quinta-feira, 14 de julho de 2016

Das ruínas

Foto: Kerlon Pugen


RUÍNA

Manoel de Barros

Um monge descabelado me disse no caminho: "Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro. (O olho do monje estava perto de ser um canto.) Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria constuir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como um lírio pode nascer de um monturo". E o monge se calou descabelado.


Onde:

Poesia completa # Manoel de Barros
Ed. Leya

http://www.dicionariotupiguarani.com.br/dicionario/tapera/

http://www.baixaki.com.br/papel-de-parede/25367-tapera.htm

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