domingo, 27 de março de 2016

Paz coa



Não Matarás

Stela Pastore



Há muito ódio nos últimos dias. E há nisso um desejo: o de extinguir quem pensa diferente. O Fora PT, que poderia se traduzir em Morra PT. Um ódio de extinção. Um ódio de morte.


Não matarás. Este é um dos dez mandamentos cristãos. E a Páscoa é o momento de refletirmos sobre isso. Começa pelo assassinato de um homem corajoso que tirou os cínicos vendilhões do templo a chicotadas. Que professava a generosidade, a compaixão, a redenção dos pobres, doentes, prostitutas. Hoje seria chamado de comunista. E não faltaria quem o mandasse pra Cuba.

Alguém disse no twitter essa semana que Jesus Cristo foi alvo duma delação premiada de Judas, e a massa insana gritando sua condenação na cruz. Cristo foi da condenação à morte.

Conduzido pela principal condição de quem odeia o contrário. Começa com o ódio. Termina com a morte. O fascismo que vemos intenso nos últimos tempos, nas ruas e nas redes, é isto: querer impor ao outro – que não defende o mesmo que eu – que desapareça física ou simbolicamente.

Cenas lamentáveis precederam esta Páscoa. Até mesmo numa igreja um arcebispo foi hostilizado durante um culto. E chegou até mesmo ao território da inocência. Crianças vestidas de vermelho, no colo das mães, foram hostilizadas pela cor da roupa. Sindicatos e sedes do partido foram atacados. E até a casa de um ministro do Supremo Tribunal Federal foi alvo de protestos.

A morte é o sentido mais absoluto do não. O não querer ouvir, o não querer dialogar, o não existir o contraditório. E que o outro não exista. Portanto, morte a ele. Senão a morte simbólica, a sete palmos da terra. A morte da voz, da palavra, da ação. O aniquilamento pelo crime de pensar diferente.

Tudo em nome de uma certa pureza de princípios que justificaria todo o aniquilamento. Por se acharem melhores, atiram a primeira pedra. Se pudessem atirariam um paralelepípedo, uma rocha ou qualquer coisa que extermine o PT, os vermelhos da Dilma e do Lula, todos simbolicamente associados a um satanás que concentra o mal.

Todo desejo de morte, porém, tem no cristianismo também seus contrapontos. Amar ao próximo como a ti mesmo pregou até morrer um dia Cristo. E da morte, porém, veio a ressurreição. É nela que se ergue o novo ser. É nela que a morte se transforma em uma nova redenção.

Onde Cristo queria nos redimir? Creio que Cristo queria nos redimir e libertar do sofrimento constante, dos infernos que criamos para nós mesmos. É aí que entra outra essência do cristianismo: a infinita possibilidade de transformação. Minha e do outro. Com compreensão, tolerância e amor ao próximo. O aniquilamento e a morte são exatamente o contrário. A negação da vida que se move, ressuscita e se transforma. Para o homem e a sociedade serem melhores.

É necessária a ressurreição do diálogo, sem fanatismo, com a possibilidade da abertura para o outro, para a pluralidade. A democracia é a pluralidade de muitas vozes, onde todos podem expressar suas convicções sem destruir o outro. Também na democracia, sistema da liberdade, dos direitos e da tolerância, vale o mesmo princípio: não Matarás.

(*) Jornalista


Onde:

https://rsurgente.wordpress.com/

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