dois sistemas de saúde, público e privado, não passe desapercebida. Pelo tamanho atual dos dois sistemas no Brasil, é fundamental que as contradições sejam cada vez mais enfrentadas, sob risco de inviabilizarmos o projeto de um sistema público universal com qualidade e reforçarmos a iniquidade também no sistema privado.

O Brasil é o único país do mundo, com mais de 100 milhões de habitantes, que busca oferecer a sua população o acesso universal a saúde. Nem mesmo as novas Constituições da América Latina, apelidadas de bolivarianas, foram tão ousadas:" Saúde é DIREITO de todos e DEVER do Estado". Ao mesmo tempo, temos cerca de 50 milhões de usuários de planos de saúde médico-hospitalares (eram 30 milhões em 2003) e 70 milhões, incluindo planos odontológicos. Os números de ambos os sistemas impressionam ministros da Saúde e investidores de todo o mundo. O caso similar a modelo, pacientes do sistema privado recorrerem ao SUS, por falta de cobertura ou por situação de emergência é muito mais comum do que se imagina. Desde 2011, quando assumi o Ministério da Saúde, implantamos um conjunto de mudanças de gestão para identificar quando isso ocorre. Com elas, busca-se garantir o ressarcimento do plano de saúde ao SUS, porque é dele que se deve cobrar, não do paciente. Desde então, as operadoras são obrigadas a emitir um número de cartão SUS para todo usuário de plano, permitindo ao Ministério este rastreamento. Você que me lê e é usuário de plano de saúde tem número de cartão SUS e talvez não saiba. De lá para cá, foram recordes sucessivos de recuperação de recursos para o SUS: em 3 anos, mais do que em toda história da Agência Nacional de Saúde (ANS), criada em 2000. Mas muito precisa-se avançar nessa cobrança, e o governo Dilma prosseguiu em novas medidas em relação a isso. O motivo mais comum de internação no SUS por detentores de planos de saúde, acreditem: parto. Recentemente, correu as redes a notícia de turista canadense, que teve parto de urgência no Havaí e, quando voltou para casa, recebeu conta de US$2,5 milhões para pagar.

Poderia citar outros exemplos em que somos usuários do SUS sem nem reconhecermos. Desde 2001, o Brasil é recordista mundial de transplantes em hospitais públicos. O SAMU salva vidas sem perguntar o plano ou exigir cheque. A vigilância sanitária estabelece regras e fiscaliza a comida dos restaurantes, inclusive os chiques, de preços estratosféricos. As mesmas analisam risco a saúde de equipamentos, medicamentos, bebidas vendidas em massa, cosméticos e produtos de estética. O próprio uso do HIDROGEL já estava condenado pela Anvisa, evitando novos casos como o de Andressa Urach.

Estas contradições da convivência de dois sistemas públicos e privado impactam nos maiores desafios atuais de sobrevivência do projeto SUS: o seu subfinanciamento e a iniquidade no acesso aos serviços. E criam um ambiente, no mercado de trabalho e no complexo industrial da saúde, que influencia fortemente outro fator decisivo para uma saúde pública humanizada: a formação e a postura dos profissionais de saúde.

Há um consenso suprapartidário no Brasil: a saúde pública é subfinanciada. A divergência é como resolver este fato. Desde o final da CPMF, que retirou R$40 bilhões anuais do orçamento do Ministério da Saude, o Brasil investe na saúde pública em média 3 vezes per capta menos do que parceiros sul americanos como Chile, Argentina e Uruguai; cerca de 7 a 8 vezes do que sistemas nacionais europeus recentes como Portugal e Espanha, cerca de 11 vezes menos do que o tradicional Sistema Nacional Inglês. Ao mesmo tempo, segundo dados recentes publicados pelo IPEA, a isenção fiscal referente aos planos de saúde no Brasil chegou a cerca de R$ 18 bilhões. Ou seja, o mesmo Estado que não garante recursos suficientes para prover um sistema público para todos, co-financia a alternativa para uma parcela da população, que se vê obrigada a pagar valores expressivos para ter acesso a saúde. Além disso, o mesmo Estado suporta o atendimento de vários procedimentos que de alguma forma não são cobertos pelos planos. A incorporação tecnológica, o envelhecimento da população e o impacto dos acidentes automobilísticos e da violência urbana nos custos dos serviços de emergência e reabilitação, transformam esta equação, já precária, em insustentável. Não a toa, a melhoria da saúde é a primeira demanda da população e ter um plano de saúde, o sonho da nova classe trabalhadora. No último período, dois avanços importantes do governo Dilma foram conquistados: a regra que estabelece quanto União, estados e municípios são obrigados a investir em saúde e a vinculação de um percentual dos recursos do pré-sal. Mas precisamos avançar sempre.

As opções para o financiamento da saúde são uma das expressões da desigualdade não tão revelada no nosso país. É mais do que hora de todos nós, que colocamos a redução das desigualdades como centro de um projeto político, enfrentá-las. Se não o fizermos, perderemos a capacidade de interlocução com segmentos expressivos da classe trabalhadora, que sofre com a baixa qualidade e os custos dos sistemas públicos e privados. Temos que ir para ofensiva no diálogo com a sociedade e explicitar que ampliar o financiamento a saúde passa, necessariamente, por inverter o sistema tributário injusto com o qual convivemos. Não é razoável, em um país como o Brasil, que alguém, ao receber R$ 60 mil em 12 meses de trabalho, paga 27% de Imposto de Renda, enquanto alguém que receber R$ 2 milhões de herança, praticamente não será taxado. Em países como EUA (30-40%) França (45%), Alemanha, Japão (50%) as alíquotas para heranças seriam outras. Estudos de 1999 mostram que imposto sobre fortunas no Brasil, entre 0,8% a 1,2%, em fortunas acima de R$ 1 milhão, renderiam uma arrecadação de cerca de 1,7% do PIB, mais do que era obtido pela CPMF.

A formação e a conduta profissional é o outro território invadido por estas relações dos dois sistemas público e privado. A batalha do Mais Médicos, as denúncias recentes de abuso sexual e preconceito por alunos de medicina nas faculdades e a atitude absurda de algumas lideranças condenarem a campanha antiracismo organizada pelo Ministério da Saúde só explicitaram o arcabouço de valores que influencia a formação dos nossos futuros profissionais, de ambos os sistemas. No cerne, há duas correias de tensão, que se alimentam mutuamente. Por um lado, um ideário liberal de exercício da profissão, que alimenta, desde os primeiros dias de graduação, uma não aposta em um sistema público de qualidade e o desrespeito em relação aos seus usuários: pobres, mulheres, negros, homossexuais e "gente não diferenciada". Por outro, um mercado dinâmico e lucrativo de tecnologia, órteses, próteses, equipamentos, fármacos, serviços, publicações, congressos que financia uma visão cada vez ultraespecializante da formação e da atuação em saúde. Não a toa, a investigação iniciada pelo Ministério da Saúde, em Março de 2013 que teve luz recente graças a matéria de TV, e o Mais Médicos incendiaram o debate, questionaram paradigmas e condutas. Não há nenhum profissional de saúde no Brasil, nem aquele que se especializou em realizar procedimentos estéticos em clínicas privadas, que não tenha dependido do SUS para se formar. Nos meus tempos de estudante de medicina cunhamos a frase: "chega de aprender nos pobres para só querer cuidar dos ricos"

Esta realidade desafiadora nos abre uma grande oportunidade. O entendimento de que um sistema público dessa dimensão, em um país tão desigual e diverso como o nosso, gera plataforma continental para um amplo complexo de indústria e serviços no campo da saúde. O Brasil será mais rico e menos desigual se pudermos articular as duas perspectivas. Não será possível sustentar um sistema público de saúde sem crescimento econômico e para tal é necessário colocarmos os 2 pés no universo da inovação tecnológica. Ao mesmo tempo, o complexo de indústrias e de serviços da saúde não sobrevive no Brasil se desprezar o mercado interno impulsionado pelo acesso a um sistema público, cada vez mais tecnológico. Usar o poder de compra do estado para fortalecer um setor econômico que gere empregos e inovação tecnológica no Brasil teve, na Saúde, a sua experiência recente mais exitosa. Ela foi calcada de um lado na ousadia, ao estabelecer o interesse público e nacional como o rumo a ser seguido, e previsibilidade, regras que estimulassem o setor privado a fazer este jogo de interesse para o Brasil. Beber dessa experiência é fundamental para fortalecermos a Saúde como um impulso, e não um peso a carregar, na agenda de desenvolvimento do Brasil.


*Alexandre Padilha, médico, 43 anos, ex-Ministro da Coordenação Política de Lula e Saúde de Dilma e candidato a governador de SP em 2014



Onde:
http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/O-SUS-e-a-desigualdade-no-Brasil/4/32568

Tô só observando

Só observando # Orlandeli


Só observando # Orlandeli





Brasil 3 por 4 (Alencar 7 Cordas) # Fernando César




Onde:
3 por 4 # Fernando César

http://ultimaquimera.com.br/category/so-observando

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Dia de Reis, dia de festa

Três Reis # Will Leite


Gracias a la vida (Violeta Parra) #  Paulo Moura e Yamandu Costa








Onde:

El negro del Blanco # Paulo Moura e Yamandu Costa

http://www.willtirando.com.br/?post=1654

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Em extinção

Frases de efeito # Clara Gomes


O que você quer saber de verdade (Marisa Monte - Arnaldo Antunes - Carlinhos Brown) # Marisa Monte


Tenho o privilégio de não saber quase tudo.
E isso explica
o resto.

Manuel de Barros


Onde:
Poesia completa # Manoel de Barros 

O que você quer saber de verdade # Marisa Monte

http://bichinhosdejardim.com/

domingo, 4 de janeiro de 2015

Que las hay, las hay

Macanudo # Liniers


Infância (Egberto Gismonti) # Egberto Gismonti, Jaques Morelembaum, Zeca Assumpção e Nando Carneiro



Invento para me conhecer.

Manuel de Barros




Onde:
Poesia Completa # Manoel de Barros
Ed.Leya

Infância# Egberto Gismonti

http://www.macanudo.com.ar/