quarta-feira, 20 de julho de 2016

Da linhagem de Pagu

Por Maíra


(ana)crônica de uma ótica ou a eterna moribunda


meu sestrodestro
esturdido véu

nele, tão excentro

olho

os modos
as ameaças
as vergonhas

se concentram.

para enxergar, um
só basta

adestro

– olho de fossa
para escoar bofes

– olho de fumaça
para esconder gafes

– olho de faca
para extirpar bifes

– olho de coxia
para elevar fobos

locus horrendus
donde espreita a impostura

extemporal

meu olho
meu orco
meu ôminos


***
cidade do méxico/são paulo/brasília, março e abril de 2016Publicado em

Maíra Mendes Galvão - Poesia


dia 12 de junho – sem poema, só matéria prima.


não quero ser princesa.
não quero que me mude.
não quero ser a melhor.
não quero ser a única.
não quero um pedestal.
não quero ser paradigma.
não quero proteção.
não quero ser escudeira.
não quero que me ajude.
não quero seu mapa.
não quero ter dono.
não quero, enfim, ser objeto direto ou indireto, só verbo avulso ou flexionado. quero ser paralela, livre, sincrônica, modal.

não sou diva, sou grande.


Maíra Mendes Galvão - Interstício


sétimo céu // patti smith

Ah, Rafael. Anjo da guarda. No amor e no crime
tudo se arranja em sete. sete compartimentos
no coração. as sete elaboradas tentações.
sete demônios exorcizados de Maria Madalena puta
de Cristo. as sete maravilhosas viagens de Simbad.
sim, mau. E o número sete marcado para sempre
na testa de Caim. O primeiro homem inspirado.
O pai do desejo e do assassinato. Mas não foi dele
o primeiro êxtase. Vejamos sua mãe.

Foi de curiosidade o crime de Eva. Segundo
o ditado: matou a fifi. Uma maçã podre matou
o lance todo. Mas pode ter certeza que maçã não era.
Maçã parece bunda. É fruta de fruta.
Deve ter sido um tomate.
Ou melhor. Uma manga.
Ela mordeu. Precisa por a culpa nela. abusar e tudo.
pobre vaca dócil. talvez seja uma estória mal contada.
imagine Satã como um garanhão.
talvez ela estivesse de pernas abertas.
satã serpenteia entre elas.
abrem-se mais
serpenteia coxas acima
se esfrega ali nela um tempo
mais do que a árvore do conhecimento prestes
a ser comida…ela geme seu primeiro gemido
jardim do prazer do prazer
será que se arrependeu
será que chegamos a ser garotas
será que era boa de cama
só deus sabe


Patti Smith, “seventh heaven” de Early Work 1970-1979. Copirraite © 1994 de Patti Smith. Publicação desta tradução e menção ao poema sob permissão da autora e da W. W. Norton & Company, Inc.

Fonte: EARLY WORK: 1970-1979 (W. W. Norton and Company Inc., 1994)

Maíra Mendes Galvão - Tradução




Onde:

https://turgescencia.wordpress.com/

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