domingo, 7 de dezembro de 2014

Remédios de amor - Ingratidão

O coração dos homens # Fernando Aguiar


Cor'ingrato (Cardillo - Cordiferro) # Oscar Peixoto e Aurélio Mehler
(gravação de um recital)

Cor'ingrato  (Cardillo - Cordiferro) # Zizi Possi




INGRATIDÃO


Assim como os remédios mais eficazes são ordinariamente os mais violentos, assim a ingratidão é o remédio mais sensitivo do amor, e juntamente o mais efetivo. A virtude que lhe dá tamanha eficácia, se eu bem o considero, é ter este remédio da sua parte a razão. Diminuir o amor o tempo, esfriar o amor a ausência, é sem-razão de que todos se queixam; mas que a ingratidão mude o amor e o converta em aborrecimento, a mesma razão o aprova, o persuade, e parece que o manda. Que sentença mais justa que privar do amor a um ingrato? O tempo é natureza, a ausência pode ser força, a ingratidão sempre é delito. Se ponderarmos os efeitos de cada um destes contrários, acharemos que a ingratidão é o mais forte. O tempo tira ao amor a novidade, a ausência tira-lhe a comunicação, a ingratidão tira-lhe o motivo. De sorte que o amigo, por ser antigo, ou por estar ausente, não perde o merecimento de ser amado; se o deixamos de amar não é culpa sua, é injustiça nossa; porém, se foi ingrato, não só ficou indigno do mais tíbio amor, mas merecedor de todo o ódio. Finalmente o tempo e a ausência combatem o amor pela memória, a ingratidão pelo entendimento e pela vontade. E ferido o amor no cérebro, e ferido no coração, como pode viver? O exemplo que temos para justificar esta razão ainda é maior que os passados.

Pe. Antônio Vieira - Sermão do Mandato



Onde:
Passione # Zizi Possi

http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/PesquisaObraForm.do

http://www.poemavisual.com.br/html/show_poeta.php?id=43

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