Os microcéfalos
Fernando Brito
O “panelaço” contra a fala de Dilma Rousseff na TV – mesmo dizendo que não iria falar de política ou economia, mas apenas do combate ao vírus zika que, segundo os Centros de Controle e Prevenção do Governo Ameicano, atinge 30 países e agora, possivelmente, o próprio território americano, com um possível caso de transmissão sexual – foi tão pequeno quanto a capacidade intelectual dos que o promoveram.
A epidemia, disse hoje Alejandro Gaviria, o ministro da Saúde da Colômbia, devidamente direitista e ex-ministro do Planejamento do “governo-modelo” do conservadorismo, o de Álvaro Uribe diz hoje que a expansão da doença nada tem a ver com os sistemas de saúde dos países atingidos.
Não têm, mas terão, porque o tamanho da epidemia terá a ver com a capacidade dos governos e da população de combaterem a proliferação do mosquito, do atendimento primário e – imaginem se é uma autoridade brasileira que diga isso – diz o que falou o ministro colombiano Uribe ao Estadão:
“Gaviria sugeriu que os casais que estejam pensando em filhos adiem o plano, orientou habitantes das áreas mais altas a não visitarem a regiões mais baixas e desaconselhou viagens a outros países com focos da infecção. Defendeu que uma gestante tem direito de abortar, em decisão conjunta com um médico, se enxergar na gravidez de uma criança com microcefalia um risco para sua saúde mental.”
Estaríamos em um clima de galhofa, de um lado, com piadas sobre sexo, bloqueios na Rio-Teresópolis e, de outro lado, uma ofensiva de pastores desejando obrigar mulheres a darem a luz – que é, aliás, um direito delas – a crianças microcéfalas.
Há, porém, outro tipo de microcéfalos, não no sentido da atrofia física da massa cinzenta, mas da amputação de capacidade de pensar o suficiente para deixar os ódios políticos fora das questões de saúde pública.
Foi o que fizeram na noite de ontem, felizmente em proporções não de epidemia, mas apenas de surto.
Onde:
http://tijolaco.com.br/blog/os-microcefalos/
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