Bachianas Brasileiras No 4 (Heitor Villa-Lobos) # Orquestra Jovem das Gerais
"Uma criança que não sabe música, que não sabe cantar, não é alfabetizada. A música está entrelaçada ao conhecimento educacional. O canto está ligado ao mistério da vida humana."
Heitor Villa-Lobos no encarte do CD Floresta do Amazonas.
Bachiana V - Ária (Heitor Villa-Lobos - Ruth Valladares) # Maria Lucia Godoy, Orquestra de Violoncelos/ Regente: Alceo Bocchino
"...A proposta que foi feita por Anísio Teixeira (assessor de
Getúlio Vargas) se mostrava irrecusável. Villa-Lobos, que era apaixonado pela
música, via a possibilidade de colocar em evidência a educação musical no
ensino básico de nosso país, com um resgate sistemático de nosso folclore. Cito
aqui um texto do próprio Villa-Lobos que me parece extremamente atual: “O canto
orfeônico aplicado nas escolas tem como principal finalidade colaborar com os
educadores para obter a disciplina espontânea e voluntária dos alunos,
despertando, ao mesmo tempo, na mocidade, um sadio interesse pelas artes em
geral e pelos grandes artistas nacionais e estrangeiros.” Através deste
trabalho, Villa-Lobos deu um cunho artístico ao material folclórico. Seu “Guia
Prático” salva do esquecimento uma série de melodias e textos populares. Eu
perguntaria: se não fosse o trabalho de Villa-Lobos certas canções de roda ou
melodias infantis ainda seriam conhecidas? Com certeza não. Mas Villa-Lobos foi
muito além do seu trabalho de compilador. E esta compilação começou muitos anos
antes do Estado Novo. Seus ciclos Prole do Bebê e Cirandas, dos anos 10 e 20,
atestam isso. A diferença foi a sistematização, tanto nas obras pianísticas
quanto nas obras corais. O magnetismo de Villa-Lobos nas enormes aglomerações
corais, com mais de 40.000 vozes, realizadas em estádios de futebol, estão
entre os pontos mais fascinantes da vida do músico. Leiam a descrição
emocionada do poeta Carlos Drummond de Andrade:“A multidão em torno vivia uma
emoção brasileira e cósmica, estávamos tão unidos uns aos outros, tão
participantes e ao mesmo tempo tão individualizados e ricos de nós mesmos, na
plenitude de nossa capacidade sensorial, era tão belo e esmagador, que para
muitos não havia outro jeito senão chorar; chorar de pura alegria. Através da
cortina de lágrimas, desenhava-se a figura nevoenta do maestro, que captara a
essência musical de nosso povo, índios, negros, trabalhadores do eito,
caboclos, seresteiros do arrabalde; que lhe juntara ecos e rumores de rios,
encostas, grutas, lavouras, jogos infantis, assobios e risadas de capetas
folclóricos.” O maestro fazia uma salutar mistura de “clássico” e “popular”,
convidando para estas manifestações artistas como Augusto Calheiros, Francisco
Alves, Silvio Caldas e Paulo Tapajós.
Num momento em que a educação musical nas escolas públicas
deixou de existir, e num momento em que a disciplina da juventude chega ao
ponto de tornar a profissão de professor como uma atividade de risco, me parece
completamente injusto condenar Villa-Lobos por ter trabalhado sob um regime
ditatorial. Ele o fez por amor à música, enriquecendo o nosso patrimônio
artístico. Esses departamentos de música, que criam montanhas de textos e
gráficos e pouca música, não tem o direito de falar mal de uma atividade que
continua repercutindo de forma única entre nós. Foi uma atividade que colocou a
música como algo primordial em nosso país. Se o regime que tornou isso possível
é contestável, a ação de Villa-Lobos não o é."
O Índio de Casaca # Documentário de Roberto Feith e narração de Paulo José
Floresta do Amazonas (H. Villa-Lobos)# Maria Lúcia Godoy
Orquestra Sinfônica do RJ - Regente: Henrique Morelenbaum
http://www.orquestrajovemdecontagem.org/
http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/falando-de-musica/villa-lobos-e-os-arroubos-errados-do-meio-academico/
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