segunda-feira, 4 de agosto de 2014

O tempo da poesia não é o tempo do relógio

Real time # Horia Bernea




A 60 minutos por hora (Walter Franco) # Leila Pinheiro




"A poesia parece estar mais do lado da música e das artes plásticas e visuais do que da literatura. Ezra Pound acha que ela não pertence à literatura e Paulo Prado vai mais longe: declara que a literatura e a filosofia são as duas maiores inimigas da poesia.
De fato, a poesia é um corpo estranho nas artes da palavra. É a menos consumida de todas as artes, embora pareça ser a mais praticada (muitas vezes, às escondidas). Uma das maiores raridades do mundo é o poeta que consegue viver só de sua arte. Há dois mil anos, o poeta latino Ovídio dizia que as folhas de louro (com as quais se faziam coroas para poetas e heróis) só serviam mesmo para temperar o arroz. E como poderia ser diferente? Como encontrar um modo de remunerar o trabalho e o ofício de um poeta? Rilke ficou treze anos sem fazer um único poema; Valéry, vinte e cinco anos! Outros consumiram boa parte da vida escrevendo uma obra (sem exclusão de outras): Dante, vinte anos, para a Divina Comédia; Joyce, dezessete, para a "proesia" do Finnegans Wake; Pound, quarenta para Os Cantos; Goethe, cinquenta e cinco, para o Fausto; Mallarmé, trinta, para o Lance de Dados. Mas não é porque houve um Pelé que você vai deixar de jogar futebol; não é porque há uma Gal que você vai deixar de cantar.
O poeta é aquele artista que não está no gibi. E é aquele que ajuda a fundar culturas inteiras. Não dá para entender a cultura portuguesa, sem Camões; a inglesa, sem Shakespeare; a italiana, sem Dante; a alemã, sem Goethe; a grega, sem Homero; a irlandesa, sem Joyce.
Poesia é a arte do anticonsumo. A palavra "poeta" vem do grego "poietes= aquele que faz". Faz o quê? Faz linguagem. E aqui está a fonte principal do mistério." 


Décio Pignatari 

In: O que é comunicação poética. 





Onde:

O que é comunicação poética # Décio Pignatari
Ateliê Editorial


Nos horizontes do mundo # Leila Pinheiro

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