sábado, 17 de maio de 2014

Piazzola, Borges, Ney e Geraldo




1964 (Astor Piazzola - Jorge Luis Borges) e Ilhas (Piazzola e Geraldo Carneiro) # Ney Matogrosso


Ouvi a dica a respeito de um encontro entre Ney e Piazzola na Itália, comentada en passant, no documentário Olho Nu, sobre a vida e carreira de Ney Matogrosso (ótimo filme, por sinal).  Encontrei no YouTube esse registro raro. A autora da postagem, Carolina Silva, informa nos créditos: "As ilhas, com letra de Geraldinho Carneiro e 1964 de Jorge Luis Borges foram musicados por Astor Piazzola e fizeram parte de um compacto simples editado em 1975. O disco sofreu censura no Brasil porque, segundo conta Ney Matogrosso, 1964 foi um ano muito negro na história do Brasil  e o censor acreditava que o poema fazia referência aos fatos daquele ano..."




1964


Jorge Luis Borges)


I

Ya no es mágico el mundo. Te han dejado.
Ya no compartirás la clara luna
ni los lentos jardines. Ya no hay una
luna que no sea espejo del pasado,

cristal de soledad, sol de agonías.
Adiós las mutuas manos y las sienes
que acercaba el amor. Hoy sólo tienes
la fiel memoria y los desiertos días.

Nadie pierde (repites vanamente)
sino lo que no tiene y no ha tenido
nunca, pero no basta ser valiente

para aprender el arte del olvido.
Un símbolo, una rosa, te desgarra
y te puede matar una guitarra.

II

Ya no seré feliz. Tal vez no importa.
Hay tantas otras cosas en el mundo;
un instante cualquiera es más profundo
y diverso que el mar. La vida es corta

y aunque las horas son tan largas, una
oscura maravilla nos acecha,
la muerte, ese otro mar, esa otra flecha
que nos libra del sol y de la luna

y del amor. La dicha que me diste
y me quitaste debe ser borrada;
lo que era todo tiene que ser nada.

Sólo que me queda el goce de estar triste,
esa vana costumbre que me inclina
al Sur, a cierta puerta, a cierta esquina.



As Ilhas


Astor Piazzola/Geraldo Carneiro)

Vi mosca urdindo fios
De sombra na madrugada
Vi sangue numa gravura
E morte em caras paradas

Via vis de meia noite
E frutas elementares
Vi a riqueza do mundo
Em bocas disseminadas

Vi pássaros transparentes
Em minha casa assombrada
Vi coisas de vida e morte
E coisas de sal e nada

Vi um cachorro sem dono
À porta de um cemitério
Vi a nudez nos espelhos
Cristas na noite velada

Vi uma estrela no meio
Da noite cristalizada
Vi coisas de puro medo
Na escuridão espelhada

Vi um cruel testamento
De anjos na madrugada
Vi fogo sobre a panela
No forno de uma cozinha

Vi bodas inexistentes
De noivas assassinadas
Vi peixes no firmamento
E tigres no azul das águas

Mas não via claramente
A circulação das ilhas
Nos rios e nas vertentes
E vi que não via nada
Nada, nada...





Onde:


https://www.youtube.com/watch?v=vapn1WZqyCQ

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