Mario de Andrade # Lasar Segall
Quando míngua a luna (Iara Rennó - Mario de Andrade) # Iara Rennó e grupo
"Maanape gostava muito de café e Jiguê muito de dormir.
Macunaíma queria erguer um papiri prós três morarem porém jamais que papiri se
acabava. Os puchirões goravam sempre porque Jiguê passava o dia dormindo e
Maanape bebendo café. O herói teve raiva. Pegou numa colher, virou-a num
bichinho e falou: - Agora você fica sovertida no pó de café. Quando mano
Maanape vier beber, morda a língua dele! Então pegando num cabeceiro de
algodão, virou-o numa tatorana branca e falou:
-Agora você fica sovertida na maqueira. Quando mano Jiguê vier dormir,
chupe o sangue dele! Maanape já vinha entrando na pensão pra beber café outra
vez. O bichinho picou a língua dele. Ai! Maanape fez. Macunaíma bem sonso
falou: - Está doendo, mano? Quando bichinho me pica não dói não.
Maanape teve raiva. Atirou o bichinho muito pra longe
falando: - Sai, praga! Então Jiguê entrou na pensão pra tirar um corte. O
marandová branquinho tanto chupou o sangue dele que até virou rosado.
- Ai! que Jiguê gritou. E Macunaíma: - Está doendo, mano?
Ora veja só! Quando tatorana me chupa até gosto.
Jiguê teve raiva e atirou a tatorana longe falando: - Sai,
praga! E então os três manos foram continuar a construção do papiri. Maanape e
Jiguê ficaram dum lado e Macunaíma do outro pegava os tijolos que os manos
atiravam. Maanape e Jiguê estavam tiriricas e desejando se vingar do mano. O
herói não maliciava nada. Vai, Jiguê pegou num tijolo, porém pra não machucar
muito virou-o numa bola de couro duríssima. Passou a bola pra Maanape qüe
estava mais na frente e Maanape com um pontapé mandou ela bater em Macunaíma.
Esborrachou todo o nariz do herói.
- Ui! que o herói fez.
Os manos bem sonsos gritaram: - Uai! está doendo, mano! Pois
quando bola bate na gente nem não dói! Macunaíma teve raiva e atirando a bola
com o pé bem pra longe falou: - Sai, peste! Veio onde estavam os manos: - Não
faço mais papiri, pronto! E virou tijolos pedras telhas ferragens numa nuvem de
içás que tomou São Paulo por três dias.
O bichinho caiu em Campinas. A tatorana caiu por aí. A bola
caiu no campo. E foi assim que Maanape inventou o bicho-do-café, Jiguê a
largarta-rosada e Macunaíma o futebol, três pragas."
Mario de Andrade, em Macunaíma (Excerto).
Poster polonês para o filme Macunaíma #
Joanna Gorska e Jerzy Skakun
Onde:
Macunaíma - Ópera Tupi # Iara Rennó
http://www.museusegall.org.br/
http://www.cecac.org.br/coluna/segall_realista_2009.htm
http://mario-de-andrade.blogspot.com.br/
http://www.pigasus-gallery.de/gorska-skakun-poster.php
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